Ronda Política

Braço direito de Guedes pode assumir Caixa; PT ingressa notícia-crime contra Bolsonaro

Integrantes do governo pressionam pela demissão de Pedro Guimarães, que deve ser substituído por Daniella Marques

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Daniella Marques Consentino é, até o momento, secretária especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia - Ministério da Economia/Divulgação

Daniella Marques Consentino, até o momento secretária especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia, deve assumir a presidência da Caixa Econômica Federal, no lugar de Pedro Guimarães. Ele é acusado de assédio sexual por cinco funcionárias do banco, conforme revelado pelo site Metrópoles.  

Com as denúncias, integrantes do governo passaram a considerar a situação de Guimarães no cargo insustentável e a defender a exoneração do cargo como uma forma de rechaçar publicamente o ocorrido.  

Consentino está no governo federal desde o primeiro ano do governo Bolsonaro, quando foi nomeada como chefe da Assessoria Especial de Assuntos Estratégicos do ministro Paulo Guedes. Já o cargo que ocupa hoje, Consentino passou a exercê-lo desde fevereiro deste ano. Formada em administração pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), Consentino tem pós-graduação em finanças pelo Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec). 

MP do Trabalho abre apuração 

Diante das denúncias, o Ministério Público do Trabalho (MPT) do Distrito Federal (DF) abriu uma investigação contra Pedro Guimarães. Trata-se apenas de uma apuração inicial, por meio da qual o MPT irá avaliar se existem indícios suficientes para abrir um inquérito.  


Pedro Guimarães, Jair Bolsonaro e Flávio Bolsonaro: presidente da Caixa é próximo à família presidencial / Isaac Nóbrega/PR

O órgão já chegou a notificar, no ano passado, Guimarães por ter constrangido funcionários da Caixa ao forçá-los a fazer flexões em um evento da estatal. Na ocasião, o MPT determinou que Guimarães não reproduzisse “situações de constrangimento”. 

Randolfe Rodrigues pede convocação de Guimarães 

E no Senado, o líder da oposição, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), protocolou um requerimento de convocação de Guimarães para a Comissão de Direitos Humanos. O pedido será votado em reunião da comissão. Se aprovado, o presidente da Caixa deverá necessariamente comparecer, por se tratar de uma convocação, e não apenas de um convite.  

“Depois de uma semana de notícias devastadoras sobre violência sexual, surge mais uma! São graves as acusações contra Pedro Guimarães, presidente da Caixa, indicado de Bolsonaro”, publicou Randolfe Rodrigues em seu perfil no Twitter.  


Senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) / Leopoldo Silva/Agência Senado

Guimarães foi indicado ao cargo depois das eleições de 2018. A indicação foi feita ao presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo ministro Paulo Guedes (Economia), de quem o presidente da Caixa já era próximo. Gradualmente, ele se afastou de Guedes e dos demais ministros. Hoje, tem ligação direta com o chefe do Executivo. 

Delegado que falou sobre interferência em investigação do MEC é afastado 

O delegado Bruno Calandrini será transferido de setor: da Coordenação de Inquéritos de Tribunais Superiores para a Coordenação da Unidade Especial de Investigação de Crimes Cibernéticos. Ele é um dos responsáveis na Polícia Federal pela investigação do suposto esquema de corrupção no Ministério da Educação, que como um dos alvos o ex-ministro Milton Ribeiro.

Segundo a PF, no entanto, ele irá continuar na coordenação da Operação Acesso Pago. “O próprio servidor manifestou interesse (ainda no mês de maio) em ser movimentado para a nova unidade, para onde irá apenas no mês de julho, permanecendo na presidência da Op. Acesso Pago (IPL do MEC) e outros inquéritos da CINQ/CGRCR/DICOR/PF”, diz a nota da PF.  


Polícia Federal fala em "organização criminosa" em esquema de liberação de verbas no Ministério da Educação, antes chefiado por Milton Ribeiro / Alan Santos/PR

Na semana passada, Calandrini enviou uma carta à equipe da Operação Acesso Pago, na qual afirma que houve "interferência na condução de investigação" e que não tem "autonomia investigativa e administrativa para conduzir o Inquérito Policial deste caso com independência e segurança institucional".  

