A pandemia não está acabando e a gente está longe de ver uma redução verdadeira dos casos
A média diária de casos e mortes por covid-19 no Brasil caiu ao longo da semana que se encerra neste sábado (3). O movimento pode ser resultado da vacinação, mas ainda não há como afirmar que é tendência. A presença de uma nova variante em solo nacional e o relaxamento de medidas de prevenção podem piorar o cenário.
Para que a imunização possa causar impacto considerável na circulação do vírus, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que seja necessário vacinar mais de 70% da população. Atualmente, nem 15% das cidadãs e cidadãos tomaram as duas doses no Brasil.
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Além disso, a diminuição nos números de casos e óbitos acontece em uma realidade de patamares altíssimos. Nas duas semanas passadas, o total de contaminados por período foi superior a 500 mil, recorde para o país.
Depois de ter superado 70 mil e alcançado recordes sucessivos, a média móvel de casos diários caiu para abaixo de 55 mil, o que não acontecia desde fevereiro. Ainda assim, o resultado é muito superior a todos os recordes de 2020. O cálculo é feito a partir da soma de todas as ocorrências dos últimos sete dias dividida por sete.
No número de mortes, também foi observada tendência de queda na mediana, que já superou 2.000 por dia algumas vezes no Brasil. Agora, está em cerca de 1.500, o que mantém o país em um nível muito superior aos recordes do ano passado.
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"Esse processo que a gente tem acompanhando - essas oscilações e flutuações - é a evolução natural da doença, epidemiologicamente falando. Vão acontecer enquanto a gente não controlar a pandemia com a vacinação em massa", afirma a médica emergencista Tainá Vaz, da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares.
Em conversa com o podcast A Covid-19 na Semana, ela lembra que a vacinação ainda não é suficiente para evitar acentuação da crise, "Esse número ainda alto de casos e, consequentemente, de internações leva a um estado de colapso no sistema de saúde".
Com dados tão altos, os riscos resultantes de o país apostar apenas na imunização e não aplicar medidas preventivas é muito maior. Nessa semana, foi reforçada a preocupação com uma terceira onda em países da Europa que já estão em processo de vacinação há meses.
Além do relaxamento nos cuidados preventivos, outro fator pode estar causando esse avanço na propagação. A variante Delta do coronavírus está em mais de 80 países, inclusive no Brasil. Reino Unido, Rússia e Portugal já percebem movimento de ascensão dos casos.
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Na última segunda-feira (28), um estudo publicado na revista científica Cell, com participação da Fundação Oswaldo Cruz, indicou que a variante Delta do coronavírus traz mais riscos de reinfecções. Segundo a pesquisa, a resposta autoimunizante de pessoas que já foram contaminadas com outra cepa é mais fraca contra a Delta.
Outra informação relevante para o Brasil vem da observação dos estudiosos de que a fragilidade parece ser maior entre as pessoas que foram infectadas pela variante Gama, identificada pela primeira vez em Manaus e que hoje domina a propagação no Brasil.
Segundo o Ministério da Saúde, há duas mortes, comprovadamente causadas pela variante Delta, registradas no Brasil. A pasta informou ainda que todos os 11 pacientes que foram identificados com a variante estão isolados.
"Nós não estamos no momento de finalização da pandemia. A pandemia não está acabando e a gente está longe de ver uma redução verdadeira dos casos", alerta a médica Tainá Vaz.
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"As variantes fogem do nosso controle. O vírus vai mutar a fim de se adaptar àquela situação. Nem sempre são mais agressivas, mas o que temos visto são variantes mais agressivas. Mais perigoso do que o vírus é o governo que contribui para que essa situação seja muito pior do que já é", pontua a emergencista.
Em coletiva de imprensa na última quinta-feira (30), o assessor regional para doenças virais da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), Jairo Mendez Rico, afirmou que a nova cepa ainda não é predominante na região, mas que é preciso acelerar a vacinação.
Também na quinta, a mais recente edição do Boletim Observatório Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) indicou melhora nas taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos no Sistema Único de Saúde (SUS). Foi observada ainda desaceleração nos óbitos.
No entanto, a entidade mantém o alerta sobre o patamar elevado de contaminações e casos fatais, "Ao longo dos últimos meses, pôde-se observar a manutenção de níveis altos de transmissão da Covid-19, com alta acentuada a partir de fevereiro. Desde março, o patamar de casos diários permanece extremamente elevado", diz o texto.
Edição: Vinícius Segalla