O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ministro Paulo Guedes (Economia) concederam a segunda entrevista coletiva em três dias neste domingo (24). Os dois já haviam convocado a imprensa na última sexta-feira (22) em tentativa de negar as notícias sobre uma suposta demissão de Guedes após uma debandada no Ministério da Economia.
A entrevista deste domingo foi feita após a visita do chefe do Executivo a uma feira de expositores de passarinhos no Parque de Exposições da Granja do Torto, onde mora o chefe da Economia. Assim que Bolsonaro saiu do pavilhão onde ocorre o evento, encontrou Guedes e se dirigiu aos jornalistas que estavam presentes no local. É incomum que Bolsonaro atenda a imprensa, principalmente aos finais de semana.
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Durante pouco mais de 20 minutos, os dois comentaram a alta no preço dos combustíveis e as alterações na regra do Teto de Gastos para viabilizar o Auxílio Brasil, programa social que o governo Bolsonaro pretende implementar.
O presidente e o ministro trocaram afagos, fizeram elogios um ao outro e desferiram ataques a dois possíveis candidatos à Presidência da República em 2022, o ex-presidente Lula (PT) e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
“A gente vai sair junto, fica tranquilo. Bem lá na frente”, disse Bolsonaro. "Eu conheci o Paulo Guedes praticamente um ano antes da eleição. Deposito total confiança nele. Trabalho excepcional em 2019 e principalmente em 2020", elogiou o chefe do Executivo.
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Acuado pelas saídas de integrantes da equipe econômica e pelas acusações de que mantém uma offshore no exterior, revelada pelas reportagens do Pandora Papers, Guedes foi duro nas críticas a Lula e Pacheco. Segundo ele, o petista "quebrou o Brasil" e o mineiro "precisa ajudar com as reformas".
"A história de que o Brasil não vai crescer é narrativa política. Já está crescendo este ano e vai crescer mais no ano que vem. O presidente sempre apoiou as reformas. É um político popular, mas está deixando a economia ser reformista. Ele não é populista. Tem muito populista aí, inclusive candidato à Presidência, falando em R$ 600, R$ 700, R$ 800", disse.
"Eles quebraram o Brasil e não taxaram os super-ricos. Quebraram o Brasil e não fizeram nada sobre essa roubalheira", afirmou Guedes, em referência ao valor defendido por Lula para o auxílio aos mais pobres na última semana. Ele também tentou atribuir a Pacheco a responsabilidade por reformas propostas pelo governo, com a administrativa, não avançarem.
"[Pacheco] Se lança [candidato a] presidente da República agora. Como vai defender a própria candidatura dele se não avançar com as reformas? Não pode fazer militância também, e tenho certeza que não vai fazer", pressionou Guedes.
"Se ele [Pacheco] quiser inclusive se viabilizar politicamente como uma alternativa séria precisa nos ajudar com as reformas. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP) quer avançar, e precisamos que o Senado ajude também", disse Guedes.
Durante a entrevista, Bolsonaro e Guedes ainda comentaram o preço dos combustíveis e a alteração na regra do Teto de Gastos. O presidente disse que não vai interferir no valor da gasolina e que vai conversar com o ministro sobre possíveis alternativas. Guedes, por sua vez, disse que defende o teto, apesar de ter corroborado as mudanças nas regras da medida.
DEBANDADA
O Ministério da Economia, liderado por Paulo Guedes, sofreu uma debandada na noite da última quinta-feira (21). Quatro integrantes do segundo escalão pediram exoneração: Bruno Funchal, secretário especial do Tesouro e Orçamento; Jeferson Bittencourt, secretário do Tesouro Nacional; Gildenora Dantas, secretária especial adjunta do Tesouro e Orçamento; Rafael Araújo, secretário-adjunto do Tesouro Nacional.
Os pedidos de demissão ocorreram horas após uma declaração de Guedes, sinalizando a intenção do governo Jair Bolsonaro (sem partido) de “ser reformista e popular” e a necessidade de uma “licença” para furar o chamado “Teto de Gastos”.
Aprovado pelo Congresso e promulgado em dezembro de 2016, a regra do Teto de Gastos congelou investimentos em áreas sociais por 20 anos, por meio da Emenda Constitucional (EC) 95. Desde então, o aumento dos gastos públicos está limitado à variação da inflação.
Edição: Arturo Hartmann