REPERCUSSÃO

Pesquisadores e lideranças reagem às mentiras de Bolsonaro na Cúpula do Clima

"O projeto de morte e destruição de Bolsonaro continua o mesmo", afirmou Sonia Guajajara, coordenadora executiva da Apib

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
"Os problemas atuais do Brasil podem ser resolvidos, mas não sob o governo de Bolsonaro", disse James Green, pesquisador de História Brasileira na Universidade de Brown, nos Estados Unidos - Carolina Antunes - Agência Brasil

Após a fala do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na Cúpula de Líderes sobre o Clima, pesquisadores e lideranças reagiram às mentiras e inconsistências do discurso do mandatário brasileiro. Os posicionamentos foram reunidos pela equipe da comunicação do Observatório do Clima.

Em seu discurso na reunião de líderes, convocada por Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, Bolsonaro disse que o Brasil é "voz ativa" na construção da agenda ambiental e elogiou a "revolução verde", que, através da ciência e inovação, teria tornado a agricultura brasileira sustentável.

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Sonia Guajajara, coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), avalia como mentirosa a retórica do desenvolvimento sustentável da agricultura brasileira. “O projeto de morte e destruição de Bolsonaro continua o mesmo: retirada de nossos direitos, legalização de crimes socioambientais e a descontinuidade das políticas de proteção à floresta amazônica”, afirmou.

“Até agora não houve sequer um diálogo desse governo com os povos indígenas para enfrentamento às invasões de nossas terras, por isso é legítimo o nosso pedido de um canal direto com o governo norte-americano para assuntos ligados à Amazônia brasileira”, continuou Sonia. 

Para a liderança Guajajara, é fundamental que o presidente Joe Biden estabeleça um diálogo junto ao governo brasileiro com bases na garantia da preservação da vida e da biodiversidade do planeta, em contraponto ao fortalecimento de políticas anti-indígenas.

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Biko Rodrigues, articulador nacional da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), concorda com Sonia e diz que Bolsonaro não respeita seu próprio povo. “Sob seu governo, o reconhecimento de comunidades quilombolas caiu ao menor patamar da história”, disse.

“Para nós, sua palavra não tem valor algum e a pandemia nos mostrou seu lado mais sombrio. Seu governo negou aos povos indígenas e comunidades quilombolas o acesso universal à água potável. Este é Bolsonaro, e qualquer acordo com ele está fadado ao fracasso”, denunciou.

Durante seu discurso, o presidente também afirmou que o Brasil está na vanguarda do combate ao aquecimento global. A realidade mostra que estamos caminhando na direção contrária: todas as operações de combate ao desmatamento ilegal na Amazônia e às queimadas no Pantanal sofreram baixas desde o início do governo Bolsonaro.

De acordo com Joaquim Belo, presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas, “é preciso que os grandes chefes de Estado entendam que a Amazônia é a casa de milhares de povos e comunidades tradicionais”. 

“Somente é possível cuidar da floresta reconhecendo e valorizando seus verdadeiros guardiões. A grande ignorância, por parte do governo Bolsonaro, é não reconhecer que a gestão da Floresta Amazônica não cabe somente ao governo, mas a todos os cidadãos e, principalmente, aos povos e comunidades tradicionais, que são partes dessa floresta e a mantêm viva e pulsante”, completou.

Bolsonaro ficou distante na fila dos discursos dos líderes das maiores economias do mundo durante a Cúpula e, segundo Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, também ficou atrás em seu discurso.

“O Brasil sai da cúpula dos líderes como entrou: desacreditado. Bolsonaro passou metade de sua fala pedindo ao mundo dinheiro por conquistas ambientais anteriores, que seu governo tenta destruir desde o dia da posse”, afirmou o pesquisador.

De acordo com James N. Green, professor de História Brasileira da Universidade Brown, nos Estados Unidos, e um dos coordenadores da Rede Estadunidense para a Democracia no Brasil (US Network for Democracy in Brazil, em inglês), Bolsonaro contribui para a destruição da natureza brasileira.

“O desmantelamento dos órgãos de fiscalização ambiental – que tinham se desenvolvido durante o processo de redemocratização –, aliado ao desrespeito às leis ambientais, representam uma brecha democrática hoje no Brasil”, avaliou o estudioso. 

“O país reduziu o desmatamento em 80% de 2004 a 2012 devido a políticas de liderança governamental, fortalecimento do Ibama e ICMBio, respeito às leis ambientais e implementação de ações ousadas. Os problemas atuais do Brasil podem ser resolvidos, mas não sob o governo de Bolsonaro”.

Edição: Poliana Dallabrida