A Justiça da Argentina aceitou nesta quinta-feira (11) um pedido dos EUA e apreendeu um avião venezuelano de carga da empresa Emtrasur, filial da companhia aérea estatal da Venezuela, que estava retido no aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires, desde o dia 8 de junho.
A decisão, tomada pelo juiz do tribunal de Lomas de Zamora, Federico Villena, significa uma colaboração das autoridades argentinas com o bloqueio imposto por Washington à Venezuela, já que a aeronave não teria violado nenhuma norma do país sul-americano.
A alegação dos estadunidenses é de que a linha aérea estatal venezuelana Conviasa teria "driblado sanções" ao comprar o avião – um Boeing 747 – da companhia iraniana Mahan Air, já que ambas as empresas estão sancionadas pelos EUA.
Além disso, os norte-americanos alegam que alguns membros da tripulação da aeronave seriam vinculados à Guarda Revolucionária do Irã, divisão das Forças Armadas iranianas que é considerada unilateralmente por Washington como uma "organização terrorista".
Segundo a imprensa argentina, a ordem do juiz se baseia a um tratado assinado entre Argentina e EUA em 1991, que prevê assistência jurídica mútua em assuntos penais. Isso porque a Justiça do país sul-americano não foi capaz de constatar nenhuma irregularidade da aeronave e de seus tripulantes.
O avião da Emtrasur pousou em Ezeiza no dia 6 de junho, proveniente do México, trazendo peças de automóveis. Dois dias depois, impedido de abastecer em solo argentino, rumou para o Uruguai, mas teve sua entrada negada durante o voo, o que o obrigou a retornar à Argentina.
Segundo o jornal Página12, a aeronave agora poderá ser extraditada para os EUA, embora a decisão final deva ser do governo do presidente Alberto Fernández.
Venezuela protesta
A escalada de tensão no caso pode abalar as relações entre Argentina e Venezuela, que começavam a dar seus primeiros passos rumo à normalização após a nomeação de um novo embaixador argentino em julho.
Nesta quinta-feira (11), o ministro do Transporte da Venezuela, Ramón Velásquez, se reuniu com o representante diplomático argentino em Caracas, Oscar Laborde, para apresentar um pedido formal de devolução da aeronave venezuelana.
Em nome da Conviasa, Velásquez entregou a Laborde um documento assinado por trabalhadores da empresa pedindo a liberação do avião.
"Também entregamos ao senhor embaixador um pedido para que nossos homólogos na Argentina se reúnam conosco para avaliarmos juntos qual é a situação e buscarmos a melhor alternativa", disse o ministro venezuelano.
#11Ago Junto a los diputados de la Asamblea Nacional y a la clase trabajadora consignamos un documento ante la embajada Argentina en Venezuela para exigir #DevuelvanElAvión no descansaremos hasta que se haga justicia con la tripulación y el avión pic.twitter.com/W66bbUIOJT
— Ramón Celestino Velásquez Araguayán (@rvaraguayan) August 11, 2022
Também esteve presente na reunião o deputado governista Pedro Carreño que entregou ao embaixador argentino uma resolução aprovada pela Assembleia Nacional da Venezuela que exige a devolução da aeronave e a liberação da tripulação venezuelana retida no país.
"Não duvidamos da disposição do governo argentino e acreditamos na palavra do embaixador, ainda que saibamos como opera o imperialismo", disse o parlamentar.
Do lado de fora da embaixada argentina, enquanto acontecia a reunião, trabalhadores da Conviasa protestavam com faixas e bandeiras pedindo a liberação da aeronave a da tripulação venezuelana.
O embaixador argentino, por sua vez, classificou o encontro como "uma reunião sincera", mas manifestou ao deputado seu descontentamento com declarações de Carreño sobre o presidente Alberto Fernández.
"Esse tipo de situação dificulta o fortalecimento das relações bilaterais e o processo de integração que a Pátria Grande necessita", disse Laborde.
O diplomata se referia a um discurso proferido por Carreño no Parlamento venezuelano na última terça-feira (9) no qual chamava o presidente argentino de "fantoche do imperialismo". "[Queremos] exigir ao governo argentino a devolução do avião, que é venezuelano, e dizer ao presidente Fernández que demonstre se é um fantoche do imperialismo ou se verdadeiramente governa esse país", afirmou o deputado chavista na ocasião.
Nas últimas semanas, o governo do presidente Nicolás Maduro tem ampliado seus esforços para recuperar ativos e bens bloqueados no exterior. Nesta terça-feira, sindicatos e movimentos populares foram às ruas de Caracas para exigir além da devolução do avião retido na Argentina, o desbloqueio da refinaria Citgo, nos EUA, e das reservas de ouro que estão presas no Banco da Inglaterra.
Edição: Felipe Mendes