Genocídio

'Todos são terroristas': oficiais denunciam ordens do Exército de Israel para matar mulheres e crianças em Gaza

Soldados disseram ao jornal Haaretz que receberam ordens para abrir fogo contra “qualquer um que entrasse” em Netzarim

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Palestinos aguardam por uma porção de comida em um centro de distribuição em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, em 17 de dezembro de 2024
Palestinos aguardam por uma porção de comida em um centro de distribuição em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, em 17 de dezembro de 2024 - Bashar Taleb / AFP

O Haaretz, importante jornal israelense, descreveu assassinatos indiscriminados de civis palestinos no Corredor Netzarim do território com autorização do comando do Exército de Israel. Diário considerado progressista em israel, o Haaretz tem enfrentado severas críticas do governo de extrema direita do primeiro ministro Benjamin Netanyahu.

Na reportagem soldados, oficiais  de carreira e reservistas não identificados disseram que os comandantes israelenses ordenaram ou permitiram o assassinato de mulheres, crianças e homens desarmados no Corredor Netzarim, uma faixa de terra de sete quilômetros de largura que corta Gaza de Israel até o Mediterrâneo e que foi transformada em uma zona militar.

Os soldados disseram ao Haaretz que receberam ordens para abrir fogo contra “qualquer um que entrasse” em Netzarim.“Qualquer um que cruzar a linha é um terrorista - sem exceções, sem civis. Todos são terroristas”, disse um soldado citando o comandante de um batalhão.

Um oficial citado pela reportagem narra um incidente em que um comandante anunciou que 200 militantes haviam sido mortos, quando na verdade “apenas 10 foram confirmados como agentes conhecidos do Hamas”

Os soldados também descreveram como os comandantes de divisão receberam “poderes ampliados” que lhes permitiram bombardear prédios ou lançar ataques aéreos que antes exigiam a aprovação dos escalões superiores do exército.

As alegações contidas na reportagem do Haaretz não puderam ser verificadas de forma independente. 

A reportagem disse que os soldados israelenses falaram com o jornal para que o “povo israelense saiba como essa guerra realmente é e quão graves são os atos que alguns comandantes e combatentes estão cometendo dentro de Gaza”. “Eles precisam conhecer as cenas desumanas que estamos testemunhando”. 

O grupo militante palestino Hamas se manifestou sobre a reportagem dizendo que os testemunhos ofereceram “novas evidências de crimes de guerra sem precedentes e operações de limpeza étnica de pleno direito, realizadas de forma organizada” e exigiu que as Nações Unidas e o Tribunal Internacional de Justiça “documentassem esses testemunhos e tomassem as medidas necessárias para interromper o genocídio em curso na Faixa de Gaza”. “Qualquer afirmação em contrário é totalmente infundada.” 

Mais de 45 mil pessoas foram mortas e 106.962 ficaram mutiladas e feridas em ataques israelenses em Gaza desde 7 de outubro de 2023, segundo o Ministério da Saúde do enclave. 

'Não há inocentes em Gaza'

Muitos soldados que falaram com o Haaretz apontaram para um comandante específico, o general de brigada Yehuda Vach, que no verão passado assumiu o comando da Divisão 252, que estava sediada em Netzarim. 

Um dos soldados disse sobre Vach - que nasceu no assentamento de Kiryat Arba, na Cisjordânia ocupada - que “sua visão de mundo e suas posições políticas estavam claramente orientando suas decisões operacionais”. Moradores dos assentamentos judaicos ilegais em terras palestinas são geralmente ideologicamente radicalizados. Outro soldado disse que Vach havia declarado que “não há inocentes em Gaza”. 

Os militares disseram à AFP que as “declarações atribuídas a ele... não foram feitas por ele”. 

Em uma declaração à AFP nesta sexta-feira (20), os militares rejeitaram as acusações. “Todas as atividades e operações conduzidas pelas forças (do exército israelense) na Faixa de Gaza, inclusive no Corredor Netzarim, são realizadas de acordo com procedimentos de combate estruturados, planos e ordens operacionais aprovados pelos mais altos escalões do (exército)”, disse. 

Os militares acrescentaram que “todos os ataques na área (de Netzarim) são realizados de acordo com os procedimentos e protocolos obrigatórios, incluindo alvos que são atingidos em um período de tempo urgente devido a circunstâncias operacionais essenciais em que as forças terrestres enfrentam ameaças imediatas”. 

 

*Com AFP

Edição: Leandro Melito