"Precisamos pensar como fazer a paridade chegar ao Brasil", afirmou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Inspirado pelo México, o candidato presidencial petista defendeu uma reforma política para que os cargos parlamentares sejam ocupados de forma igualitária entre os gêneros no Brasil.
A fala foi feita durante uma reunião realizada, na manhã desta quinta-feira (10), com mulheres de movimentos sociais, sindicais e representantes partidárias do PT, PSB, PSOL, PCdoB, Rede e PV.
Organizado pela Secretaria Nacional de Mulheres do PT e pela presidenta do partido, a deputada Gleisi Hoffmann, o encontro aconteceu em um hotel na região central da capital paulista, sob o título "Mulheres com Lula para reconstruir o Brasil".
Citando uma viagem recente que fez, Lula relatou que 52% do Congresso Nacional mexicano é composto por mulheres. Essa porcentagem equivale, também, à população feminina no Brasil. Aqui, no entanto, as mulheres são 15% entre parlamentares.
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"No México, juntaram todo mundo em torno de uma reforma na Constituição, e na reforma as candidaturas são por lista: é sempre um homem e uma mulher, sempre tem paridade", disse o presidenciável. "Aí eu fico pensando, por que o México pode e nós não?", questionou.
Realizado de forma híbrida, participaram do evento a vereadora carioca e viúva de Marielle Franco, Monica Benício (PSOL), e a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT). Além delas, estavam presentes as deputadas federais Maria do Rosário (PT), Natália Bonavides (PT), Jandira Feghali (PCdoB), Perpétua Almeida (PCdoB) e Talíria Petrone (PSOL).
Pautas de movimentos para o programa de governo
De acordo com Anne Moura, secretária nacional de mulheres do PT, o evento foi um "pontapé" para apresentar ao candidato petista as pautas relacionadas às lutas de mulheres.
"A questão do emprego e da renda das mulheres, porque a fome está muito grave, e oportunidades, como o direito à moradia, são temas centrais para nós. Mas o pilar é o combate à violência: não tem como a gente ter nenhum direito se a gente não estiver viva", afirma Anne Moura.
Estiveram representados o Conselho Nacional de Seringueiros, Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (FENATRAD), a Marcha Mundial de Mulheres (MMM), a Articulação Brasileira de Mulheres, a União Brasileira de Mulheres, o Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), a Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ), a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e o Movimento Negro Unificado (MNU).
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"É preciso que a gente tenha geração de emprego, renda básica, redução da jornada de trabalho, pois as mulheres estão sobrecarregadas, apoio à economia solidária, a revogação da reforma trabalhista e a ampliação da previdência social", elencou Sonia Coelho, da MMM.
"Na América Latina, a Colômbia, o México, a Argentina e o Uruguai avançaram na questão dos direitos sexuais e reprodutivos. O Brasil precisa acompanhar esse avanço. Temos que ter o direito de decidir se queremos ou não ter filhos", afirmou, aplaudida pela plateia. "Confie no feminismo. Confie nos movimentos sociais. Não confie em golpistas", expôs Coelho.
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Coordenadora do CONTAG e da Marcha das Margaridas, Mazé Moraes defendeu que o fortalecimento da agricultura familiar "seja um dos pilares de um governo democrático e popular".
Lucineia Freitas, do MST, ressaltou que é preciso fazer da reforma agrária uma "política estruturante do desenvolvimento do país". Se referindo ao termo usado pelo então ministro do meio ambiente Ricardo Salles, que propôs aproveitar a pandemia para afrouxar políticas de proteção ambiental, Lucinéia defendeu a necessidade de "desmontar toda a legislação da boiada".
"Façam prevalecer a maioria que vocês são"
Lula caracterizou Jair Bolsonaro (PL) como, na história, o presidente mais fragilizado diante do Congresso Nacional. Mas optou por não citar seu nome durante o discurso.
"Porque não se trata só do presidente. O presidente é resultado de uma construção feita nesse país. Uma construção de ódio, mentiras e destruição da imagem de pessoas", avaliou.
"Eu achei que a gente tinha evoluído quando fez a Constituição. 'Vai ser só avanço, daqui para frente a gente não vai parar mais'. O que aconteceu de 1988 para cá? Foram destruindo todos os avanços, construindo uma narrativa", disse Lula, exemplificando com o discurso do governo de que a seguridade social era deficitária para conseguir aprovar a reforma da previdência.
"É assim nas guerras, na luta social. E eles venceram as narrativas", opinou Lula, se referindo a setores bolsonaristas. "Nós temos que entender que fracassamos ao criar uma contranarrativa. E agora chegou a hora: tem eleição. Eleição não é tudo, mas a gente pode muito", acrescentou.
Ressaltando que considera necessária a construção de alianças, o candidato petista disse querer criar um projeto político "com um leque de pessoas que ajudem a mudar esse país".
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"Quando a gente ganhar, a gente vai ter que ter maioria no Congresso Nacional", justificou.
"Nunca um homem precisou tanto de vocês como eu estou precisando", afirmou Lula em seu discurso que, além das que estavam presentes no salão, era acompanhado por cerca de quatro mil mulheres de forma virtual. "Façam prevalecer a maioria que vocês são. Façam prevalecer a razão que vocês têm", finalizou.
Edição: Rebeca Cavalcante