Relações retomadas?

Venezuela confirma que EUA suspenderam sanções para negociar retomada de produção de petróleo

Funcionário do governo Biden disse que atual licença não permitirá extração, que fica condicionada a sucesso de diálogo

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Refineria de petróleo em Puerto La Cruz, na Venezuela - Yuri Cortez / AFP

A vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez, confirmou na noite desta terça-feira (17) que os Estados Unidos suspenderam algumas sanções e autorizaram empresas petroleiras "norte-americanas e europeias" a voltarem a negociar com autoridades venezuelanas o reinício de suas operações no país.

"O governo bolivariano da Venezuela verificou e confirmou as notícias publicadas no sentido de que os Estados Unidos da América autorizaram empresas petroleiras estadunidenses e europeias para que negociem e reiniciem operações na Venezuela", escreveu Rodríguez em sua conta no Twitter.

O pronunciamento da vice-mandatária veio após diversas agências internacionais e jornais norte-americanos afirmarem que Washington estaria aliviando algumas sanções petroleiras contra a Venezuela.

Um alto funcionário do governo do presidente Joe Biden, sob condição de anonimato, confirmou na terça a diversos meios internacionais que o governo estadunidense vai permitir que a Chevron volte a negociar com autoridades venezuelanas o reinício de suas operações no país.

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"O Tesouro, com a ajuda do Departamento de Estado, emitiu uma licença limitada que autoriza a Chevron a negociar os termos de possíveis atividades futuras na Venezuela. Isso não permite o fechamento de nenhum acordo com a PDVSA, nem nenhuma outra atividade que envolva a PDVSA ou o setor petroleiro da Venezuela. Fundamentalmente, o que estão fazendo é deixar que conversem", disse o funcionário de Biden, de acordo com a BBC.

Gigante do ramo energético, a Chevron, assim como outras empresas estadunidenses do setor, foram obrigadas a suspender suas atividades no país latino-americano após as sanções petroleiras impostas por Donald Trump em 2019. Dois anos depois, no entanto, Washington liberou a empresa a seguir no país apenas para cuidar e realizar manutenção de suas instalações. Assim, a Chevron se tornou a única petroleira dos EUA com presença na Venezuela.

Segundo o jornal Washington Post, o funcionário do governo Biden explicou que a atual licença pode ser a primeira ação de uma série de passos em direção à retirada de sanções petroleiras e que a continuidade dependerá "da cooperação do governo Maduro". "Se o governo retornar às negociações com a oposição, destinadas a garantir eleições livres e justas em 2024, os Estados Unidos podem permitir à Chevron que comece a enviar equipamentos à Venezuela. Se as conversas forem bem-sucedidas, a Chevron pode ser autorizada a extrair e vender petróleo venezuelano", destaca o jornal.

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Em tentativa de desestabilizar a Venezuela, os EUA não reconheceram a vitória eleitoral do presidente Nicolás Maduro em 2018, e desde 2019 consideram que o ex-deputado Juan Guaidó é o “presidente interino” do país. A postura não foi revista pela gestão de Biden, por isso a Casa Branca segue a narrativa impulsionada pela oposição de que não haveria “condições democráticas” para a realização de eleições no país.

A Chevron opera em 4 plantas mistas na Venezuela, cujas ações majoritárias pertencem à estatal PDVSA. Caso a empresa seja autorizada a voltar a produzir em território venezuelano, a produção de petróleo do país pode chegar a aproximadamente 1 milhão de barris por dia, já que as instalações da companhia norte-americana têm capacidade para produzir cerca de 200 mil barris por dia e, segundo o último relatório da OPEP, a atual produção venezuelana está em cerca de 775 mil barris por dia. 

A marca representaria um avanço significativo para o país latino-americano que tem no petróleo sua principal fonte de divisas e que, durante os últimos anos, viu sua produção despencar devido à queda do preço internacional e às sanções impostas pela Casa Branca.

De acordo com a agência Bloomberg, a fonte do governo Biden ainda afirmou que os EUA também permitirão que empresas europeias que ainda operam na Venezuela "transportem mais petróleo para o continente de forma imediata".

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Pelo Twitter, a vice-presidente da Venezuela afirmou que Caracas espera "que essas decisões dos Estados Unidos iniciem o caminho para o levantamento absoluto das sanções ilícitas que afetam todo o nosso povo".

Avançam negociações para a retomada do diálogo

Horas depois da confirmação pelo governo venezuelano do fim de algumas sanções, o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela e atual chefe da delegação governista nas mesas de negociação com a oposição, Jorge Rodríguez, se reuniu com o representante opositor nos diálogos, Gerardo Blyde. 

Em publicação no Twitter, Rodríguez afirmou que que o encontro foi uma "reunião de trabalho para planos de futuro". "No resgate pelo espírito do México", disse o chavista em referência ao país que sediou a última rodada de negociações.

Rodríguez, entretanto, afirmou que uma das exigências do governo para as conversas com opositores é a liberação do diplomata venezueleno Alex Saab, preso nos EUA após ser detido e extraditado de forma irregular em Cabo Verde.

"Nosso irmão Alex Saab, sequestrado há 704 dias, é membro pleno da delegação da Venezuela e é nosso delegado na mesa social na qual estamos discutindo. A Venezuela exigiu, exige e exigirá a participação de Alex Saab em qualquer iniciativa de trabalho que eventualmente seja acordada", disse o deputado.

A suspensão do bloqueio imposto por Washington era uma das principais reivindicações do governo venezuelano durante as mesas de negociação com a oposição que ocorreram em 2021, no México. Apesar de as partes terem chegado a alguns acordos, os diálogos foram suspensos por Caracas após a extradição de Saab para os Estados Unidos. 

Em março deste ano, Maduro anunciou a retomada dos diálogos com opositores do chamado G4, grupo que reúne os partidos de extrema direita Ação Democrática, Primeiro Justiça, Um Novo Tempo e Vontade Popular, todos aliados de Guaidó. A medida aconteceu após uma reunião entre representantes do governo venezuelano e uma delegação norte-americana enviada por Biden a Caracas para discutir a suspensão das sanções e possíveis acordos energéticos no setor petroleiro. Esse foi o primeiro encontro público entre ambos os países desde que os EUA passaram a reconhecer Guaidó como "autoridade legítima" da Venezuela.

Edição: Arturo Hartmann