Agronegócio

Movimentos populares da Venezuela protestam contra gigantes agroquímicas Bayer e Monsanto

Segundo organizadores, ato ocorre em defesa de lei que proíbe uso de sementes transgênicas no país

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Movimentos populares na Venezuela protestam contra empresas que produzem transgênicos - Reprodução

Diversos movimentos populares e de luta no campo organizam neste sábado (21/05) uma jornada de protestos em várias regiões da Venezuela contra as gigantes multinacionais do setor agroquímico Monsanto, Bayer e Syngenta.

Militantes em defesa da soberania alimentar, produtores, camponeses e artistas são esperados no ato principal, em Caracas, na Praça Los Museos de Bellas Artes, e que se soma à mobilização mundial que ocorre anualmente contra essas empresas internacionais.

A manifestação, organizada pela Campanha Venezuela Livre de Transgênicos, pela Feira Conuquera Agroecológica e pela Fundação Pueblo a Pueblo, tem como objetivo principal conscientizar a população sobre os riscos que alimentos e sementes geneticamente modificadas trazem para a saúde e para a soberania alimentar do país. 

Leia também: Projeto de agroecologia une produção camponesa às comunas urbanas na Venezuela

Segundo Gisella Perdomo, uma das organizadoras da marcha, é necessário explicar para a população o funcionamento dos produtos transgênicos e como tais empresas agroquímicas agem no setor.

"A Monsanto implementa um tipo de agricultura industrial que não favorece os povos, nem os ecossistemas, tratando a agricultura apenas como um negócio, não como forma de soberania, nem como forma de alimentação saudável", explica Perdomo ao Brasil de Fato

Diferentemente das sementes convencionais, também chamadas de crioulas, as transgênicas dependem de grandes quantidades de fertilizantes químicos que agridem o solo, além do fato de serem protegidas por patentes, o que acaba criando uma dependência para o setor agrícola e favorece o monopólio das multinacionais produtoras.

Em 2018, a empresa alemã Bayer comprou a norte-americana Monsanto por US$ 66 bilhões (o equivalente a R$ 275 bilhões), dando origem ao maior grupo de agrotóxicos e transgênicos do mundo. 

Lei de Sementes ameaçada?

Perdomo explica que, na Venezuela, o uso de sementes transgênicas e protegidas por patentes está proibido desde 2015 e um dos objetivos do ato deste sábado é denunciar qualquer tentativa de modificar a chamada Lei de Sementes, elaborada por movimentos populares que lutam pela soberania alimentar.

"A Lei de Sementes foi elaborada por nossos movimentos que agora saem em sua defesa. Ela proíbe o uso de sementes transgênicas na Venezuela, proíbe a patente sobre sementes e reconhece que mecanismos de poder popular podem dar garantia da qualidade das sementes nacionais, impulsionando produções indígenas e afrodescendentes", explica a ativista.

Entretanto, Perdomo denuncia que há atualmente tentativas por parte de empresários e políticos de modificar pontos da lei aprovada em 2015 para criminalizar a atuação de movimentos populares no campo e reintroduzir no país produtos como os fabricados pelas multinacionais do setor agroquímico como a Bayer e a Monsanto.


Ideia do movimento é reforçar a agenda da agricultura agroecológica / Reprodução

"Neste momento em particular, que vemos alguns ataques contra a lei de Sementes, queremos denunciar ainda mais o que são os transgênicos, que problemas eles geram para nossa soberania alimentar, para a saúde dos camponeses e dos consumidores", afirma.

Ainda de acordo com a militante, situações de crise causadas “pelo bloqueio econômico poderiam servir de justificativa para algumas pessoas do governo permitirem a entrada dessas sementes, seja pela modificação da Lei de Sementes ou por outros mecanismos legais que servem para combater as sanções”. 

“Por isso a necessidade de combatermos desde já essas ideias, porque a presença de sementes transgênicas protegidas por patentes só nos escravizaria a essas empresas”, diz.

Edição: Arturo Hartmann