O destino do jornalista australiano Julian Assange, preso desde abril de 2019 em Londres, começa a ser decidido nesta segunda-feira (7), no Reino Unido, onde será analisado o pedido dos EUA para que ele seja extraditado e julgado na corte de Eastern District , no estado da Virgínia, conhecida como “Corte da Espionagem”, em território estadunidense.
Assange tornou públicos diversos crimes de guerra cometidos pelo Exército norte-americano nas invasões ao Iraque e ao Afeganistão. Por isso, pode responder por espionagem e conspiração nos EUA. Ao todo, são 18 acusações, que podem render uma pena de 175 anos ao jornalista. Juristas consideram remota a possibilidade de absolvição de Assange na Corte estadunidense. Por conta disso, o julgamento no Reino Unido passa a ser fundamental.
“Ao decidir a extradição, a Justiça britânica estará selando o destino dele, porque se trata de uma extradição para Eastern District de Virgínia, onde dificilmente ele será absolvido. Ele entrará em julgamento sem chance de vir a ser absolvido”, afirma Martônio Mont’Alverne Barreto Lima, da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD), que acompanha politicamente o caso.
Para a defesa de Assange, liderada pelo espanhol Baltazar Garzon, o que está sendo julgado não é o exercício da espionagem, mas a liberdade de imprensa. O jornalista australiano fundou, em 2006, o Wikileaks, site que ficou conhecido mundialmente em 2010, quando publicou uma série de provas vazadas por Chelsea Manning, analista de inteligência do Exército dos EUA. À época, o conjunto de imagens e documentos escancarou atrocidades cometidas pelos estadunidenses durante as invasões no Iraque e no Afeganistão.
Para a Anistia Internacional, que encabeça uma das campanhas pela liberdade do australiano a avaliação é a mesma. Há também um abaixo-assinado elaborado pela ONG Repórteres Sem Fronteira, que aponta que as acusações estão ligadas diretamente com a “publicação de documentos divulgados como parte do seu trabalho com o WikilLeaks”. A organização pediu ao governo dos EUA que suspenda as acusações e ao Reino Unido que não extradite o jornalista.
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A britânica Suzie Gilbert, documentarista e amiga de Assange, faz um alerta sobre a saúde do australiano, que está detido na penitenciária de Belmarsh. “A prisão em que ele está é para assassinos e terroristas, não para pessoas que estão esperando um julgamento. Ele está debilitado e perdeu muito peso. Além disso, ficou seis meses sem receber visitas. As condições são parecidas com a vida na solitária, mas não temos como precisar, pois a pandemia do coronavírus dificultou mais o acesso a informações.”
A previsão é que o julgamento dure de três até quatro semanas. João Pedro Stedile, dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), espera que durante esse tempo as entidades e movimentos que defendem o jornalista transformem “o Assange em nosso herói anti-imperialista, que sua luta seja símbolo da luta contra o imperialismo. A guerra ideológica do Império [norte-americano] contra os outros países, envolve o controle das ideias e o controle do comportamento das pessoas.”
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Histórico
Desde 2012, Assange se abrigava, na condição de asilado político, na embaixada do Equador em Londres. Porém, em 11 de abril de 2019, o presidente equatoriano Lenín Moreno surpreendeu o mundo ao revogar o benefício e entregar o australiano às forças policiais britânicas.
Assange procurou a embaixada equatoriana após a Suécia pedir sua extradição em 2012. O jornalista era acusado de ter cometido um estupro no país nórdico. A acusação foi retirada pelo governo sueco em 2017, mas o australiano, com receio de ser enviado aos EUA, se manteve no consulado.
Edição: Vivian Fernandes