O avanço da pandemia causada pelo novo coronavírus impôs à humanidade novas formas de trabalhar, de se relacionar e, por que não, de protestar. Com o isolamento social, as ruas ficaram vazias não só pelo fechamento do comércio, mas também pela impossibilidade de aglomeração e, logo, de manifestações.
Assim que se iniciaram os “barulhaços”, com “bate-panelas” e gritos, nas janelas dos apartamentos e das casas, geralmente às 20h30, também se intensificaram as projeções nas paredes da cidade com recados contra o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e em solidariedade à população devido à transmissão da covid-19.
Em pouco tempo, o VJ (visual jockey, aquele que faz com as imagens o que um DJ faz com os sons) Felipe Spencer, de 35 anos, se juntou a outros trabalhadores da área para criar o projeto “Projetemos”. Hoje, o grupo atingiu as cinco regiões do país e define diariamente a pauta do dia.
Nesta quarta-feira (31), por exemplo, o assunto que será estampado nas paredes do Brasil são os 56 anos do golpe de Estado, que abriu portas para a ditadura militar de 1964. “Somos fortes, porque somos vários”, afirma.
“Nessa coisa de que as pessoas têm que ficar em casa, pensei que dava para organizar a galera com uma hashtag e um arroba, porque as pessoas vão ficar mais na internet nesse momento”, relatou Spencer em entrevista ao Brasil de Fato. Para ele, as pessoas precisam continuar protestando, e a maneira que ele encontrou foi por meio das projeções.
Ele explica que, quando o grupo iniciou as projeções diariamente, começou junto com “o pessoal do barulho” e acabou servindo de pano de fundo. “A importância gigante que tem é que a gente não está podendo ir pra rua, e eu acho que a extrema importância vem a partir daí, de que a gente está conseguindo fazer com que qualquer pessoa, independentemente de ser VJ ou produtor de cinema, ou só uma pessoa que tem um projetor em casa, uma lanterna, já está funcionando”.
Segundo Spencer, a projeção é bem simples: basta ter um projetor e uma parede. Cada pessoa que faz uma projeção publica nas redes sociais uma foto do momento com a hashtag #Projetemos e, assim, a mídia é republicada no Instagram do projeto.
Até o momento, as intervenções não têm autorização da Lei Cidade Limpa, que proíbe esse tipo de manifestação, ainda que não regule nenhum tipo de multa ou pena para quem desobedecer.
“Mas como é ano de eleição, imagino que outras esferas do poder jurídico entrem em cena para barrar determinadas divulgações de números, nomes e rostos. Mas a questão é que o que nós fazemos tem um cunho total de protesto e de arte, o que minimiza bastante os revezes jurídicos”.
Edição: Vivian Fernandes