Com 12,2 milhões de habitantes em mais de 1,5 mil km², a cidade de São Paulo tem as proporções e problemas de um país. O mapa da desigualdade da Rede Nossa São Paulo, lançado nesta quarta-feira (28), ilustra em números o abismo que divide os moradores dos 95 bairros da capital.
São 56 indicadores, que traduzem a desigualdade com base nos indicadores raça, trabalho renda e condições de moradia. A pesquisa também deixa claro que faltam equipamentos públicos de saúde, educação e lazer na periferia.
“A partir desses dados, nós formamos, com organizações da sociedade civil, coalizões para construir políticas públicas. E, efetivamente, trabalhar pressionando a Prefeitura e a Câmara de Vereadores no bom sentido, de construção de políticas que reduzam a desigualdade”, afirma Jorge Abrahão, coordenador da Rede Nossa São Paulo.
A capital paulista reflete o aumento da desigualdade no país. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o Brasil passou a ocupar a 9ª pior posição em 2018, em termos de desigualdade de renda, em um conjunto de 189 países. No ano anterior, o país estava em 10º lugar, de acordo com o relatório de desigualdade da Oxfam Brasil, também lançado nesta semana.
::"Não há país que dê certo com esse grau de desigualdade", diz conselheiro da Oxfam::
A análise cruzada dos dados de raça, renda e vagas formais de emprego revela que a maioria dos moradores negros -- que nas periferias representam entre 46% e 60% da população, e entre 1% e 15% nos bairros do centro -- convivem com a falta de vagas em creches, com a ausência de equipamentos públicos de cultura, com maiores taxas de gravidez na adolescência, falta de leitos hospitalares e maior concentração de favelas.
O tempo de espera por uma vaga em creche pública, por exemplo, demora 8 dias no distrito da República, no Centro, e 411 dias, na Pedreira, no extremo Sul da cidade.
A chance de trabalhar perto de casa também é um dos indicadores da desigualdade. Enquanto que, na Barra Funda, zona Oeste, existem seis vagas de emprego formal no distrito por morador, em Cidade Tiradentes, na zona Leste, o índice é de 0,02 vagas. Ou seja, cada vaga de emprego formal é disputada por 50 moradores.
De acordo com a pesquisadora socioterritorial, Dirce Koga, coautora do Mapa da Exclusão e Inclusão Social de São Paulo (MEIS), coordenado pela professora Aldaíza Sposati e realizado pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (INPE), 87% da população da cidade vive em um "território de exclusão". Isso significa que essa parcela está excluída ou tem extrema dificuldade de acesso a direitos previstos pela Constituição Federal.
Para Semayat Oliveira, jornalista e coordenadora da comunicação do projeto Usinas de Valores, do Instituto Vladmir Herzog, a questão racial está no centro dos fatores que mantém a desigualdade estrutural da cidade.
“A base racial é essencial, estruturante e sistêmica para que se mantenha esse ciclo racial, desigual e de privilégio branco", analisa.
A coordenadora afirma ainda que é preciso lutar para manter os avanços de igualdade conquistados nos últimos anos, apesar dos discursos autoritários do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL).
Edição: Daniel Giovanaz