GUERRA DE BRAÇO

Venezuela pode estar mais perto de vencer bloqueio, diz vice-ministro

Reconhecimento da ONU, isolamento de Guaidó e normalização da vida política e econômica sugerem cenário positivo

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

Ouça o áudio:

Enquanto chavismo celebra outra vitoria eleitoral e o reconhecimento da ONU, oposição de divide entre denúncias de corrupção - Jhon Zerpa / AFP

A Venezuela caminha para a normalização da vida política e econômica quase três anos após a autoproclamação como presidente do opositor Juan Guaidó. Em novembro, o país registrou 6% de inflação - o menor índice dos últimos cinco anos. A expectativa é que o país finalize 2021 com um crescimento econômico entre 4% e 5%, impulsionado principalmente pela reativação da indústria petroleira, com a produção de 756 mil barris por dia - muito distante dos 2,3 milhões de barris diários que o país chegou a produzir durante a gestão de Hugo Chávez, mas que representa o dobro da produção de 2018.

Além disso, a última votação da Assembleia Geral das Nações Unidas que referendou a legitimidade do governo de Nicolás Maduro seria mais um sinal de que 2022 promete um cenário favorável. 

:: O que está acontecendo na Venezuela? Veja cobertura completa :: 

Enquanto em 2019, mais de 60 países reconheciam Guaidó como autoridade legítima da Venezuela, agora somente 16 nações votaram contra o corpo diplomático nomeado por Maduro para representar seu país nas Nações Unidas, entre eles, os Estados Unidos e o Brasil.

Leia também: União Europeia deixa de reconhecer Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela

"Coloca em evidência a situação patética da política exterior dos Estados Unidos e destes outros países que se atrevem a dizer que na Venezuela não existe um governo legitimamente eleito", critica o vice-ministro para políticas anti-bloqueio, William Castillo. 

Além da perda de apoio internacional, dentro da própria oposição Guaidó parece ter perdido espaço. Após a declarar a falência da Monómeros, petroquímica venezuelana na Colômbia, começaram a surgir as divisões internas do chamado "governo interino", com uma série de denúncias de corrupção no gerenciamento da empresa. 

:: Guaidó é acusado de pedir desbloqueio de US$ 53 milhões aos EUA para governo paralelo ::

O último racha foi do suposto chanceler nomeado pelo autoproclamado presidente, Júlio Borges, do partido Primeiro Justiça, que renunciou ao cargo e acusou Guaidó e seu braço-direito, Leopoldo López, de usar dinheiro da empresa para fins pessoais. A próxima data decisiva para o "interinato" seria 5 de janeiro de 2022, quando completam três anos da autoproclamação. 

"A normalização política do país deixa em evidência de que se tratou de um plano desenhado para derrotar um governo, que fracassou, e agora ninguém quer assumir responsabilidades. Na hora de saltar do Titanic estão desesperados buscando seus salva-vidas. Os quatro partidos do chamado G4 são responsáveis pelo roubo dos ativos públicos. Todos, absolutamente todos", analisa Castillo.

O chamado G4 é composto pelo Vontade Popular, de Guaidó e López, Primeiro Justiça, de Henrique Capriles e Júlio Borges, Um Novo Tempo e o tradicional Ação Democrática, que governou o país durante 40 anos, antes da ascensão do chavismo. Os quatro maiores partidos de oposição controlaram os espaços do governo paralelo de Guaidó e, pela primeira vez em seis anos, participaram do último processo eleitoral, no dia 21 de novembro. 

Saiba mais: Quem é a oposição ao governo de Nicolás Maduro na Venezuela?

Apesar da decomposição da gestão interina, os opositores ainda controlam empresas da Venezuela no exterior e têm acesso a contas na Europa e nos Estados Unidos com dinheiro público venezuelano. 

Na última terça-feira (14), o Controlador Geral da Venezuela, Elvis Amoroso, voltou a denunciar o que considera o roubo dos bens públicos venezuelanos, durante a 9ª Conferência contra a Corrupção da ONU. 

A Venezuela reclama fundos bloqueado em contas do CityBank, nos Estados Unidos, no Novo Banco de Portugal, além de 31 toneladas de ouro no Banco da Inglaterra. 

"Creio que são processos que tomarão tempo, afinal são processos que judicializaram uma questão política. São casos com certa complexidade jurídica, mas esse reconhecimento [da ONU] a Venezuela irá utilizar tanto na Corte Penal, no processo contra os EUA, como nos julgamentos em curso em várias partes do mundo para recuperar nossos ativos", destaca o vice-ministro William Castillo.

Edição: Thales Schmidt