Uma comitiva de senadores integrantes da Comissão de Direitos Humanos da Casa realizou, nesta terça (17), diligência à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde, há pouco mais de uma semana, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumpre prisão provisória por determinação do juiz de primeira instância Sérgio Moro.
Os senadores afirmaram que a estrutura da sala onde Lula é mantido --um alojamento convertido em cela sem grades e com banheiro privativo-- é adequada e o tratamento recebido pelos agentes responsáveis por sua segurança é profissional, mas reclamaram do que classificaram como "confinamento em solitária" sofrido por Lula.
"Nós temos muitos pedidos de visitas; o Lula tem muitos amigos. É uma barbaridade essa situação... Como não deixam um ex-presidente que não foi julgado em segunda instância, porque ainda está indo para o Supremo, receber visitas? O que é isso? É regime de exceção? É flagrante o desrespeito aos direitos humanos", afirmou a senadora Gleisi Hoffman, do Paraná, presidenta nacional do PT, ressaltando que aguardam autorização para visitar Lula, entre outras personalidades de renome nacional e internacional, o ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, e Adolfo Pérez Esquivel, prêmio Nobel da paz em 1980 por sua atuação em defesa dos direitos humanos durante a ditadura militar argentina.
Segundo o senador Paulo Paim (PT-RS), apesar do isolamento, o ex-presidente pode ouvir as falas feitas no acampamento Lula Livre, que reúne cerca de 2 mil pessoas ao lado da sede da PF, e se demonstra confiante. "Foi uma visita impressionante e gratificante pela tranquilidade que demonstra o presidente. Mostrando preocupação com o povo brasileiro, com as instituições e a liberdade de todos, não com a sua própria", contou.
O senador gaúcho relatou ainda que Lula afirmou que "não faltou convite" para que ele deixasse o país antes que sua ordem de prisão fosse expedida, mas que ele não foi porque pretende "ir às últimas consequências para provar minha inocência". "Eu sei porque estou preso: pelo que fiz pelos pobres deste país", disse ainda Lula, segundo o senador Lindbergh Farias (PT-RJ). Diante da reação de tristeza de senadores diante de seu encarceramento, Lula teria ainda alertado: "não quero saber de choro!".
"Lula disse: a palavra é resistência", relatou a senadora Regina Sousa (PT-PI). "Então se a polícia vier tirar vocês, vocês finjam que tão saindo, mas voltem. A importância do bom dia que vocês dão todos os dias a ele faz toda a diferença", completou a senadora.
Senador que redigirá o relatório da diligência, João Capiberibe (PSB-AP), afirmou que seu texto indicará que Lula não está tendo direito às visitas previstas na Lei de Execuções Penais. "É um preso político ou não é? Um homem que tem hoje 30%, 35% da preferência do eleitorado brasileiro. Ou seja, um caso raríssimo na história do Brasil. A nossa visita hoje foi uma determinação da Comissão de Direitos Humanos do Senado, mas não deixa de ser uma visita política, porque Lula é um preso político.
"Se Lula não estivesse na frente nas pesquisas, estaria preso? Temos convicção de que não. Hoje completam-se dois anos do golpe, e o golpe segue em curso com a prisão de Lula", afirmou a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM).
Além de acompanhar, pelo som, a movimentação de militantes e apoiadores em seu favor do lado de fora da PF, Lula tem lido as cartas enviadas de todo o Brasil a Curitiba, alem de livros: depois de terminar A Elite do Atraso, do historiador Jessé de Souza, o ex-presidente agora começou a leitura de Homo Deus, do professor israelense Yuval Harari.
Roubo de documentos
A presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, aproveitou a oportunidade da visita de senadores para divulgar crime cometido na noite de ontem (16) contra o veiculo de um dos assessores de Lula, que levava à sede da PF roupas e roupas de cama limpas, cartas de apoiadores e documentos, inclusive o passaporte do ex-presidente. "Já houve uma série de abusos contra o ex-presidente Lula e agora seus objetos são furtados. A Secretaria de Segurança Pública do Paraná precisa ter muita responsabilidade na apuração desse caso. Pode ter sido um furto casual, mas pode ter sido outra coisa; pode ter vindo de pessoas que seguiram e viram onde a assessoria do presidente anda", disse Gleisi. Segundo a senadora, boletim de ocorrência foi feito no 3º DP de Curitiba.
Edição: Diego Sartorato