Genocídio

Violência policial interrompe futuro e sonhos de jovens no Paraná

Casos estão sob sigilo de investigação, famílias de Curitiba (PR) pedem justiça

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Capital do Paraná tem série de assassinatos de jovens pelas forças de segurança pública - Foto: Giorgia Prates

Os jovens Eduardo Felipe e Mateus Noga tinham a vida inteira pela frente, porém a violência policial interrompeu seus sonhos. Morreram com tiros da polícia paranaense em 2021. Ambos são casos de violência policial ocorridos só neste ano, em Curitiba, e que estão sob sigilo de investigação e aguardam julgamento.

No caso de Mateus, ele estava no domingo, 12/9, no Largo da Ordem, centro de Curitiba. Numa ação da Guarda Municipal para “dispersar aglomeração”, morreu, aos 22 anos, no momento em que estava celebrando com amigos ter tirado sua carteira de motorista. Foram mais de nove tiros de arma letal. Segundo informações da advogada do caso, Eliana Faustino, o inquérito está em segredo de justiça.

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O tio de Mateus, Nivaldo Noga, disse que, além da saudade, o fato trouxe angústia para família, que pede que os culpados sejam punidos. “Não há, neste mundo, o que possa dimensionar o quanto a família toda sofre e está angustiada. O tamanho da dor fica maior quando sabemos que quem matou Mateus é quem deveria proteger jovens como ele. A família espera justiça, para que ninguém mais sofra o que estamos sofrendo”, afirmou.

Nivaldo estava no local quando tudo aconteceu. “Estava perto da Igreja e, num dado momento, vi um casal brigando. Muitas pessoas foram tentar apaziguar. Uma viatura da Guarda Municipal parou e policiais desceram com cassetetes na mão. Houve uma dispersão voluntária das pessoas. Porém, um terceiro policial começou a detonar balas, que achei que eram de borracha. Mas eram de calibre 12. Com certeza, as câmeras do local registraram tudo”, contou.

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Já Eduardo Felipe Santos de Oliveira, 16 anos, foi morto por policiais militares das Rondas Ostensivas Tático Móvel (Rotam), na noite de sábado, 6/11, na Comunidade Portelinha, no bairro Portão. Segundo relatos, o adolescente teria sido executado com mais de 15 tiros dentro da casa de uma amiga.

Eduardo estaria sentado na porta quando policiais da Rotam se aproximaram. Nesse momento, o adolescente teria se assustado e entrado. Ele trabalhava com reciclagem e, eventualmente, como ajudante de pedreiro.

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Manifestação na comunidade Portelinha, em Curitiba (PR) / Giorgia Prates

Dois dias depois do assassinato, a Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) encaminhou pedido de explicações à Secretaria de Segurança Pública (Sesp-PR) sobre a morte. Na justificativa do requerimento, a necessidade de obter informações sobre o "possível uso irregular de força policial".

Jaqueline Santos de Oliveira, irmã de Eduardo, disse que a ação da polícia buscava alguém envolvido em uma briga. “Acho que pegaram ele porque ele correu. Mas podiam ter levado para interrogar. Mas, não, atiraram para matar”, disse. “Eduardo era trabalhador, de coração bom. Meu irmão não era bandido para morrer da forma como morreu. Quero justiça porque sei que ele não será o último a morrer assim”, disse.

Policiais absolvidos

As famílias esperam justiça. Este, porém, não foi o desfecho do julgamento das mortes de Gustavo Bueno de Almeida, 14 anos, Felipe Bueno de Almeida, 16 anos, Eduardo Damas, 20 anos, e Elias Leandro Pinto, 17 anos, jovens moradores do bairro Parolin. Eles foram baleados numa perseguição policial em 2019. Sem júri popular, em 5 de outubro de 2021, os policiais envolvidos foram absolvidos.

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A acusação apontava para a ausência de confronto, visto que não havia marcas de bala na viatura dos policiais e imagens de câmeras de segurança da região apontavam para execução sumária. Mesmo assim o Ministério Público pediu a absolvição dos PMs e o juiz Daniel Surdi de Avelar concordou.

Fonte: BdF Paraná

Edição: Frédi Vasconcelos e Lia Bianchini