O presidente eleito da Colômbia, Gustavo Petro, afirmou nesta terça-feira (5) que a reabertura comercial das fronteiras do país com a Venezuela e a devolução da empresa de fertilizantes Monómeros ao governo venezuelano são temas prioritários para as relações entre Bogotá e Caracas.
Em entrevista à rádio colombiana WRadio, o próximo mandatário confirmou que já conversou com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e destacou a importância de restabelecer as relações com o país vizinho.
"Não conversamos de temas específicos, mas existem alguns temas prioritários, como reabrir o comércio na fronteira, recuperar as fronteiras nos Estados dos dois lados [...] e um terceiro que diz respeito à Monómeros", afirmou Petro.
Localizada em Barranquilla, na Colômbia, a Monómeros é uma empresa colombo-venezuelana cuja dona majoritária é a Pequiven, petroquímica estatal que pertence à Venezuela. Uma das maiores produtoras de fertilizantes da região, a companhia está, desde 2019, sob controle de opositores nomeados pelo autodeclarado presidente Juan Guaidó com anuência do governo colombiano, já que o atual presidente Iván Duque não reconhece o governo Maduro.
Responsável pela produção de cerca de 50% dos fertilizantes utilizados em produções colombianas e com 1,4 mil postos de trabalho, desde que passou às mãos de Guaidó a empresa foi centro de diversos casos de má gestão e disputas internas da oposição pelo controle de seus rendimentos, que passaram a financiar as atividades do “governo interino”. Em setembro de 2021, a Superintendência de Sociedades, organismo vinculado ao Ministério do Comércio da Colômbia, colocou a empresa sob seu controle, alegando a necessidade de "sanar a situação crítica de ordem jurídica, contábil, econômica e administrativa".
"Monómeros era a empresa que fazia na Colômbia a maior parte dos fertilizantes para a agricultura que agora estamos importando a preços três vezes mais altos que os preços que existiam no começo da crise e isso gerou o aumento de todos os preços de alimentos", afirmou Petro nesta terça-feira.
Ainda de acordo com o presidente eleito, o plano de seu governo passa por recuperar a Monómeros para combater a inflação dos alimentos, pois "se conseguirmos resgatar a produção subsidiada de fertilizantes, poderemos resolver um problema maiúsculo que é a fome".
Perguntado sobre a devolução da empresa ao Estado venezuelano, Petro respondeu que será feita, já que a produção de fertilizantes depende da ureia que a Pequiven produz para se reativar e Guaidó, por sua vez, não tem comando sobre a petroquímica venezuelana.
"A dona da Monómeros é a Pequiven e a Pequiven produz ureia. Depois do que o atual presidente fez, nós perdemos essa ureia. Eu não sei se é Guaidó ou Leopoldo López, não sei quem é o dono da Monómeros hoje, mas sei que não é a Pequiven. Então nós perdemos essa matéria-prima fundamental. Com essa perda e um estrangulamento financeiro, segundo os meus relatórios, por culpa de funcionários colombianos, a empresa acabou praticamente encerrando suas operações e perdeu mercado. [...] Esse é um tema de pragmatismo. Para quê queremos a Monómeros? Não é para entregá-la a um funcionário público colombiano para que ele a privatize e fique com essa empresa. Queremos a Monómeros se podemos manter o envio da ureia a preços módicos como era antes e portanto baixar o preço dos fertilizantes. Isso é ser pragmático. Se Guaidó pudesse me trazer a ureia da Pequiven eu não diria 'não', mas isso não é uma realidade, vocês sabem, esse senhor não pode trazer nem uma garrafa de ureia", afirmou Petro.
Ainda durante a campanha, Petro já havia feito a promessa de recuperar a empresa caso fosse eleito. Além disso, os planos do novo presidente sobre a Monómeros já haviam sido confirmados ao Brasil de Fato, no início de junho, pelo membro do Pacto Histórico Pietro Alarcón, que garantiu que o então candidato à presidência colocaria "as coisas do ponto de vista político, técnico e jurídico nos seus lugares".
"A Colômbia fez muito mal quando decidiu se relacionar com aqueles que não contaram com o favorecimento popular, portanto não têm condição de gerenciar qualquer tipo de empresa na qual exista capital público venezuelano, porque estamos falando de recursos públicos do povo da Venezuela, isso é criminoso, isso é um delito, não é somente um crime político, é um crime do ponto de vista penal, e o governo de Petro não poderia patrocinar uma questão desse tipo como Iván Duque patrocina", afirmou Alarcón.
Maduro não vai à posse de Petro?
No último sábado (2), Duque afirmou que não permitiria a entrada de Maduro no país caso o mandatário venezuelano fosse convidado para participar da posse de Petro, que acontecerá no dia 7 de agosto.
"Nicolás Maduro não é reconhecido por mim como presidente legítimo da Venezuela. Enquanto eu for presidente, ele não entrará no território colombiano como presidente da Venezuela", afirmou Duque.
Na entrevista desta terça-feira, Petro afirmou que seria "prudente" a presença de Maduro durante a cerimônia.
"Quem organiza a posse é o governo vigente. Eu acho que seria prudente [a presença de Maduro] porque o que vem aí é um processo de reconstrução de muitas coisas, comércio, cultura e sociedade na fronteira. Eu respeito a posição do governo atual, nós temos outra maneira de entender isso", afirmou.
O presidente eleito da Colômbia conversou com Maduro por telefone dois dias após sua vitória eleitoral. Segundo Petro, uma vez empossado, seu governo vai "construir as instituições que existiam antes".
"Havia uma institucionalidade que permitia que as relações não fossem agressivas e que existissem espaços de diálogo cada vez que surgia um problema", afirmou.
Edição: Thales Schmidt