Coluna

Tomem cuidado para que Elon Musk não devore a Amazônia

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"Nós derrubaremos quem quisermos", disse Musk alguns anos atrás - Peter Parks/AFP
O homem mais rico do mundo nunca demonstrou sinais de humanitarismo

“Ele está vindo para oferecer ajuda à Amazônia”, disse o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, referindo-se à visita de Elon Musk, dono da SpaceX e da Tesla, ao interior de São Paulo. A SpaceX tem vasculhado o planeta para ofertar serviço de internet via satélite para áreas carentes a lucros exorbitantes. A empresa espera ganhar o contrato para disponibilizar o serviço na Floresta Amazônica como parte de seus planos de expansão. Musk provavelmente possui outros interesses na região, como mineração de metais raros que beneficiariam a Tesla, sua companhia de carros elétricos, bem como a operação de baterias. Não se fala em público sobre tais interesses uma vez que são encobertos por sigilo corporativo.

A floresta amazônica é rica em uma gama de metais como alumínio, cobre, ouro, manganês, níquel, nióbio e estanho. Estes são metais valiosos procurados ativamente por companhias mineradoras, em sua maioria sediadas no Canadá e Estados Unidos ou então financiadas por corporações estadunidenses, a exemplo da Blackrock. Os interesses comerciais de Musk coincidem com a existência desses minerais, e ele já havia expressado seu desdém quando a democracia bloqueia sua extração. Em 2020, após o golpe na Bolívia, Musk foi acusado de ter se envolvido devido às necessidades que a Tesla tem de lítio, metal que pode ser encontrado em grandes quantidades no solo boliviano. “Nós derrubaremos quem quisermos”, tweetou o bilionário na época.

Embora a mineração não ocorra em uma grande área da Amazônia, pesquisadores descobriram que a atividade causa desmatamento considerável. A floresta é um dos maiores “sequestradores” de carbono do mundo, absorvendo por volta de 2,2 bilhões de toneladas de dióxido de carbono por ano. Apenas 80% dela continua de pé. A direita brasileira está ansiosa para acabar com as proteções garantidas à Amazônia. Em 2017, o ex-presidente Michel Temer tentou abolir o status de reserva dado à Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca), que possui 4,6 milhões de hectares. Os projetos de lei de nº 191/2020 e 490/2007, em tramitação no legislativo brasileiro, permitiriam às mineradoras corroer a soberania das comunidades indígenas do país. O desdém de Musk pela democracia deveria ser um aviso para as comunidades amazônicas: sua promessa de prover acesso a internet via satélite é, possivelmente, uma balela para usar as instituições democráticas para ganhos corporativos.

De maneira bizarra, Musk disse publicamente que gostaria de ver a tecnologia da SpaceX sendo utilizada para detectar desmatamentos ilegais. É com base nessas declarações que Bolsonaro diz que Musk quer “ajudar a Amazônia”. Ajudá-la ou destruí-la? O homem mais rico do mundo – que acabou de anunciar planos para comprar o Twitter – nunca demonstrou sinais de humanitarismo. “Nós derrubaremos quem quisermos”, disse alguns anos atrás. Esta é sua atitude em relação à democracia e ao planeta.

Edição: Felipe Mendes