O embaixador da Colômbia para a Venezuela, Armando Benedetti, confirmou nesta quinta-feira (18) que o governo do presidente Gustavo Petro está avançando nos trâmites necessários para devolver a empresa Monómeros ao Estado venezuelano.
Benedetti, que foi designado como embaixador por Petro na última semana em mais um passo de Bogotá para a retomada de relações com Caracas, afirmou que está trabalhando com as autoridades jurídicas para realizar a troca da direção da empresa.
"Estamos trabalhando para buscar a resolução dos assuntos, pois devemos realizar a troca da direção [da empresa] baseados no fato de que o governo nacional já reconheceu o [governo] venezuelano. Ele está à frente da tarefa de devolver a Monómeros a quem ela realmente pertence", disse o embaixador.
Com sede em Barranquilla, em território colombiano, a Monómeros é uma produtora de fertilizantes que pertence à estatal venezuelana Pequiven, uma subsidiária da petroleira Pdvsa. Desde 2019, a empresa é controlada por dirigentes nomeados pelo ex-deputado Juan Guaidó. A apropriação da companhia por opositores da direita venezuelana com o aval do governo colombiano só foi possível porque o ex-presidente Iván Duque reconhecia Guaidó como "presidente interino" do país vizinho.
Em setembro de 2021, o governo colombiano colocou a empresa sob intervenção da Superintendência de Sociedades da Colômbia, organismo vinculado ao Ministério do Comércio, alegando a necessidade de "sanar a situação crítica de ordem jurídica, contábil, econômica e administrativa". Desde que passou às mãos de Guaidó, a empresa foi centro de diversas acusações de má gestão, corrupção e disputas internas da oposição pelo controle de seus rendimentos, que passaram a financiar as atividades do "governo interino".
Benedetti também confirmou que a Monómeros já foi retirada do controle da Superintendência de Sociedades e que o chefe do órgão "nos ajudou muito, não somente em ter retirado a intervenção, mas também em buscar a resolução do caso e é em Barranquilla que devemos fazer a troca da direção da empresa".
A devolução da Monómeros vinha sendo prometida por Gustavo Petro desde que venceu as eleições presidenciais em junho. No entanto, o tema é considerado um dos mais complexos entre os pontos de discussão para o pleno restabelecimento de relações entre os países.
Isso porque atualmente a empresa só pode continuar operando através de uma licença que a exclui da lista de sanções da OFAC, ou seja, o governo dos EUA permite que ela não seja afetada pelas medidas unilaterais determinadas contra a Pdvsa e suas filiais.
O embaixador colombiano afirmou que já está em contato com autoridades estadunidenses para evitar que a Monómeros seja alvo das sanções.
"Eu dizia ontem à pessoa da OFAC para ter muita atenção com a decisão que se pode tomar com a Monómeros, porque se ela está na Colômbia, a afetada seria a Colômbia, com a segurança alimentar, o desabastecimento da ureia, e nossa economia seria atingida se eles estivessem pensando em colocar [a empresa] nessa lista", disse.
A ureia a qual Benedetti se referia é um dos principais insumos na fabricação de fertilizantes que, até Guaidó se apropriar da empresa, era fornecido à Monómeros a preços especiais pela Venezuela através da Pequiven. O plano do governo Petro é normalizar as operações da empresa venezuelana para que ela recupere seus fornecedores e volte a produzir fertilizantes baratos que diminuam também o preço dos alimentos ao consumidor.
Empresários querem 'acordo da fronteira'
As declarações de Bendetti foram dadas durante um encontro entre sindicatos patronais e associações empresariais da Colômbia e da Venezuela realizado nesta quinta-feira na cidade de Cúcuta, cidade fronteiriça colombiana.
Durante a reunião, da qual o embaixador nomeado por Petro participou, os empresários concordaram em promover o restabelecimento "do livre fluxo de transporte de carga, de circulação de mercadoria, de veículos particulares e de pedestres por todas as passagens da fronteira, simplificando os trâmites administrativos e os processos alfandegários".
As associações empresariais também concordaram em reativar o Círculo de Negócios Binacional e realizar debates sobre atualização jurídica das regras de comércio entre os dois países.
Nos últimos anos, as crises diplomáticas entre Venezuela e Colômbia fizaram com que o fluxo comercial entre as nações caísse aos piores níveis em 20 anos.
Segundo projeções da Câmara de Integração Econômica Venezuelana-Colombiana (Cavecol), após o restabelecimento de relações e a reativação das fronteiras o intercâmbio comercial entre as duas nações - que leva em conta exportações e importações - pode chegar a US$ 1,2 bilhão (R$ 6,2 bilhões) até o final de 2022.
Edição: Rodrigo Durão Coelho