Diversos movimentos populares e de luta no campo organizam neste sábado (21/05) uma jornada de protestos em várias regiões da Venezuela contra as gigantes multinacionais do setor agroquímico Monsanto, Bayer e Syngenta.
Militantes em defesa da soberania alimentar, produtores, camponeses e artistas são esperados no ato principal, em Caracas, na Praça Los Museos de Bellas Artes, e que se soma à mobilização mundial que ocorre anualmente contra essas empresas internacionais.
A manifestação, organizada pela Campanha Venezuela Livre de Transgênicos, pela Feira Conuquera Agroecológica e pela Fundação Pueblo a Pueblo, tem como objetivo principal conscientizar a população sobre os riscos que alimentos e sementes geneticamente modificadas trazem para a saúde e para a soberania alimentar do país.
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Segundo Gisella Perdomo, uma das organizadoras da marcha, é necessário explicar para a população o funcionamento dos produtos transgênicos e como tais empresas agroquímicas agem no setor.
"A Monsanto implementa um tipo de agricultura industrial que não favorece os povos, nem os ecossistemas, tratando a agricultura apenas como um negócio, não como forma de soberania, nem como forma de alimentação saudável", explica Perdomo ao Brasil de Fato
Te esperamos este sábado #21mayo desde la 1pm en la Plaza de Los Museos de Bellas Artes, en el marco de la jornada mundial contra Monsanto, para defender nuestra Ley de Semillas y decirle NO a los transgénicos #DefiendeTuLeyDeSemillas #VenezuelaLibredeTransgenicos pic.twitter.com/HT03LV1fe6
— VenezuelaLibreDeOGM (@vzlalibredeogm) May 19, 2022
Diferentemente das sementes convencionais, também chamadas de crioulas, as transgênicas dependem de grandes quantidades de fertilizantes químicos que agridem o solo, além do fato de serem protegidas por patentes, o que acaba criando uma dependência para o setor agrícola e favorece o monopólio das multinacionais produtoras.
Em 2018, a empresa alemã Bayer comprou a norte-americana Monsanto por US$ 66 bilhões (o equivalente a R$ 275 bilhões), dando origem ao maior grupo de agrotóxicos e transgênicos do mundo.
Lei de Sementes ameaçada?
Perdomo explica que, na Venezuela, o uso de sementes transgênicas e protegidas por patentes está proibido desde 2015 e um dos objetivos do ato deste sábado é denunciar qualquer tentativa de modificar a chamada Lei de Sementes, elaborada por movimentos populares que lutam pela soberania alimentar.
"A Lei de Sementes foi elaborada por nossos movimentos que agora saem em sua defesa. Ela proíbe o uso de sementes transgênicas na Venezuela, proíbe a patente sobre sementes e reconhece que mecanismos de poder popular podem dar garantia da qualidade das sementes nacionais, impulsionando produções indígenas e afrodescendentes", explica a ativista.
Entretanto, Perdomo denuncia que há atualmente tentativas por parte de empresários e políticos de modificar pontos da lei aprovada em 2015 para criminalizar a atuação de movimentos populares no campo e reintroduzir no país produtos como os fabricados pelas multinacionais do setor agroquímico como a Bayer e a Monsanto.
"Neste momento em particular, que vemos alguns ataques contra a lei de Sementes, queremos denunciar ainda mais o que são os transgênicos, que problemas eles geram para nossa soberania alimentar, para a saúde dos camponeses e dos consumidores", afirma.
Ainda de acordo com a militante, situações de crise causadas “pelo bloqueio econômico poderiam servir de justificativa para algumas pessoas do governo permitirem a entrada dessas sementes, seja pela modificação da Lei de Sementes ou por outros mecanismos legais que servem para combater as sanções”.
“Por isso a necessidade de combatermos desde já essas ideias, porque a presença de sementes transgênicas protegidas por patentes só nos escravizaria a essas empresas”, diz.
Edição: Arturo Hartmann