Longe do fim

Guerra na Ucrânia completa 100 dias e Ocidente aumenta pressão econômica

Moscou concentra suas ações militares no leste ucraniano e União Europeia anuncia sanção contra petróleo russo

Brasil de Fato | São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ) |

Ouça o áudio:

Prédios em Sloviansk, cidade do leste da Ucrânia - Aris Messinis / AFP

A guerra na Ucrânia completa a marca de 100 dias nesta sexta-feira (3). Sem perspectivas de cessar a operação militar em um futuro próximo, a Rússia enfrenta a resistência militar ucraniana e o isolamento econômico do Ocidente.

Com algumas conquistas concretas desde o início do conflito, a Rússia atualmente concentra seus esforços militares nas regiões de Donetsk e Lugansk, no leste ucraniano, enquanto é pressionada pelo Ocidente com novas sanções econômicas e possível expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) nas proximidades de sua fronteira.

Anunciada como uma operação especial militar, a intervenção russa na Ucrânia recuou dos arredores da capital ucraniana, Kiev, em meados de abril, concentrando os combates nas autoproclamadas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, regiões separatistas do leste do país. A manobra foi anunciada pelo Kremlin como o início da "segunda fase da operação especial para proteger Donbass".

Enquanto os confrontos mais intensos acontecem na linha de contato em Donbass, a Rússia aumenta o seu controle sobre a cidade de Kherson — região do sul da Ucrânia dominada pelo exército russo —, facilitando a aquisição da cidadania russa para a população local. A medida é vista como um indício de uma possível futura anexação do território à Federação Russa.

Desta forma, no plano militar, a estratégia de Moscou chega aos 100 dias buscando estabelecer um domínio sobre o corredor que abarca o leste e o sul da Ucrânia, aumentando a conexão da Rússia com a Crimeia, anexada pelo país em 2014.

Novas sanções europeias

Após superar as resistências de países do leste europeu com grande dependência do petróleo russo, a União Europeia aprovou na quinta-feira (2) seu sexto pacote de sanções contra Moscou. O bloco europeu afirmou em nota que a ação tem como objetivo "aumentar ainda mais a pressão econômica contra a Rússia e diminuir sua capacidade de travar a guerra contra a Ucrânia".

Outro entrave que precisou ser superado na confecção da iniciativa foi a inclusão do chefe da Igreja Ortodoxa Russa, patriarca Kirill, na lista de sanções. De acordo com informações de agências internacionais, a Hungria vetou a aprovação do pacote por conta da presença do religioso próximo do governo russo. Diante da resistência húngara, a sanção contra Kirill foi suspensa e o pacote, aprovado. 

:: Kremlin diz não confiar em promessa da Ucrânia de não usar mísseis dos EUA contra Rússia ::

De acordo com a União Europeia, o bloco importou 48 bilhões de euros em petróleo cru e 23 bilhões de euros de produtos refinados de petróleo dos russos em 2021. Com as sanções, 90% destas importações serão suspensas, diz a Comissão Europeia.

Há um prazo para a implementação das medidas — e também exceções. As compras de petróleo via navios serão encerradas dentro de seis meses, já a compra de produtos refinados de petróleo devem cessar dentro de oito meses. Países com “dependência particular de oleoduto em relação à Rússia” estão isentos das sanções por prazo indeterminado, como a Bulgária, que está liberada até 2024, e a Croácia, que poderá comprar produtos derivados do petróleo russo até 2023. 

Por meio do oleoduto Druzhba, a Rússia leva petróleo para parte considerável da Europa. A infraestrutura é particularmente importante para países sem saída para o mar, como Hungria e Eslováquia. De acordo com a Agência Internacional de Energia, a Rússia forneceu 74% do petróleo consumido pela Eslováquia em novembro de 2021.


"Druzhba" significa "amizade", em tradução livre do russo. / Brasil de Fato

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, cuja esposa e filhos foram incluídos no pacote de sanções, declarou nesta sexta-feira (3) que a Rússia "só tem a lamentar que a Europa siga a tendência de sanções de Washington".

"Só podemos lamentar que a Europa seja forçada a seguir a tendência de Washington. É inútil contestar, pelo menos agora. Não há julgamento justo", disse Peskov, citado pela agência russa RIA Novosti.

Em resposta às sanções do Ocidente, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia anunciou a proibição de entrada na Rússia para mais 41 cidadãos canadenses. A maioria deles são membros do Congresso Ucraniano Canadense, do Congresso Mundial dos Ucranianos e da União de Crédito Ucraniana.

"Em resposta a mais uma rodada de sanções pessoais anti-russas (…) a entrada na Rússia está permanentemente fechada para os cidadãos canadenses, incluindo chefes de organizações que apoiam forças ultranacionalistas na Ucrânia, bem como oficiais militares de alto escalão", disse o Ministério das Relações Exteriores.

No final de maio, a chancelaria proibiu a entrada de 26 cidadãos canadenses na Rússia, incluindo a esposa do primeiro-ministro canadense, Sophie Trudeau.

Edição: Glauco Faria