Em tempos de retrocessos sociais, o 24° do Grito dos Excluídos/as chega a mais uma edição com um grande significado na luta pela garantia de direitos, apresentando, na edição deste ano, o lema “Desigualdade gera Violência: Basta de Privilégio”. Em Belém a concentração do protesto foi em frente ao Centro Arquitetônico de Nazaré (CAN), um dos pontos turísticos na época do Círio.
Lideranças de movimentos populares, pastorais sociais, representantes da igreja Católica e Luterana, e de Comunidades Tradicionais Matriz Africana realizaram um ato ecumênico antes do início da caminhada. A mãe de santo Mameto Nangetu afirmou que o ato é um momento de reflexão.
“Vejo o grito dos excluídos como um momento em que nós possamos nos manifestar e dizer para o povo que somos Brasil. O Brasil não é de ricos, é de todos. Tem um momento político muito grande para que a gente reflita, que a gente proporcione politica [pública] para todos os povos, para todas as pessoas”.
Inicialmente a caminhada tomou um lado da Avenida Nazaré, por onde percorreria até chegar à Praça da República, local onde seria finalizado o protesto. Ao longo do percurso, Ulisses Manaças, que pertencia ao Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), e que faleceu em agosto devido um câncer, foi lembrado e saudado pelos movimentos.
Houve dois momentos de paradas para manifestação: a primeira foi uma encenação cultural realizada pelo MST que lembrou a luta pela reforma agrária e a violência no campo. O segundo ato ocorreu em frente a emissora de comunicação TV Liberal, filiada da rede Globo, para reivindicar a democratização dos meios de comunicação.
Iury Paulino, da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), ressaltou que dado a conjuntura, o Grito dos Excluídos/as não está dissociado das eleições. As ameaças à democracia dão relevância ao ato, porque combatem um projeto de governo que não contempla os trabalhadores em seus direitos. Ele também argumenta que “o tema acompanha isso: basta de privilégios para os ricos, poderosos e políticos que vivem saqueando a nação”.
“Então o grito e eleições não há como dissociar disso. Nós estamos entendendo que o que está nessas eleições em disputa são projetos: um projeto que mata, um projeto que gera privilégios, um projeto que não pensa no povo brasileiro. E um projeto dos trabalhadores que hoje é representado, uma das representações, é a nossa maior liderança que é o presidente Lula, que está preso por defender esse projeto”, disse Iury.
O ato foi acompanhado por Policias Militares da Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (Rotam). O protesto se aproximava da Av. Presidente Vargas, onde está localizada a praça da República, quando encontraram um bloqueio composto por três fileiras de policias. A primeira por PMs, a segunda pela Rotam, fortemente armados, e uma terceira fila de policias do choque.
O ato foi interrompido e, nesse momento, diversas pessoas tomaram a palavra para falar com os PMs. Padre Paulinho, coordenador da Comissão Pastoral da Terra (CPT), destacou que os movimentos sociais não eram inimigos dos policiais e, assim como muitos trabalhadores, eles também têm seus direitos violados.
Depois de duas horas, e após o término do desfile e apresentações em comemoração ao 7 de setembro, que marca a Independência do Brasil, a passagem foi liberada para que a manifestação pudesse continuar.
Edição: Guilherme Henrique