O candidato ao governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), contratou uma empresa de segurança, cujo dono é sócio de um dos maiores doadores de sua campanha.
Arnaldo Costa Vargas, diretor da AutoDefesa Brasil, doou R$ 200 mil para a campanha de Tarcísio, de acordo com a prestação de contas feita ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Vargas, por sua vez, é sócio de Nelson Santini Neto, dono da CampSeg Vigilância e Segurança Patrimonial e presidente da AutoDefesa Brasil. A reportagem do Brasil de Fato ligou para uma das unidades da CampSeg e foi informada que a empresa e a AutoDefesa Brasil fazem parte do mesmo grupo.
A CampSeg foi contratada pela campanha de Tarcísio para prestar serviços de vigilância e segurança pessoal e de extra vigilante. Os dois contratos com a empresa totalizaram, até o momento, R$ 73.516,04 segundo a prestação de contas feitas ao TSE.
Segundo o advogado André Lozano, professor de direito penal e direito processual, a contratação pela campanha de uma empresa em que um dos donos é um dos doares, não configura crime "a princípio".
"O dono de uma empresa contratada para a campanha pode doar para a campanha. Mas é comum em campanhas eleitorais haver lavagem de dinheiro e campanhas usam contratações de serviços que não serão prestados ou pagam acima do valor de mercado. São formas grosseiras de se lavar dinheiro, mas muito comuns", afirma Lozano.
"Para saber se realmente há lavagem de dinheiro seria preciso uma investigação mais aprofundada, verificando se o serviço realmente foi prestado, como foi prestado e se o valor está dentro do praticado no mercado, por exemplo."
Nelson Santini Neto é cotado para assumir a pasta da Segurança Pública caso Tarcísio de Freitas seja o próximo governador de São Paulo, segundo apuração da Folha de S. Paulo.
Irmão assessor de Bolsonaro
Nelson Santini Neto também é irmão de José Vicente Santini, que foi destituído do cargo de secretário-executivo da Casa Civil, em janeiro de 2020, por utilizar um dos aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) para voar da Suíça à Índia.
Sete meses depois, em setembro, José Santini foi nomeado assessor especial no gabinete do ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, com um salário de R$ 13.623,39.
A despeito da destituição de janeiro de 2020, quando Bolsonaro classificou a atitude de José Santini como “imoral”, o empresário passou pelos cargos de secretário-executivo da Secretaria Geral da Presidência e secretário Nacional de Justiça do Ministério da Justiça e Segurança Pública, em 2021. Em julho deste ano, foi nomeado por Bolsonaro para ocupar o cargo de assessor de seu gabinete pessoal no Palácio do Planalto, deixado pelo general Braga Netto.
Além da presença de seu irmão no governo federal, Nelson Santini também já esteve próximo de Michelle Bolsonaro e da filha do presidente. Em 2018, durante a campanha eleitoral, a CampSeg fez a segurança de ambas de graça, conforme publicou na época o GLOBO.
Apesar dos trabalhos feitos a bolsonaristas, a empresa é especialista em segurança privada de galpões de logística, portos, aeroportos, ferrovias, condomínios, instituições financeiras, fábricas, indústrias, mercados e shoppings. Não há, no portfólio da empresa, a especialidade em segurança pessoal.
Família Santini
Os irmãos Santini são filhos do general do Exército Nelson Santini Júnior, amigo próximo de Jair Bolsonaro. Ambos teriam se conhecido na Escola de Artilharia do Exército, no Rio de Janeiro, ainda na década de 1970.
O dono da CampSeg foi vereador em Campinas entre 2016 e 2020, quando defendeu pautas bolsonaristas, como o projeto Escola Sem Partido. Em suas redes sociais, Santini Neto coleciona publicações a favor do presidente Jair Bolsonaro e contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Outro lado
A reportagem procurou o grupo das empresas para tratar do assunto, mas não obteve um retorno. Já assessoria do candidato Tarcísio de Freitas informou que “todas as contratações foram feitas por escolha da campanha, que tem a premissa de selecionar os prestadores de serviço, desde que sejam seguidos todos os ritos estabelecidos pela lei eleitoral, bem como a devida prestação de contas ao TSE”.
Edição: José Eduardo Bernardes