Tensão

Presidente da Ucrânia diz que "pânico" por suposta guerra com a Rússia prejudica a economia

Zelensky critica cobertura da imprensa e ressalta que não acredita em uma iminente invasão russa

São Paulo (SP) |

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Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia - Presidência da Ucrânia/ AFP

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou nesta sexta-feira (28) em coletiva de imprensa que o noticiário e as mensagens de "respeitados líderes de Estados" contribuem para criar um temor não justificado de uma guerra com a Rússia e que esse cenário prejudica seu país.

"A imagem que a imprensa cria é que temos tropas nas estradas, temos mobilização, as pessoas estão saindo para os lugares. Não é o caso. Não precisamos desse pânico", disse o político ucraniano. "Há sinais até mesmo de respeitados líderes de estados, eles apenas dizem que amanhã haverá guerra. Isso é pânico - quanto custa para o nosso estado?"

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, chegou a afirmar na semana passada que tem um "palpite" de que a Rússia invadirá a Ucrânia. Zelensky e Biden conversaram por telefone na quinta-feira (28) e a Casa Branca afirmou em nota que Washington destacou a "prontidão dos Estados Unidos, juntamente com seus aliados e parceiros, para reagir de maneira decisiva se a Rússia invadir a Ucrânia”.

Na coletiva, Zelensky disse que não descarta uma guerra, mas destacou que movimentações militares russas já aconteceram no passado.“Não considero a situação agora mais tensa do que antes”, disse o presidente ucraniano antes de complementar: “Não estou dizendo que uma escalada não seja possível”.

Zelensky afirmou que a Ucrânia precisa de US$ 4 bilhões a US$ 5 bilhões para estabilizar sua economia e que cerca de US$ 450 milhões deixaram o país como resultado das notícias negativas e o "pânico" de um conflito militar.

Posição russa 

Na manhã de sexta (28), antes da coletiva de Zelinsky, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, falou a meios de comunicação russos. Ele destacou como era importante fazer o governo de Kiev cumprir os acordos de Minsk. 

Estes acordos, assinados em 2014 e 2015, previam um cessar-fogo e retirada de armas da linha de contato russo-ucraniana. Outro ponto era uma reforma constitucional na Ucrânia que descentralizaria o poder e garantiria às regiões de Donetsk e Lugansk um status de autonomia especial. Kiev se recusa a cumprir a parte política prevista pelos acordos.

Lavrov também acusou os EUA de usarem Zelensky e seu regime em esforços russofóbicos para aumentar as tensões na Ucrânia. 

"O principal objetivo de Washington neste caso não é o destino da Ucrânia - é importante para eles aumentar a tensão em torno da Federação Russa para fechar este tópico e depois lidar com a China, como os próprios cientistas políticos americanos escrevem", disse o diplomata.

Ao mesmo tempo, Lavrov disse que Moscou está pronta para discutir a normalização das relações com o presidente ucraniano, mas não em relação a Donbass, considerando que este é um tema interno ucraniano.

Zelensky rebateu este ponto na sua coletiva à tarde, já que Donbass é uma região a leste no território ucraniano com forte presença de grupos separatistas pró-Rússia.

*colaboração de Serguei Monin

Edição: Arturo Hartmann