Relações exteriores

Para presidente eleito da Bolívia, Trump vê América Latina como "quintal"

Sobre as eleições dos EUA, Luis Arce acredita que democrata Joe Biden pode ser "oportunidade de conversar"

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Arce classificou como 'infantil' a política de sanções dos EUA: “Não estamos de acordo nem com o que fizeram com Cuba, nem com a Venezuela, nem com nenhum país” - Ronaldo Schemidt/AFP

Na última sexta-feira (23), o Supremo Tribunal Eleitoral da Bolívia proclamou, oficialmente, Luis Arce como novo presidente do país, para o quinquênio 2020-2025.

Em entrevista à Sputnik, Arce afirmou que "existe uma grande diferença" entre os dois candidatos à Presidência dos Estados Unidos. Enquanto, para Donald Trump, a Bolívia e a América Latina representam "um simples quintal", Joe Biden pode, talvez, representar a "oportunidade de conversar e abrir alguns espaços para melhorar [nossas] relações e economia".

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Ou seja, as relações entre Bolívia e Estados Unidos vão depender do posicionamento de Washington, e, por consequência, do presidente que for eleito. "Se eles querem nos respeitar como país, respeitam nossa soberania e falamos de igual para igual, não há problema", disse o novo presidente boliviano.

No entanto, Arce chamou a política de sanções dos EUA de “infantil”. Ele diz acreditar que as nações "têm que se mover com outros elementos e não tipificar e julgar os países, já que ninguém pode julgar um país".

“Não estamos de acordo nem com o que fizeram com Cuba, nem com a Venezuela, nem com nenhum país”, acrescentou.

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Ainda segundo Arce, o governo da presidente autoproclamada Jeanine Áñez cortou as relações com a Venezuela por uma questão "puramente ideológica". Ele afirmou que pretende retomá-las e reavaliar a presença de La Paz no Grupo de Lima, instrumento de pressão usado por governos de direita do continente contra Caracas.

“Não sei se somos mais úteis dentro do que fora, isso tem que ser avaliado, mas não coincidimos com muitos dos planos que esse grupo tem, por isso temos que avaliar se é conveniente estar dentro ou fora”, concluiu.

Relações com a Rússia

Arce diz que vai fortalecer os laços com a Rússia, que recuaram durante o governo Áñez. “Acredito que nos últimos onze meses houve uma deterioração nas relações entre a Bolívia e a Rússia, causada justamente pela presença de um governo 'de facto' que veio com um golpe, que não entendia o que está por trás da relação entre nossos países”, disse.

A ideia do presidente eleito é fazer da Bolívia o principal fornecedor de alimentos para o gigante eurasiano, em troca de tecnologias avançadas nos setores de medicamentos, energia, agronegócio, comunicações e outras áreas.

“Eu adoraria ter um encontro cara a cara com o presidente [russo Vladimir] Putin, em qualquer ambiente, seja nas Nações Unidas ou em qualquer outro, para precisamente trocar e aprofundar as questões que interessam aos dois países”, disse Arce, esclarecendo que" o mais rápido possível seria o melhor para nós, mas entendemos a agenda que o presidente Putin deve ter".

O presidente eleito adiantou que a Bolívia vai comprar a vacina Sputnik V contra o coronavírus, quando estiver disponível.

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Economia

Considerado o arquiteto do milagre econômico boliviano durante os dois mandatos do presidente Evo Morales (2006-2019), Arce, economista de profissão, está comprometido com a industrialização do país em substituição às importações. “Temos um potencial enorme de produção, deixando de importar muitas matérias-primas e também produtos finais, que hoje importamos”, disse à Sputnik.

O presidente eleito também defendeu a continuidade do projeto de industrialização do lítio para a produção e exportação de baterias desse metal estratégico, em um plano que geraria 41 novas indústrias de derivados. Outra de suas prioridades é a entrada da Bolívia na produção de polipropileno e polietileno com sua primeira planta petroquímica, hoje um projeto congelado.

Arce ressaltou que seu governo tentará agregar valor às suas matérias-primas promovendo a indústria do aço, área em que buscará ajuda tecnológica da Rússia. A produção de diesel ecológico com óleos reciclados para transporte também está em foco. “Em cinco anos a Bolívia deixará de importar diesel”, disse.

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O retorno de Evo Morales

Em relação a Morales, Arce disse que o primeiro faria bem em retornar a seu país, para se defender em julgamento.

"Se o camarada Evo quiser, ele retornará à Bolívia e se defenderá de todos aqueles processos que estão sendo movidos contra ele, pois estão quebrando muitas regras", disse. Porém, os processos abertos contra Morales "têm que continuar, porque se trata de uma iniciativa do órgão judicial". De igual modo, algumas investigações judiciais também "já começaram" contra os membros do governo interino.

Em entrevista ao Opera Mundi na semana passada, Morales afirmou que deseja voltar à Bolívia para se dedicar à agricultura. A volta, inclusive, agora é possível porque a Justiça do país anulou uma ordem de prisão que pesava contra o ex-presidente. No caso de um eventual retorno, o ex-presidente descartou assumir qualquer cargo no governo Arce.