“O que pretendo fazer com o filme é simplesmente que as pessoas, que por alguma razão pensam que Assange não é uma boa pessoa ou que não merece seu tempo, tenham um documento fácil de compreender sobre o que realmente está acontecendo e o que aconteceu.”, afirmou em entrevista ao Brasil de Fato, Juan Passarelli, diretor do documentário A Guerra Contra O Jornalismo: O Caso de Julian Assange sobre o fundador do site WikiLeaks, que faz sua estreia mundial neste sábado.
Em cerca de 38 minutos, o longa - disponível de graça no YouTube - aborda desde a série de reportagens do WikiLeaks com informações contra os Estados Unidos, como crimes de guerra, espionagem, abusos de poder e pressões diplomáticas, publicada em 2010, até a situação em que Assange se encontra atualmente: preso na penitenciária de segurança máxima de Belmarsh, em Londres, desde abril de 2019, à espera de um julgamento de extradição solicitada pelos EUA.
No dia 7 de setembro será realizada uma audiência, no Tribunal Criminal Central de Londres, sobre o processo de extradição do jornalista, “um dos julgamentos mais importantes atualmente”. Caso seja extraditado, Assange será julgado na Corte do Eastern District de Virgínia, conhecida “Corte da Espionagem” e famosa pela tradição de condenações. No total, o governo dos EUA apresentou 18 acusações referentes às publicações de 2010 e embasadas no argumento de que Assange violou segredos de segurança nacional com o objetivo de prejudicar a política externa dos EUA.
Na visão de Passarelli, Assange foi preso por fazer seu trabalho como jornalista. “O que está em risco aqui é o direito do mundo e das pessoas poderem ser informadas. Esse direito que todos temos de receber informações sobre o que fazem as pessoas que elegemos com nossos votos, com nossos impostos. Isso é o que Julian Assange revelou, o que estava acontecendo e por isso que está preso hoje em dia”, afirma Passarelli.
Entre as revelações, o site WikiLeaks publicou um manual de tortura do Exército dos EUA utilizado no centro de detenção Guantánamo. Também tornou público o registro de vítimas dos EUA na Guerra do Iraque, no qual os EUA reconhecem que 60% dos mortos foram civis. Um dos vazamentos que mais chocou o mundo foi a publicação de um vídeo no qual iraquianos são atacados com armas de fogo por um helicóptero americano, no dia 12 de julho de 2007.
Para Passarelli, os jornalistas têm o dever de revelar o que e como os governantes utilizam os recursos públicos, bem como o que decidem fazer com o voto do eleitorado. A perseguição contra jornalistas “é uma crescente que tem que parar com o caso de Julian Assange, porque se não podemos revelar, como jornalistas, o que os nossos governos fazem com nosso direito e voto, não temos democracia”.
Em um paralelo com a situação do jornalista Glenn Greenwald, após a publicação das reportagens no âmbito da Vaza Jato, o diretor afirma que é uma “cópia exata do caso de Julian Assange”.
“O perigo para os jornalistas é latente no Brasil, nos Estados Unidos, na Europa e no resto do mundo quando querem fazer jornalismo que prejudica os interesses dos poderosos”, afirma Passarelli.
Segundo a defesa de Assange, uma eventual extradição para os EUA violaria o artigo 14 do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, que proíbe a medida se não há a garantia de que a pessoa receberá as garantias mínimas no processo penal. Para a defesa, tais garantias são inexistentes nos Estados Unidos.
O documentário pode ser acesso pelo link abaixo:
Edição: Rodrigo Durão Coelho