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Após 2 anos de administração de Guaidó, petroquímica venezuelana na Colômbia decreta falência

Caso Monómeros revela corrupção e cisões dentro da oposição venezuelana

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
Monómeros S.A é a segunda maior empresa venezuelana no exterior e está sob administração da oposição desde 2019 - Monómeros

Após sofrer intervenção da Superintendência de Sociedades, organismo vinculado ao Ministério de Comércio colombiano, a Monómeros S.A declarou falência no final de setembro. A petroquímica venezuelana com sede em Barranquilla, na Colômbia, é administrada desde 2019 por funcionários nomeados pelo autoproclamado presidente venezuelano Juan Guaidó. A oposição se divide para denunciar de quem seria a responsabilidade da má gestão. 

Em comunicado, a empresa declarou que iria utilizar o Decreto 560 de 2020 da legislação colombiana, destinado a apoiar empresas que foram afetadas pela pandemia, e iniciar negociações judiciais de pagamento de dívidas. Segundo os administradores isso não representaria a falência da empresa, apenas acessar um "plano de salvação e crescimento para garantir a proteção da empresa."

Três dias após declarar falência, a direção da Monómeros assinou um contrato com a empresa de fertilizantes Daabon Organics, propriedade da família Dávila Abondano, que é ligada a Alvaro Uribe, padrinho político do atual mandatário colombiano, Iván Duque.

Na última segunda-feira (5), Juan Guaidó anunciou que iria "corrigir denúncias e irregularidades da Monómeros" destituindo toda a junta diretiva e anunciando uma comissão de reestruturação.

Segundo a Câmara de Comércio da cidade de Barranquilla, a Monómeros representa 88% do setor de fertilizantes no departamento de Atlântico, abastece 50% do mercado nacional colombiano, emprega 1.400 pessoas e gera mais 900 postos de trabalho indiretos. A petroquímica produz cerca de 70% dos materiais necessários para o cultivo de café, batatas e palmeiras.

Em 2020, a Monómeros teve um lucro de US$ 32 bilhões (cerca de R$ 170 bilhões), valor 224% superior a 2019, e foi considerada a 8ª maior empresa da região caribenha colombiana.

Com o novo plano de salvação e o acordo assinado com a Daabon, a direção da Monómeros promete crescer 9% em 2022.

A administração de Nicolás Maduro afirma que não permitirá que a segunda maior empresa pública venezuelana no exterior seja tomada pela Colômbia. No entanto, na prática, Guaidó contiuna sendo considerado autoridade legítima para o Estado colombiano.

Toma lá, dá cá

As cisões dentro da oposição começaram a aparecer com a renúncia da então presidenta da Monómeros, Carmen Elisa Hernández, afirmando que estava em desacordo com o restante da direção da companhia.

Carmen Elisa era a única funcionária que se manteve no cargo de 2019 a 2021, indicada como aliada de Leopoldo López, braço direito de Guaidó. 

No entanto, após a Monómeros decretar que iria acessar o decreto de emergência do Estado colombiano, várias vozes da oposição passaram a denunciar novas irregularidades no manejo da petroquímica.

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"O grande responsável de tudo o que está acontecendo com a Monómeros se chama Leopoldo López, que politiza exageradamente com um sectarismo impressionante", afirma o ex-embaixador de Guaidó na Colômbia, Humberto Calderón Berti. Eke foi destituído em 2020 após denunciar desvio de dinheiro da ajuda humanitária na cidade fronteiriça de Cúcuta.

"Pela Monómeros desfilavam dezenas de dirigentes políticos da oposição pedindo favores, pretendendo fazer negócios com a empresa e isso eu vi desde o início", declarou Calderón Berti em entrevista a meios locais.

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O porta-voz do partido Primeiro Justiça e suposto chanceler do governo paralelo, Julio Borges, acusa Guaidó e seus partidários de malversar fundos e ainda disse que a perda da empresa é iminente.

Porém, o atual candidato de unidade da direita para a prefeitura de Caracas, Tomás Guanipa, (Primeiro Justiça) também atuou como representante do governo interino na Colômbia até o início da campanha eleitoral. 

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Em comunicado, o partido Primeiro Justiça afirma que "há mais de um ano informou sua preocupação pela gestão de ativos e empresas da República no exterior que não foram tomadas em consideração."

Em resposta, o partido de Guaidó, Vontade Popular, publicou um comunicado defendendo que "as decisões vinculadas aos ativos foram tomadas com a participação e acordo de todas as frações, com base em critérios de representatividade de todo o chamado G4". O G4 é o grupo dos quatro maiores partidos de oposição, que controlam o governo paralelo: Vontade Popular, Primeiro Justiça, Ação Democrática e Um Novo Tempo. 

Apesar da oposição ter assinado um acordo parcial na Mesa de Diálogo com governo que prevê a proteção dos bens públicos do país, o risco de perda da Monómeros parece cada vez mais real.

Edição: Thales Schmidt