Às vésperas da Cúpula do G20 – encontro entre os presidentes das principais economias do mundo –, realizada no Centro Costa Salguero, em Buenos Aires, movimentos populares argentinos preparam uma grande marcha contra sua realização. O protesto ocorrerá nesta sexta-feira (30), primeiro dos dois dias da reunião.
“O governo deve garantir nossas liberdades democráticas para nos manifestarmos”, afirmou Beverly Keen, da organização Diálogos 2000, uma das dezenas de entidades que preparam as manifestações, durante a coletiva de imprensa realizada nesta quarta-feira (28).
A declaração ocorreu minutos depois que o Ministério de Segurança da Argentina autorizou a marcha dos movimentos, que percorrerá ruas centrais da capital, entre a Avenida de Maio e o Congresso.
Em carta dirigida ao prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel, o chefe de gabinete do ministério, Gerardo Milman, disse: “Entendo que desta maneira todos fazemos uma contribuição à paz e à convivência democrática”. A organização que Esquivel preside, a Fundação Serviço Paz e Justiça (Serpaj), é uma das que assinam o manifesto “#30N – Jornada Nacional contra o G20 e o FMI – Marchamos!”.
A marcha dos movimentos populares, sindicais, partidos e organizações de direitos humanos ainda era incerta, visto que o governo do presidente argentino, Mauricio Macri, anunciou o envio de um grande contingente de segurança e cercamento de Buenos Aires, onde foi decretado feriado local nesta sexta-feira (30).
Na capital argentina, a grande maioria dos serviços de transporte público não funcionará – entre eles, metrô, trens metropolitanos, ônibus e o principal aeroporto da cidade, o Aeroparque –, além disso, diversas ruas da região central ficarão fechadas (em algumas delas será proibido inclusive o tráfego a pé), entre a tarde desta quinta-feira (29) e o domingo (2).
“Suspender todo o serviço de trens na região metropolitana e decretar feriado são claramente formas de tentar desmobilizar as pessoas”, declarou Beverly Keen, que completou que ainda estão negociando com o governo o acesso de micro-ônibus para a concentração do protesto, que tem previsão de início às 15h (hora local).
Fora G20 e contra o FMI
À pauta contrária à realização do G20 em Buenos Aires, soma-se o rechaço aos acordos do presidente Mauricio Macri com o FMI, firmados em junho e que preveem um empréstimo de US$ 50 bilhões (cerca de R$ 202 bilhões) em troca de medidas de austeridade para o pagamento da dívida gerada.
A inflação no país tem previsão de fechar o ano na casa dos 30% e a taxa de juros está acima dos 60%, a mais alta do mundo. O orçamento argentino para 2019, já aprovado no Congresso, prevê um corte de 30% nos investimento em obras públicas, ajustes nas contas do governo e aumento de tarifas em diversos serviços, como luz e gás, entre outros.
No manifesto da Jornada Nacional contra o G20, as entidades elencam suas pautas: “Denunciamos a submissão do governo Macri às políticas que promove o G20, como o acordo com o FMI, que nos condena a uma dívida ilegítima e impagável, e ao ajuste eterno. Isso implica rebaixamento dos salários e aposentadorias, flexibilização trabalhista e liquidação do sistema previdenciário, maior desemprego.”
“Esse povo está em resistência. E vamos seguir em resistência até que tenhamos vida digna para o povo deste país”, sintetizou Beverly Keen sobre o que move as organizações populares a realizarem as manifestações.
Além da marcha no primeiro dia do G20, os movimentos realizam uma série de atividades de debates e formação por todo o país nesta quarta-feira (28) e, na quinta (29), ocorre a Cúpula dos Povos, em Buenos Aires, como parte da mesma agenda de mobilizações populares.
Edição: Luiza Mançano