PT ingressa notícia-crime contra Bolsonaro 

Senadores do PT ingressaram com uma notícia-crime no Supremo Tribunal Federal (STF) solicitando a abertura de um inquérito para apurar possíveis crimes do presidente Jair Bolsonaro (PL) na Petrobras, nesta terça-feira (28). Os parlamentares pedem a quebra de sigilo de dados do capitão reformado.  

O ex-presidente da Petrobras Roberto Castello Branco disse que o celular corporativo devolvido à empresa contém material que pode incriminar Bolsonaro, segundo apuração do Metrópoles. A declaração foi feita em um grupo de economistas em resposta a Rubem Novaes, ex-presidente do Banco do Brasil, para quem Castello Branco ataca o atual governo. 


Roberto Castello Branco / Mauro Pimentel/AFP

“Se eu quisesse atacar o Bolsonaro não foi e não é por falta de oportunidade (sic). Toda vez que ele produz uma crise, com perdas de bilhões de dólares para seus acionistas, sou insistentemente convidado pela mídia para dar minha opinião. Não aceito 90% deles [dos convites] e quando falo procuro evitar ataques”, retrucou o ex-presidente da estatal. “No meu celular corporativo tinha mensagens e áudios que poderiam incriminá-lo. Fiz questão de devolver intacto para a Petrobras”, concluiu Castello Branco. 

No documento protocolado no STF, os parlamentares ventilam a possibilidade de Bolsonaro ter cometido crime de responsabilidade. “Os fatos relatados, no que envolve a autoridade do Excelentíssimo Senhor Presidente da República Jair Bolsonaro, como o outrora Presidente da empresa Petrobrás S/A – o senhor Roberto Castello Branco –indiciam possível cometimento de crimes de alto relevo que encontram tipificação, inclusive, na Lei nº 1.079/1950 que trata dos crimes de responsabilidade”, diz o documento enviado ao STF. 

Bolsonaro ameaçou médico  

O presidente Bolsonaro disse, nesta terça (28) ao canal Hipócritas, no YouTube, que ameaçou um médico do Exército para conseguir a receita de um medicamento contra a covid-19.  

"Eu mesmo quando senti o problema, chamei o médico, falei: 'Acho que estou com sintomas'. Ele falou: 'Está com todos os sintomas, vamos fazer o teste'. Falei: 'Me traz aquele remédio'. [Ele disse:] 'não, não, não'. Eu falei: 'Traga o remédio porque o exame só vai sair o resultado amanhã e pode ser tarde demais. [O médico disse:] 'Ah, mas os protocolos nossos'... Falei: 'Traz o remédio ou te transfiro para a fronteira agora, democraticamente. Tomei, no outro dia estava bom", declarou o presidente aos risos. 

O capitão reformado não citou qual medicamento ele pediu ao profissional. O presidente, no entanto, nunca mediu esforços para fazer a defesa contumaz e pública de remédios comprovadamente ineficazes contra a doença pela ciência, como cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina.  


Presidente Jair Bolsonaro promove hidroxicloroquina como remédio contra a covid-19, durante posse de Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde -16/09/2020 / Carolina Antunes/Presidência da República

Na mesma entrevista, Bolsonaro afirmou que a classe médica "perdeu a autonomia" durante a pandemia de covid-19.  Em uma situação em que "você pegou algo que ninguém sabe o que é, [o médico] tem que tentar uma alternativa em comum acordo contigo, [mas] acabaram a autonomia do médico no Brasil". 

Bolsonaro ainda disse que não acatou as recomendações do então ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. "Eu falei: Mandetta procurar hospital para quê? Qual é o remédio que ele vai tomar. Vai ser intubado? Isso não é remédio. Cartão vermelho para ele." 

Em determinado momento, Bolsonaro comenta que começou a "estudar alternativas" para o tratamento da doença e disse que as pessoas da África Subsaariana que estavam contraindo a doença “eram para morrer, porque são pessoas mais fracas, frágeis, mas não morriam", porque “o pessoal lá toma” um remédio “para combater a malária", a cloroquina. 

Marina Silva anuncia pré-candidatura 

A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (Rede Sustentabilidade) anunciou a sua pré-candidatura a deputada federal por São Paulo, em suas redes sociais. O lançamento oficial da pré-candidatura será no próximo sábado (2).  

Segundo Silva, a decisão foi tomada após um longo período de discussão. “Depois de um longo período de discussão, tenho a satisfação de anunciar que aceitei o convite da Rede para disputar uma vaga à Câmara dos Deputados pelo Estado de São Paulo”, disse.  


