Jornalista, escritora e documentarista, Eliane Brum é uma importante voz brasileira da luta ambiental. Desde 1998, quando trabalhava no jornal Zero Hora, a gaúcha dedica-se à cobertura jornalística da Floresta Amazônica. Mas, a partir de agosto de 2017, isso se intensificou, quando decidiu trocar São Paulo por Altamira, no Pará, junto ao amigo e fotógrafo Lilo Clareto, que morreu no ano passado vítima da covid-19. No programa Entre Vistas, da TVT, desta quinta-feira (26), Eliane Brum contou ao jornalista Juca Kfouri que estar na linha de frente da guerra climática foi o principal motivo que a fez mudar sua vida.
“A gente veio para cá, para cobrir o centro do mundo, a partir do centro do mundo, defendendo essa coisa concretamente, que é a mudança da centralidade que tem que ser com o corpo. Não basta ficar repetindo isso na internet, tem que fazer esse movimento com o corpo. Então eu vim porque eu entendo que estamos em uma guerra, que é uma guerra climática não contra o clima, mas contra a minoria dominante que produziu essa catástrofe e segue a produzindo, o que e pior. E aqui é uma das linhas de frente. Eu vim até ela”, destaca a jornalista.
Vivendo em plena Amazônia há quase cinco anos, Eliane Brum tem acompanhado de perto a destruição da maior floresta tropical do mundo.
Futuro é hoje
Em abril, o desmatamento na Amazônia bateu um novo recorde. Pela primeira vez, a área destruída superou os mil quilômetros quadrados, segundo dados do sistema de alertas do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe). Ao todo, foram 1.012 quilômetros quadrados de floresta derrubada. Ou, 74% a mais do que o recorde anterior para o mês, de 580 quilômetros quadrados. Os estados onde a presença do agronegócio é maior lideram com os mais altos alertas de desmatamento: Amazonas, Pará, Mato Grosso e Rondônia.
“O que está acontecendo hoje é sem precedentes. Então, com Bolsonaro, acaba a Amazônia, assim como está acabando o Cerrado. A Amazônia tem muito mais visibilidade do que o Cerrado por conta de seu papel climático. Mas o Cerrado está em uma situação atroz. A gente viu o Pantanal queimar assim como todos os biomas. E o que as pessoas precisam entender é que acaba a Amazônia, acaba o futuro dos filhos delas. Não estamos falando de gerações distantes, mas gerações que já estão vivas. Eu não entendo como as pessoas não se deram conta disso, por isso que eu vivo repetindo que o negacionismo vai muito além do que aquilo que chamamos de negacionista”, comenta Eliane Brum.
Na salvação, não há Bolsonaro
Para a jornalista, não há como recuperar a floresta amazônica sem tirar Jair Bolsonaro da Presidência da República. Mas o caminho, segundo ela, também passa pela demarcação de terras indígenas, pelo fortalecimento das equipes de fiscalização e pela reforma agrária.
“Não dá para começar a conversar sobre a Amazônia sem que se assuma o compromisso de demarcar todas as terras indígenas, de demarcar todos os quilombos e as unidades de conservação que ainda não foram demarcadas. E de botar gente, porque às vezes tem um funcionário do Ibama e do ICMBio para milhões de hectares, o que é uma piada. E não dá para começar a conversar sem uma reforma agrária decente”, garante Eliane Brum.
O programa Entre Vistas vai ao ar às quintas-feiras, às 21h30, com novos convidados todas as semanas. A íntegra dos programas anteriores está disponível no canal de Youtube da Rede TVT.