Manifestação

Associação de Moradores arranca da prefeitura de Hortolândia (SP) 35 dias para evitar despejo de sede histórica

A prefeitura quer destinar o imóvel, ocupado pela entidade comunitária há 40 anos, a uma creche a ser gerida por uma OSC

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Manifestantes afirmaram que não sairiam do Paço Municipal até suspender despejo marcado para 12 de agosto - Divulgação

A prefeitura de Hortolândia (SP), sob a gestão de Zezé Gomes (Republicanos), amanheceu com sua entrada travada por um corredor humano de manifestantes, nesta quinta-feira (8). Com o ato, membros da associação de moradores dos bairros Parque Santo André, Jd. Santa Amélia e Jd. Everest conseguiram mais 35 dias para evitar a remoção forçada da sede onde estão há 40 anos.  

A reintegração de posse - inicialmente marcada para a próxima segunda-feira (12) e agora suspensa temporariamente - faz parte da intenção da administração de Gomes de instalar, no lugar, uma creche a ser gerida por uma Organização de Sociedade Civil (OSC). 

Instalada no espaço antes da criação do próprio município de Hortolândia, que tem 33 anos, a Sociedade dos Amigos destes três bairros (Samest) tinha a concessão pública do uso do imóvel até 2050.

No último 12 de julho, a direção da associação foi surpreendida com a notificação de que a concessão tinha sido revogada e que em um mês seriam despejados caso não saíssem do imóvel por conta própria. 

"Esta concessão foi revogada do dia para a noite pelo prefeito Zezé Gomes sem nenhum diálogo com os moradores, a associação, a Câmara dos Vereadores. Foi um 'decretasso'. Simplesmente achou que, na canetada, pode acabar com a Samest", afirma Lucas Bueno, membro do coletivo de educação popular Flor de Maio, um dos que compõem a gestão da associação. 

Entre as atividades realizadas pela entidade comunitária estão um cursinho pré-vestibular, formação para educadores, aulas de libras, ballet e capoeira, encontro de narcóticos anônimos, biblioteca, horta comunitárias, cine-debates e um grupo de astronomia popular. 

"Conseguimos a suspensão da revogação do termo de concessão do uso do espaço público que a gente tinha em mãos", explica Carolina Catini, coordenadora do programa de extensão do coletivo Flor de Maio.  

"Suspenderam por 35 dias, colocando a possibilidade de a gente encontrar um lugar para a creche que querem implementar, que não é demanda do bairro", conta. A poucos quarteirões da sede, há uma creche municipal que leva, inclusive, o nome de um dos ex-diretores da Samest.  

"Por que precisam que seja especificamente o prédio da associação, que não é adaptado para crianças, aquele destinado à creche?", questiona um documento da entidade. "Por que, em vez disso, não alugar outro espaço para alocar a creche? Qual a necessidade de tirar de sua sede uma das poucas associações de moradores que continuam promovendo tantas atividades para a comunidade?", segue o manifesto.  

Ao Brasil de Fato, a gestão municipal de Hortolândia informou que estabeleceu o prazo de cinco dias úteis para a associação visitar um espaço localizado em outro bairro, o Jd. Santa Clara do Lago I. "A prefeitura propôs a Samest mudar-se para esse local", afirmou. 

Nova reunião entre a prefeitura e associação está agendada para daqui a 15 dias.  

Edição: Martina Medina