Reportagem produzida para o programa Radinho BdF sobre a realidade de crianças refugiadas no Brasil ganhou menção honrosa na edição deste ano do Prêmio Vladimir Herzog.
A matéria Crianças refugiadas discutem no Radinho BdF o direito de migrar joga luz sobre os desafios das trajetórias desses pequenos e pequenas. Com relatos das próprias crianças, a atração trouxe experiências e vivências a partir do ponto de vista único da infância.
A jornalista Camila Salmazio, que apresenta o programa, afirma que a escolha se deu pela necessidade de ouvir mais as vozes desse público, uma parte considerável dos grupos que vivenciam a realidade do refúgio.
"As crianças refugiadas são uma parcela muito grande nesses deslocamentos forçados, mas mesmo assim elas não são muito ouvidas. Quando a gente encontra o reconhecimento de um trabalho assim, é com certeza um momento de felicidade, de gás para trabalhar e de muita comemoração para todos nós aqui do Brasil de Fato", diz.
Sarah Fernandes, jornalista e produtora do Radinho, pontua que a abordagem cuidadosa da temática delicada mostra que o diálogo com o público infanto-juvenil é viável. "A gente precisou conversar com crianças que passaram por uma situação de violação de direitos. Fica a comprovação de que é possível conversar com as crianças sobre esses temas, respeitando o direito e a individualidade delas."
O programa
Para Camila Salmazio, a proposta do Radinho ainda não encontra muitos pares na produção brasileira, uma lacuna que precisa ser preenchida.
Segundo a jornalista é necessário buscar projetos que entendam crianças e adolescentes como sujeitos com direito a receber conteúdo jornalístico adequado, "não pensando só que eles são nossos futuros leitores e ouvintes, mas eles são presente também".
No ar desde abril de 2020, o Radinho nasceu com a proposta de garantir conteúdo de qualidade em meio à necessidade de isolamento social por causa da pandemia do coronavírus. Voltado para toda a família, ele trata de temas importantes e que costumam ser abordados apenas da perspectiva adulta.
Responsável pela parte técnica do programa, a editora e sonoplasta Lua Gatinone afirma que receber a menção honrosa representa um movimento de realização pessoal e profissional. "Estou muito feliz como mãe, porque eu acredito muito nesse projeto."
Atuando em uma área predominantemente masculina, ela também cita a importância do reconhecimento de uma atração que só tem mulheres na equipe. "A gente tem pouco espaço e eu acredito que esse tipo de reconhecimento é importante para que outras mulheres se interessem, vejam que é possível e que tem espaço".
:: Radinho BdF: jornalismo também pode (e deve) ser coisa de criança ::
A produtora Sarah ressalta a avaliação positiva feita pelo juri do Prêmio ao Radinho BdF. "O Radinho foi muito reconhecido pelo formato inovador, por ser um podcast pensado e produzido para crianças e com crianças", diz ela.
"Essa foi a primeira vez que um programa voltado para o público infanto-juvenil ganha destaque no prêmio. Isso passa um recado importante, mostra que a construção do futuro depende de a gente incluir todo mundo nos debates."
O Radinho BdF vai ao ar às quartas-feiras, das 9h às 9h30 na Rádio Brasil de Fato e na Rádio Brasil Atual (98,9 FM na Grande São Paulo). Todos os episódios estão disponíveis para ouvir e baixar de forma gratuita para rádios comunitárias, rádios poste e outras emissoras que manifestarem interesse em veicular o conteúdo.
Sobre o prêmio
O Prêmio Vladimir Herzog existe desde 1979 e é concedido a trabalhos jornalísticos que valorizam a democracia e os direitos humanos. Em 2021, foram 700 projetos inscritos. O Radinho BdF concorreu com produções dos veículos O Joio e o Trigo, Folha de S. Paulo e Rádio Novelo.
Vencedora da categoria, a reportagem O prato do preso (O Joio e o Trigo, abril de 2021), analisa o impacto dos alimentos servidos nas cadeias para a saúde de detentos e detentas e para toda a sociedade.
A cerimônia de premiação do Prêmio Vladimir Herzog está marcada para 24 de outubro pela internet.
Edição: Leandro Melito