LUTA GLOBAL

Via campesina comemora 25 anos de resistência em defesa da soberania alimentar

Representantes de diversos movimentos presentes em mais de 80 países participaram de reunião virtual comemorativa

Brasil de Fato| Recife (PE) |

Ouça o áudio:

A Via Campesina acredita que seu papel, como movimento camponês internacional, vai para além da produção de alimentos - Foto: Leandro Molina

As organizações que formam a Via Campesina Internacional comemoraram, neste sábado (16), os 25 anos de luta global pela soberania alimentar. O encontro, realizado de forma virtual, reuniu diversas lideranças camponesas, da pesca em pequena escala, de comunidades tradicionais e de diversos setores da sociedade, para fazer um breve histórico do trabalho feito nestas últimas décadas. Além disso, colheram posicionamentos e ideias para traçar um planejamento para as futuras atividades.

Foi a Via Campesina que cunhou o princípio da "soberania alimentar", em 1996, durante a Cúpula Mundial sobre a Alimentação realizada em Roma pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), com o objetivo de superar o conceito de "segurança alimentar" promovido pelos governos e que, no entendimento dos movimentos camponeses, favorece mais os interesses do agronegócio do que o dos povos.

Na atividade deste sábado, as entidades destacaram a urgência de combater a fome e garantir a soberania alimentar de forma igualitária para todas as sociedades.  

O foco das atividades da Via Campesina é fortalecer, no mundo, a luta contra agronegócio e o modelo industrial alimentar, marcados pela exploração dos recursos naturais e dos trabalhadores e trabalhadoras.

Esta combinação predatória, na visão dos movimentos, é responsável pela disseminação "da fome, pobreza, discriminação, migração nos países do Sul Global, mas também nos países centrais". 

A Via Campesina também divulgou um manifesto neste sábado (16), em defesa da soberania alimentar, definindo-a como "filosofia de vida e proposta política atual e concreta diante da crise alimentar, social e ambiental que o mundo vive". Além da importância da função de produzir alimentos, o movimento internacional afirma no documento que deve "também garantir alimentos saudáveis e sem venenos que garantam a saúde e a vida da humanidade e da natureza. Gerar relações justas entre produtores, consumidores e meio ambiente, com políticas públicas e direitos claros para quem produz e alimenta, como contemplado na Declaração da ONU sobre os Direitos dos Camponeses". 

"Todos os povos do mundo têm o direito de alimentar-se. Isto é uma condição para a sobrevivência humana. A ONU, a FAO, todos os organismos internacionais reconhecem os alimentos como um direito para todas as pessoas, de qualquer parte do planeta. Entretanto, há milhões de pessoas que passam fome todos os dias", provocou João Pedro Stedile, da Assembleia Internacional dos Povos e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). 

Outra liderança a falar no encontro foi Elizabeth Mpofu, pequena agricultora do Zimbábue e integrante da Via Campesina, que apontou a importância de investir na transmissão de conhecimento para as novas gerações. 

"Vamos continuar a trocar as nossas experiências de apoio a soberania alimentar para que as gerações futuras tenham uma base de conhecimento para continuar construindo sociedades melhores. Nós continuaremos lutando. Queremos soberania alimentar agora. Vamos usar este espaço para construir a soberania alimentar. Globalizemos a luta, globalizemos a esperança", finalizou Mpofu com a já histórica palavra de ordem do movimento internacional.

Fome em escala mundial

A Via Campesina se propõe como tarefas, o combate à fome e a garantia da soberania alimentar em nível internacional. Não só no Brasil são graves os dados sobre insegurança alimentar. Relatório das Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) aponta que, em 2020, 30% da população mundial, cerca de 2,3 bilhões de pessoas, não teve acesso a alimentação adequada. Para o mesmo período, o relatório revelou que 12% da população mundial, 928 milhões de pessoas, estava em situação de grave insegurança alimentar, 148 milhões a mais do que em 2019.

O debate sobre os 25 anos de luta pela soberania alimentar fez parte da programação do Dia Internacional de Luta pela Soberania Alimentar, que contou com IV Encontro dos Movimentos Populares com o Papa e, no Brasil, com a Conferência contra a Fome, que reuniu movimentos populares para evidenciar o trabalho das campanhas de solidariedade no combate à fome.

Edição: Mauro Ramos