O Instituto Cultural Padre Josimo tem atuado em duas frentes em suas campanhas de solidariedade que buscam o enfrentamento da grave crise social em que o Brasil está inserido e, de modo particular, à fome a que cada dia mais brasileiros e brasileiras estão submetidos.
As ações, que iniciaram pela região da Campanha gaúcha, foram estendidas até localidades no extremo sul e Centro do estado, bem como até comunidades indígenas no Mato Grosso do Sul.
Até o momento, mais de 11 toneladas de alimentos foram levadas até comunidades periféricas, aldeamentos indígenas, quilombos, colônias de pescadores, desempregados, sem-teto e organizações sociais. Também foram entregues material de higiene, remédios caseiros e informativos.
O desafio que se renova diariamente é garantir um mínimo de dignidade a centenas de famílias que convivem no período da pandemia e da crise econômica com o risco social e alimentar.
O primeiro foco de ação é a partilha de alimentos com as pessoas mais necessitadas, para que se garantam condições de sobrevivência com dignidade.
As ações têm sido continuadas e, para além do próprio ICPJ, contam com apoio de organizações como a Cáritas, a Rede de Comunidades Santo Isidoro, Comissão Pastoral da Terra, Diocese de Bagé, MPA, MST, cooperativas camponesas e voluntários que contribuem anonimamente.
"O que temos aqui são famílias camponesas, pequenos agricultores, assentados da reforma agrária, que não aceitam passivamente ver seus irmãos e irmãs passando por necessidade, sentindo fome, frio, e resolveram iniciar ações de solidariedade e partilha, dividindo muitas vezes o pouco que tem com aqueles que por sua vez tem menos ainda ou mesmo não tem nada", explica o frei capuchinho Wilson Zanatta, que atua na coordenação das ações de mobilização social, arrecadação de mantimentos e distribuição.
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O segundo foco diz respeito a garantir aos camponeses, quilombolas e indígenas o acesso a sementes crioulas, para que se fomente a produção de alimentos.
"Com a omissão dos governos estadual e federal em atender as necessidades mais básicas dos pequenos agricultores – vide a resistência em implementar a Lei Assis Carvalho -, se faz necessária a articulação de ações como essas para viabilizar a produção de alimentos que de fato cheguem até as mesas dos trabalhadores, trabalhadoras, famílias necessitadas e comunidades tradicionais”, explica Frei Sérgio Görgen, coordenador do ICPJ.
“O drama da fome não exige apenas ações imediatas, mas ações estratégicas que apontem para a produção de alimentos que levem à superação das causas da fome”, aponta Görgen.
Para viabilizar essa ação, é estratégica a parceria com o programa de Sementes Crioulas do MPA, desenvolvido pela Cooperfumos e Instituto Cultural Padre Josimo, em parceria com a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o Conselho Indigenista Missionário (Cimi).
Isto garantiu o acesso a sementes crioulas de milho, feijão, hortaliças, ramas de mandioca e mudas frutíferas para 32 aldeias indígenas Guaranis e Kaingangs e 28 comunidades quilombolas no RS e, com apoio da Anac e Bizilur, chegando também a 10 comunidades Guaranis Kayowás do MS.
A solidariedade é uma forma ativa de resistência
"Infelizmente as decisões equivocadas do campo político conduziram o Brasil de volta ao mapa da fome, uma realidade que cada um pode notar olhando com cuidado ao seu redor e exercitando sua empatia com seus próximos mais necessitados. Nessa hora devemos arregaçar as mãos e nos colocar a serviço do próximo, tanto no que diz respeito a manter as ações de resistência, quanto em buscar sanar as necessidades imediatas destes irmãos necessitados", friza Frei Zanatta.
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"Ficamos muito tristes quando começamos a ver que muitas famílias já estavam sem ter o que comer, isso nos emocionava, mas não bastava só se emocionar, era preciso fazer algo", conta Arlete Pinto Zorzzi, cuja família é assentada da reforma agrária em Hulha Negra.
“Lembramos quando chegamos aqui na região há 30 anos e não tínhamos nada, como era bom quando mãos solidárias se estendiam em nossa direção e nos alcançavam alimentos para compartilhar. O tempo passou e hoje somos abençoados por ter os meios de produzir alimentos a partir da terra por que tanto lutamos e o justo é que nos mobilizemos para ajudar essas pessoas que estão passando fome agora”, completou.
Bispo de Bagé, Dom Frei Cleonir Dal Bosco também comentou a iniciativa: “A grande desigualdade que impera na sociedade atual exige atitudes e ações de amor e compaixão. Um caminho para salvar e promover a vida é a solidariedade”.
Para ele, a atitude que vem sendo tomada pelo conjunto de apoiadores dos projetos do ICPJ, arrecadando toneladas de alimentos em prol das famílias assistidas pela Ação Social Diocesana, é uma prática louvável.
“Gestos como esses revelam que é possível construir um mundo mais humano, fraterno e justo. Rogo a Deus que nunca falte o alimento na mesa de cada família e que, todo gesto de amor e solidariedade com os mais pobres e necessitados, sejam recompensados com muitas graças e bênçãos”, completou.
Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Marcelo Ferreira