No dia seguinte à histórica marcha com 3 milhões de mulheres no Chile, ocorrida nesse 8 de março, as chilenas saíram mais uma vez às ruas para lutar por direitos. As principais reivindicações foram a denúncia da precarização do trabalho promovida pelo modelo neoliberal – que afeta principalmente as mulheres – e a desigualdade salarial.
Diferente dos atos pelo Dia Internacional de Luta das Mulheres, que foram organizados pela Coordenadora Feminista 8M, quem liderou as ações desta segunda-feira (9) foi a Central Unitária dos Trabalhadores (CUT) e outras organizações sindicais do país.
Além das pautas trabalhistas, em ambos os dias foi levantada a questão dos feminicídios, com a lembrança das sete mulheres assassinadas somente em 2020 e as milhares em anos anteriores. Também a luta pelo direito ao aborto livre, a denúncia das violações aos direitos humanos, os abusos sexuais sofridos pelas mulheres em protestos, entre outros temas.
Entre as participantes da mobilização desta segunda-feira (9) estava a líder sindical Mabel Zúñiga, da Agrupação Nacional de Empregados Fiscais do Chile (ANEF), que havia sido presa arbitrariamente durante a marcha do 8 de março. Sua libertação, no dia seguinte, foi comemorada.
“Nós fomos brutalmente reprimidas ontem, muitas companheiras terminaram no hospital, mas hoje vamos marchar de novo. E se amanhã temos que nos levantar de novo, nós o faremos. E se mil vezes tivermos que nos levantar, nós nos levantaremos. Por cada uma que matem, mil outras mulheres irão se levantar. Tem sido assim, e assim continuará sendo. A repressão só nos dá mais força”, declarou a dirigente sindical.
As estudantes também estiveram presentes nesta greve feminista, muitas delas lideradas por uma mulher trans, Emilia Schneider, primeira presidenta trans da Federação de Estudantes da Universidade do Chile (FECh).
Em entrevista para o Brasil de Fato, ela afirma que “a principal mensagem dessas duas manifestações é que nenhum processo de mudanças no país poderá ser feito sem que nós estejamos como protagonistas, depois do profundo despertar que estamos vendo do movimento feminista no Chile”.
“A sociedade (chilena) como está concebida, como estão delimitadas as regras do jogo, é algo totalmente incompatível com a vida, por causa da falta de direitos, da precarização das nossas vidas, tudo isso é terrível, e é assim porque todos os aspectos da nossa vida estão a serviço do mercado”, comenta Schneider.
As duas marchas deixaram em evidência os coletivos de mulheres chilenos, que passaram a exercer certa liderança do movimento popular do país, devido ao fato de serem os grupos mais organizados entre os que estão reivindicando mudanças no país.
Não por acaso, o movimento feminista é o único que já conseguiu uma mudança concreta, com a lei que estabelece que o processo constituinte que o país deverá iniciar nos próximos meses terá que contar com paridade de gênero.
Segundo os números da CUT, os atos realizados pela manhã desta segunda mobilizaram cerca de 170 mil mulheres em Santiago e cerca de 250 mil em todo o país. Uma nova marcha ocorre nesta noite, a partir das 18h, também na capital chilena e em todas as capitais regionais do Chile.
Edição: Vivian Fernandes