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O mundo de olho nas metas dos EUA na COP26

Compromissos das maiores economias do mundo são essenciais para enfrentar a emergência climática

Brasil de Fato | Los Angeles (EUA) |

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Incêndios florestais, como o da foto, atingem a região da Califórnia, nos EUA. - Josh Edelson / AFP

Metrôs alagados em Nova York, tempestades de areia em cidades paulistas e um mundo inteiro desequilibrado: a mudança climática já não pode mais ser conjugada no futuro, porque seus efeitos estão mais presentes que nunca. Alguns deles, inclusive, recheiam a COP26, a Conferência do Clima organizada pelas Nações Unidas, que neste ano acontece a partir do dia 31 de outubro, em Edimburgo, na Escócia. 

A conferência vai expor os dados alarmantes coletados pela ONU, que calcula que mais de 30 milhões de pessoas foram deslocadas no mundo por conta de catástrofes ambientais. 

"Quem mais sofre são pessoas que vivem em comunidades com poucos recursos, que não conseguem se adaptar às mudanças climáticas e suas consequências", disse ao Brasil de Fato a especialista Thelma Briseno, Diretora do Programa de Energia e Água da organização Climate Resolve.

Para Briseno, os líderes mundiais precisam assumir compromissos mais arriscados quanto às metas climáticas, e é impossível dar qualquer passo além sem olhar para as fontes energéticas. "As emissões de carbono são a razão número um para o aquecimento global e reduzir essa emissão é a tarefa mais urgente agora. Infelizmente, não estamos caminhando bem nesse sentido", disse.

Apesar de todo o esforço estrutural, os Estados Unidos ainda dependem muito de fontes não-renováveis. Quase 70% de sua energia provém de combustíveis como petróleo e gás natural, e apenas 12% vem de fontes renováveis. "Ainda há muito o que ser feito, mas é preciso comprometimento", afirma mais uma vez a especialista.

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Quando entrou no Acordo de Paris, em 2015, os Estados Unidos assumiram a responsabilidade de cortar pela metade suas emissões até 2035, mas essa meta foi alterada durante a gestão de Donald Trump, que deixou o acordo em nome do "progresso".

Com a saída do republicano da Casa Branca, o novo presidente Joe Biden reinseriu o país no tratado ambiental e prometeu seguir as diretrizes acordadas, e seu discurso é um dos mais aguardados na Escócia.

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"Claro que o ideal seria o comprometimento com a emissão zero, mas acho que é inverossímil pensar nisso neste ano, sobretudo por conta do ambiente político", declara Briseno, "mas acho que o governo federal está atento às pautas do clima e vão colocar as peças em movimento para que nos afastemos cada vez mais da energia fóssil". 

De fato, a estratégia de Biden, junto à sua equipe, é investir em empregos e lideranças que trabalhem em áreas relacionadas a fontes renováveis de energia, mas só os Estados Unidos não seriam capazes de mudar a balança do mundo.

Segundo a ONU, para que consigamos causar o impacto esperado, é imprescindível que a comunidade internacional reduza, coletivamente, 40% de sua emissão de gases poluentes na próxima década.

"É uma meta bastante ousada, mas não impossível. Acho que tudo começa a andar quando as grandes potências mundiais aderirem a esse pacto", conclui Briseno.

O grande desafio rumo a um futuro mais verde é justamente a questão do desenvolvimento econômico. Países como a China, que é hoje o maior poluidor do mundo, estipulam metas muito conservadoras pensando em suas indústrias e no custo que seria adaptá-las. Na ânsia de não ser deixado para trás, outros países adotam posturas semelhantes – daí a necessidade do diálogo entre os líderes.

"A janela para que possamos reverter os impactos climáticos está se fechando", alertou o secretário-geral da ONU, António Guterres, em fala pública na última semana.

Enquanto as principais nações do mundo destacam seus líderes para o que pode ser o encontro mais importante do ano, o Brasil vai apenas enviar uma comissão. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) está na Itália e não deverá pisar em terras escocesas. Da mesma forma, o vice-presidente foi vetado de participar do evento.

Edição: Thales Schmidt