Único chefe de Estado do G-20 que não se vacinou, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro (sem partido) nunca incentivou a imunização e fez propaganda de medicamentos sem eficácia, como a cloroquina e a hidroxicloroquina. Mesmo assim, aproveitou o discurso na 76ª sessão da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) para valorizar os números da vacinação no Brasil.
Médico de família e integrante da Rede Nacional de Médicos e Médicas Populares (RNMMP), Aristóteles Cardona define o discurso do presidente brasileiro como "mentira descarada".
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Bolsonaro disse que sempre defendeu "combater o vírus e o desemprego com a mesma responsabilidade."
Para o presidente, “as medidas de lockdown deixaram um legado de inflação”, e pessoas foram "obrigadas a ficar em casa" por prefeitos e governadores.
"A política do governo federal era que o vírus se disseminasse o mais rápido possível, para que a gente pudesse atingir o que eles acreditavam que seria a 'imunidade de rebanho'", lembra Cardona.
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"Então, nunca houve defesa de combate ao vírus em nosso país", acrescenta.
Jair Bolsonaro valorizou os números da vacinação no Brasil, embora nunca tenha feito um pronunciamento incentivando os cidadãos a se imunizarem.
"Fiz tratamento inicial [contra a covid]. Nosso governo é contra a vacinação obrigatória", ressaltou o presidente.
Aristóteles Cardona diz que Bolsonaro citou dados de vacinação apenas entre a população adulta, para impressionar a audiência.
"A gente precisa fazer cálculos da população como um todo", adverte.
"O discurso se torna mentiroso porque, quem escuta de fora, pode até ter a impressão de que houve uma política ativa, por parte do governo, de compra de vacinas, imunização. E a gente sabe que nada disso aconteceu."
Sem eficácia
Sobre o "tratamento inicial", que teria sido feito por Bolsonaro, o médico de família faz uma crítica contundente:
"Se já era vergonhoso falar disso no ano passado, quando surgiram as primeiras notícias sobre o tema, agora é ainda pior. O mundo já sabe que esses medicamentos, como cloroquina, não são eficazes contra a covid. Abrir a boca para defender isso em 2021 é lamentável."
Com 591 mil óbitos, o Brasil é o segundo colocado no ranking mundial de mortes por covid, depois dos Estados Unidos, que somam mais de 673 mil óbitos.
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Até o momento, 38% da população brasileira está totalmente imunizada e cerca de 67% tomaram a primeira dose.
Edição: Vivian Virissimo