Tragédia anunciada

Ao menos 19 pessoas morrem em naufrágio de embarcação clandestina no Pará e as buscas seguem

Moradores da Ilha de Marajó protestam por transporte fluvial de qualidade, que garanta a travessia segura até Belém

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Barcos auxiliam na busca por desaparecidos de naufrágio que aconteceu na última quinta-feira (8) no Pará - AFP / Segup Pará

O governo do Pará já desistiu de confirmar o número de passageiros que viajavam na embarcação clandestina que naufragou, na manhã de quinta-feira (8), em frente à Ilha de Cotijuba, em Belém (PA). Neste sábado (10) mergulhadores localizaram o corpo de mais uma mulher, totalizando, até o momento, 19 vítimas fatais do episódio e um número ainda incerto de desaparecidos. As buscas seguem.  

Estima-se que ao menos 85 pessoas, incluindo crianças e idosos, estavam na lancha batizada de Dona Lourdes II, que saiu de um porto clandestino no município de Cachoeira do Arari (PA) com destino à Belém. No mínimo 65 pessoas sobreviveram.  

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Pará (Segup), o responsável pela embarcação responderá por homicídio doloso, pois já sabia que o resultado de sua conduta poderia ser lesivo. Passageiros informaram para as autoridades que o dono da lancha estava a bordo e sobreviveu. Ele, no entanto, não foi localizado até o momento.  

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O homem apontado pela Polícia Civil como o dono do barco já havia sido notificado por irregularidades nos meses de fevereiro, julho e agosto deste ano. Sem autorização da Agência de Regulação e Controle dos Serviços Públicos do Estado do Estado do Pará (Arcon-Pa) para fazer transporte intermunicipal de passageiros, o barco afundou.  

“Já foram solicitadas medidas cautelares ao Poder Judiciário em relação aos responsáveis pela embarcação”, informou a Polícia Civil em nota.  

Coletes se rasgaram 

Um vídeo circulando nas redes sociais mostra o momento em que a água começa a entrar e a cobrir o motor. Ainda sem saber da gravidade da situação, os passageiros aparecem acomodados nos seus assentos. 

Em entrevista ao g1, o pescador Antônio Gomes, um dos sobreviventes, conta que os coletes salva vidas se rasgavam à medida que as pessoas tentavam vesti-los. Segundo ele, foi por isso que muitos não se salvaram. “Eu nasci de novo, eu vi a morte”, relata. 

Entre os mortos do naufrágio encontrados até o momento estão 11 mulheres, cinco homens e três crianças. A maior parte das vítimas é da cidade de Salvaterra (PA), que fica na Ilha de Marajó. Seus corpos foram recebidos por um cortejo na manhã da última sexta-feira (9). 

Protesto 

“Justiça”, “Empresas assassinas” e “Marajó merece respeito” são algumas das frases que estamparam cartazes feitos por cerca de 300 moradores de Salvaterra que protestaram contra as péssimas condições das embarcações que realizam a travessia até a capital paraense.  

Realizado no dia seguinte à tragédia, que afirmaram que já estava anunciada, a manifestação dos moradores da Ilha de Marajó aconteceu no porto da foz do rio Camará. Exigindo transporte de qualidade, o ato impediu uma embarcação de sair na tarde da última sexta (9). O governo do Pará e a prefeitura de Belém decretaram luto oficial de três dias. 

 

Edição: Daniel Lamir