O ex-presidente da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae), Hélio Cabral deixou a Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), na manhã desta terça-feira (11), sem responder a nenhuma pergunta dos parlamentares fluminenses durante audiência pública sobre a crise da água no estado. O executivo foi demitido na última segunda-feira (10) pelo governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel (PSC), confirmando o que foi noticiado pelo Brasil de Fato na última semana. O cargo será assumido pelo engenheiro ambiental e funcionário da Cedae Renato do Espírito Santo.
Hélio Cabral havia sido convocado pelos deputados estaduais para uma sabatina com objetivo de esclarecer o problema no tratamento e abastecimento da água no estado. Porém, durante a audiência, o executivo apenas leu um pronunciamento em que agradecia a confiança de Witzel e se retirou.
No início do pronunciamento, manifestantes arremessaram cédulas falsas de dinheiro com o rosto de Hélio Cabral impresso e pediam pela instauração de uma CPI que investigue os serviços de distribuição de água e captação de esgoto feitos pela Cedae.
Uma reunião do Conselho de Administração da Cedae e o governador do estado está sendo realizada nesta terça-feira (11), em caráter extraordinário. Em pauta, além da substituição do presidente da empresa e a troca de gestão, estará a possibilidade de isenção das cobranças de contas relativas ao período em que o abastecimento apresentou problemas.
Gota d'água
A decisão de troca no comando da estatal chega 40 dias após o surgimento de informações de contaminação da água da Estação do Guandu, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Nesse período, Cabral foi criticado por ter demorado em dar respostas sobre os problemas, além de ter feito promessas sobre o fim do cheiro e gosto alterados da água, o que ainda não se concretizou.
Segundo informações do jornal O Globo, a demissão de Hélio Cabral pode ter tido como gota d´água o vazamento de fotos do executivo se divertindo em uma piscina durante uma festa de luxo. As imagens obtidas pelo Jornal Atual Rio mostram o então chefe da companhia em uma banheira de uma cobertura na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, junto com amigos. A festa aconteceu no dia 12 de janeiro, quase 10 dias após a crise da água estar instalada no estado.
Currículo sujo
Indicado pelo governador Wilson Witzel (PSC) para presidência da Cedae, no início de 2019, Hélio Cabral Moreira carrega grave denúncia em seu currículo, como foi noticiado pelo Brasil de Fato. O administrador foi um dos 22 denunciados em ação judicial que investiga o crime ambiental e o homicídio de 19 pessoas decorrentes do rompimento da barragem do Fundão, em Mariana (MG), que aconteceu em novembro de 2015. Ele era um dos conselheiros administrativos da Samarco, empresa responsável pela barragem, entre 2013 e 2014.
Ao todo foram 26 denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF), entre pessoas físicas e jurídicas, envolvidas nas decisões que causaram o rompimento da barragem de Fundão. O processo corre na Justiça Federal de Ponte Nova (MG), desde novembro de 2016.
Em setembro de 2019, oito investigados foram excluídos do processo por decisão da Justiça Federal, todos eles integrantes da alta cúpula da mineradora Samarco. Hélio Cabral integrou essa lista. O MPF está recorrendo a essa decisão.
No recurso, o MPF afirma que eles desempenhavam papel preponderante na gestão dos riscos da barragem. A peça cita trecho de ata em que o Conselho de Administração, no ano de 2011, recomendou que a Samarco reavaliasse a relocação das comunidades situadas próximas à estrutura.
"O mesmo Conselho de Administração pressionou pela redução de gastos, entre eles os de segurança, e elencou outras prioridades, entre as quais, maximizar o pagamento de dividendos aos acionistas", diz o MPF.
Fonte: BdF Rio de Janeiro
Edição: Rodrigo Chagas e Vivian Virissimo