Ex-ministra do Meio Ambiente e ex-senadora Marina Silva (Rede) / Foto: Divulgação

“Considero que assim posso colaborar com o objetivo estratégico de mobilizar o Brasil para o grande desafio da reconstrução e construção de políticas públicas capazes de enfrentar o crescimento intolerável das desigualdades, recuperar a economia em bases sustentáveis e preparar o estado e o país para a urgente transição necessária para nos adaptarmos às mudanças climáticas”, escreveu Marina em seu perfil no Twitter.  

“Coloco-me ao lado de quem vai à luta para superar o atual momento, propondo-me a contribuir para que São Paulo tenha uma representação no Congresso que seja compatível com sua potência em recursos sociais, científicos, humanos, tecnológicos e financeiros para avançarmos juntamente com gente de todos os estados, decidida a cumprir o papel instigante e desafiador de reconstruir nosso país.” 

Márcio França admite desistir do governo de SP 

Márcio França (PSB) admitiu que há a possibilidade de desistir da pré-candidatura ao governo de São Paulo, abrindo espaço para o pré-candidato ao governo Fernando Haddad (PT). A eventualidade foi ventilada durante uma reunião da cúpula do PSB, nesta segunda-feira (27), segundo apuração da Folha de S. Paulo.  


Márcio França / Governo do Estado de São Paulo/Divulgação

França disse ao jornal que a prioridade é eleger Lula. "Combinamos com Lula e outros partidos que as decisões sobre as eleições estaduais não devem prejudicar a vitória do campo democrático, que entendemos representar", disse. "Propus, desde sempre, que quem de nós tiver melhores condições eleitorais de defender a mudança para São Paulo e para o Brasil deve ter apoio dos demais." Nos últimos levantamentos, Haddad está em primeiro lugar e França, em terceiro.  

Bolsonaro condenado 

Por quatro votos a um, a 8ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) manteve a condenação contra Jair Bolsonaro por ofender a honra da jornalista Patrícia Campos Mello, repórter da Folha, e elevou o valor da indenização para R$ 35 mil. 

Em fevereiro de 2020, Bolsonaro fez uma insinuação sexual contra Campos Mello ao dizer que a repórter teria dado um furo, referindo-se a “furo” como orifício do corpo. No jargão jornalístico, no entanto, “furo” se refere a uma informação exclusiva.  

"Não consigo me convencer que houve apenas exercício da liberdade de expressão. Do mesmo modo, no meu entendimento, é perfeitamente aceitável a versão constante no pedido de ofensa à dignidade e menoscabo ao apreço moral e social. Por isso, eu acompanho o voto da relatora", declarou o desembargador Silvério da Silva. 

Na mesma linha, o desembargador Theodureto Camargo disse que, “a rigor, não se tratou de uma fala inofensiva. Houve manifesto propósito de menosprezar ou desacreditar a autora", disse o magistrado. 

Vereador bolsonarista condenado  

O vereador de Niterói, no Rio de Janeiro, Douglas Gomes (PL) foi condenado, por uma juíza da 2ª Vara Criminal de Niterói, a um ano e sete meses de prisão pelo crime de transfobia contra a Benny Briolly (PSOL), também vereadora no município pelo PSOL e a primeira travesti eleita no estado.  

Enquanto Briolly comemorou a decisão nas redes sociais, Gomes reclamou. “Acabo de ser informado que foi condenado a um ano e sete meses de prisão por chamar um homem de homem”, disse sendo, novamente, transfóbico.  


Deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o vereador de Niterói Douglas Gomes (PL) e o deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) / Reprodução Instagram

Em março de 2021, Briolly denunciou Gomes por tentativa de agressão, no plenário da Câmara Municipal de Niterói. “Hoje fui agredida com transfobia, racismo e quase fisicamente pelo vereador fascista Douglas Gomes, que foi seguro pelos meus companheiros de bancada para que não me encostasse. Foi horrível e doloroso!”, escreveu a vereadora, em sua rede social, na época. 

Briolly estava com a palavra no plenário quando Douglas começou a chamá-la de “vagabundo, moleque, seu merda e mentiroso”, e a tentar agredi-la. “Chorei, senti medo, senti a dor de ser mulher negra e trans na política, mas não recuei. Companheiras me ajudem porque eu não posso andar só!”, desabafou Benny, na ocasião.  

Edição: Rodrigo Durão Coelho