Extrema direita

Milei anuncia cerca na fronteira com a Bolívia e defende Musk de críticas por apologia ao nazismo

Presidente argentino aplicou plano para conter imigração, e saiu em defesa de bilionário em Dia de Memória ao Holocausto

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Implementação de cerca na fronteira com a Bolívia para impedir deslocamento de pessoas é similar às políticas de deportação em massa de Trump nos EUA - LUIS ROBAYO/AFP

Uma cidade do norte da Argentina lançou nesta segunda-feira (27) uma licitação para instalar uma cerca de 200 metros em sua fronteira com a Bolívia, com o objetivo de conter travessias de pessoas e comércio. La Paz, por sua vez, expressou “preocupação” pelo anúncio. 

A solicitação foi relevada por Adrián Zigaran, interventor da cidade de Aguas Blancas, na província de Salta: "Foi solicitada a construção de uma cerca linear para evitar que as pessoas cheguem à cidade sem passar pela migração", disse nesta segunda à Radio Mitre.

Em comunicado emitido no último domingo (26), o Ministério das Relações Exteriores da Bolívia expressou "preocupação" e frisou que os temas fronteiriços devem ser tratados por mecanismos de diálogo bilateral, pois "qualquer medida unilateral pode afetar a boa vizinhança e a convivência pacífica entre povos irmãos".

A construção da cerca se insere no "Plano Güemes", que o governo do presidente argentino de extrema direita, Javier Milei, lançou em dezembro do ano passado para "combater os crimes federais" como o tráfico de drogas na fronteira de Salta (norte), focado nas duas cidades fronteiriças mais importantes, Aguas Blancas e Orán, situadas a cerca de 1.600 quilômetros de Buenos Aires.

De dois metros e meio de altura, a grade seria instalada no trajeto entre o escritório de migração e o terminal de ônibus, que está em frente à praia do rio Bermejo, a fronteira natural entre Argentina e Bolívia e por onde, segundo Zigaran, pessoas atravessam em direção a cidade de cerca de três mil habitantes.

O rio Bermejo está dentro da chamada "rota da droga", segundo o Ministério da Segurança argentino. Mas também é usado por argentinos que compram produtos mais baratos na cidade boliviana de Bermejo, em frente à Aguas Blancas, e depois retornam à Argentina.

"Passam ares-condicionados, geladeiras de duas portas, eletrodomésticos de última geração, como 10 viagens por dia. Chegam a Orán, que fica a 50 quilômetros, e a verdade é que estão rompendo o tecido comercial de Orán e do norte argentino com esse descontrole de importação de mercadoria ilegal", assinalou Zigarán.

A extrema direita se defende

A implementação de cercas para impedir o deslocamento de pessoas, medida similar às políticas de deportação nos Estados Unidos, não são as únicas similaridades entre Trump e o presidente argentino Milei. 

O mandatário argentino saiu novamente em defesa de Elon Musk, bilionário e aliado de Trump, contra aqueles que "lançam acusações" contra ele por seu gesto na posse do republicano, em 20 de janeiro, criticado como uma referência ao nazismo.

A defesa de Milei ocorreu em um discurso nesta segunda-feira (27), no 80º aniversário da libertação do campo de extermínio nazista de Auschwitz.

"Cuidado com aqueles que de forma banal lançam acusações e categorizações de nazista a qualquer um que não coincida com sua forma de pensar, como expressões de esquerda em todo o mundo fizeram com meu amigo Elon Musk, que é um defensor incontestável do Estado de Israel", declarou Milei em um evento no Museu do Holocausto de Buenos Aires.

Na cerimônia, que contou com a presença de sobreviventes de campos de concentração nazistas, o mandatário acrescentou que "estas falsas acusações vêm das mesmas pessoas que defendem os terroristas do Hamas e se manifestam contra o Estado de Israel".

Firme defensor do sionismo, Milei também agradeceu "o compromisso do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em assumir as negociações que permitirão que os reféns possam voltar para casa; entre eles, os nove argentinos que ainda estão sequestrados".

Milei já havia saído em defesa de seu "querido amigo", dono da X e da Tesla, em seu discurso na última quinta-feira (23) no Fórum Econômico Mundial de Davos, no qual afirmou que Musk "foi injustamente vilipendiado pelo 'wokismo' nas últimas horas por um gesto inocente".

*Com AFP

Edição: Leandro Melito