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Oito mentiras e uma verdade contadas por Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU

Reportagem selecionou as principais informações falsas do pronunciamento do presidente brasileiro na manhã desta terça

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Bolsonaro foi obrigado a usar máscara nas dependências do prédio onde ocorre a Assembleia Geral - John Minchillo / POOL / AFP

"O Brasil mudou, e muito, depois que assumimos o governo, em janeiro de 2019". Essa foi uma das primeiras frases de Jair Bolsonaro (sem partido) em seu discurso na 76ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas. Trata-se de uma verdade incontestável, tanto por apoiadores quanto por opositores da atual gestão.

As informações verídicas, no entanto, pararam por aí. Especialistas ouvidos pelo Brasil de Fato após o pronunciamento desta terça-feira (21) afirmaram que o presidente mentiu "descaradamente" várias vezes na tribuna da ONU. 

A reportagem selecionou oito mentiras, sobre diferentes temas, na ordem em que foram citadas pelo presidente. Confira:

1. "Estamos há dois anos e oito meses sem qualquer caso concreto de corrupção"

Para além das "rachadinhas", amplamente divulgadas na imprensa, a CPI da Covid levantou inúmeros casos de corrupção envolvendo a cúpula do governo Bolsonaro. O relatório final da CPI será divulgado em breve, e incluirá fraudes no contrato da vacina indiana Covaxin, além de suspeitas de pagamento de propina.

O presidente, inclusive, é alvo de inquérito na Polícia Federal por tentar interferir nos trabalhos no Rio de Janeiro. Também houve denúncias de fraude e improbidade administrativa no Ministério do Meio Ambiente, que foram decisivos para a demissão do ministro Ricardo Salles, segundo analistas.

2. "Nosso banco de desenvolvimento era usado para financiar obras em países comunistas, sem garantias"

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) não financia governos e nem corporações desses países, mas apenas empresas brasileiras.

O financiamento, a construção de equipamentos e o desenvolvimento de serviços internos para serem adquiridos no exterior contribui para que o Brasil altere a sua lógica de inserção internacional.

O total de empréstimos destinados a financiar empresas para atuação no exterior é inferior a 2% do total de financiamentos do BNDES durante os governos do PT.

3. "O Brasil possui o maior programa de investimentos com a iniciativa privada de sua história"

O único processo de liquidação de uma empresa estatal iniciado pelo Ministério da Economia foi travado este mês pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que contesta o interesse público daquela decisão.

O nível de investimento estrangeiro no país, em 2020, recuou para os patamares do início do século, segundo a própria ONU.

4. "Nossa moderna e sustentável agricultura de baixo carbono alimenta mais de 1 bilhão de pessoas no mundo"

O agronegócio, a que o presidente se refere, baseado na produção de commodities para exportação, não alimenta sequer os brasileiros. Cerca de 70% da comida consumida pelas famílias do país é produzida pela agricultura familiar.

A sustentabilidade do agronegócio também não se verifica, uma vez que o modelo é conhecido pelo uso indiscriminado de agrotóxicos e pela grilagem. No governo Bolsonaro, foram aprovados 945 novos venenos em dois anos.

5. "Os recursos humanos e financeiros destinados ao fortalecimento dos órgãos ambientais foram dobrados"

Em abril, o governo aprovou corte de 24% no orçamento do meio ambiente para 2021 em relação ao ano passado, impactando diretamente na fiscalização. A verba disponível para o setor é a menor desde 2017.

6. "Na Amazônia, tivemos uma redução de 32% no desmatamento no mês de agosto, quando comparado a agosto do ano anterior"

Segundo a plataforma Imazon, houve aumento de 7% no período. É o mês de maior desmatamento na Amazônia desde 2012.

7. "Sempre defendi combater o vírus e o desemprego de forma simultânea"

Bolsonaro nunca incentivou a imunização, foi contrário às medidas de isolamento social, e seu governo só adquiriu vacinas e garantiu auxílio emergencial após pressão de opositores.

8. "No último dia 7 de setembro, milhões de brasileiros foram às ruas (...) na maior manifestação de nossa história"

Não há dados que sustentem essa informação. Segundo dados da Polícia Militar, os atos mais massivos da história recente do país foram realizados em 2016, contra a presidenta Dilma Rousseff (PT): cerca de 3,3 milhões de pessoas foram às ruas no mesmo dia.

No último dia 7, a maior manifestação ocorreu na Avenida Paulista, e reuniu 125 mil apoiadores de Bolsonaro.

Edição: Anelize Moreira