A Fiocruz, que é responsável pela produção da vacina AstraZeneca no Brasil, manteve a recomendação de 12 semanas para o intervalo entre aplicação das duas doses do imunizante. A decisão foi divulgada na terça-feira (13), em meio a um movimento em pelo menos oito estados do país para antecipar a aplicação da segunda dose da vacina.
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Durante os ensaios clínicos, no final do passado, o intervalo estudado foi de três semanas entre as doses. A recomendação inicial passada aos países foi de 28 dias. Mas, com o início das campanhas nacionais de imunização, a estratégia logo mudou.
Países começaram a prorrogar o intervalo, para até 12 semanas, com o objetivo de proteger o maior número de pessoas possível, até que os estoques de doses pudessem ser reforçados. A estratégia teve o aval da fabricante.
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Neste intervalo, a vacina mostrou eficácia superior a 80% em evitar infecções sintomáticas de covid-19. Contra as variantes alfa e delta, a proteção é de 66% e 60%, respectivamente.
Nos primeiros testes, a vacina mostrou 100% de eficácia em evitar hospitalizações pela doença. Diante da variante delta do coronavírus, inicialmente detectada na Índia e atualmente predominante na Europa, a eficácia contra casos severos de covid-19 é estimada em 92%.
Mudança no intervalo entre as doses
É justamente a variante delta que está levando muitos países a mudarem sua estratégia para a vacina da AstraZeneca.
A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) sugeriu em junho que o intervalo entre as doses deveria ser encurtado por conta da predominância das novas variantes no continente, como a delta.
"Nós vimos, com base nos dados do Reino Unido, que a primeira dose da vacina da AstraZeneca é eficaz contra a variante delta, mas uma segunda dose aumentou a proteção de maneira significativa. Visto que a proteção com a primeira dose é baixa no confronto com a variante alfa, que estamos vendo circular muito na Europa, seria importante que o intervalo entre as duas doses fosse encurtado", disse o chefe da Estratégia de Vacinas e de Ameaças Biológicas à Saúde da EMA, Marco Cavaleri.
No Reino Unido, primeiro país a começar a aplicar a vacina da AstraZeneca, desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford, a estratégia está em vigor: o intervalo entre as doses foi reduzido de 12 para oito semanas.
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O movimento foi acompanhado por vários países europeus, como Portugal e Espanha. Na França, é possível atualmente receber a segunda dose entre três e sete semanas após a primeira.
Na Alemanha, a atual recomendação é diferente: também devido ao avanço da variante delta, quem tomou uma primeira dose da AstraZeneca deve buscar o mais rapidamente possível (intervalo mínimo de quatro semanas) receber uma segunda dose dos imunizantes da Moderna ou da Pfizer/Biontech.
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Fora da Europa, países também estão reduzindo o intervalo, para pelo menos oito semanas, como é o caso da Austrália. A medida é válida para regiões como Sydney, onde há um surto da variante delta.
Na Índia, onde a vacina da AstraZeneca é produzida sob o nome de Covishield pelo Instituto Serum, a recomendação foi no sentido contrário: o intervalo foi ampliado de entre oito e 12 semanas para entre 12 e 16 semanas.
O objetivo da política de imunização na Índia, país de 1,3 bilhão de habitantes, é garantir pelo menos uma dose para o maior número de pessoas possível, já que ainda não há vacina suficiente para todos.
Na África, onde a maioria dos países recebeu doses da AstraZeneca da iniciativa solidária internacional Covax, John Nkengasong, diretor dos Centros Africanos para Controle e Prevenção de Doenças, disse que aqueles que receberam AstraZeneca como primeira dose poderiam receber a vacina da Johnson & Johnson como segunda. O motivo é a falta de doses da AstraZeneca.
Como o intervalo afeta a eficácia
O intervalo de 12 semanas foi estabelecido porque a vacina da AstraZeneca parece oferecer melhor proteção quanto maior for o intervalo entre as doses - pelo menos contra o vírus original que emergiu de Wuhan, na China.
Contra essa variante do vírus, duas doses de AstraZeneca com menos de seis semanas de intervalo conferiram 55,1% de eficácia contra casos sintomáticos de covid-19, mas alongando esse intervalo para 12 semanas ou mais, a proteção subiu para 81,3%.
Com a segunda dose aplicada de seis a oito semanas após a primeira, a eficácia da vacina contra doenças sintomáticas subiu para 60%; entre nove e 11 semanas, foi para 63,7%. Todos estes dados foram coletados antes do surgimento da variante delta.
A eficácia da vacina é uma medida muitas vezes entendida de forma errada: se uma vacina é 95% eficaz, não significa que 95% das pessoas estão protegidas contra doenças. E sim que um grupo de pessoas que receberam a vacina pode esperar uma redução de 95% no número de casos sintomáticos em relação a um grupo que não recebeu.