O clima de tensão na comunidade da Rocinha permanece desde a última sexta-feira (22) quando ocorreu a intervenção das Forças Armadas no local. Apesar dos confrontos entre as facções rivais terem sido controlados, a rotina dos moradores continua prejudicada. Os atendimentos na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro estão suspensos por tempo indeterminado e mais de 3.300 estudantes estão sem aula.
Antônio Xaolin é morador da comunidade e coordenador da Câmara Comunitária da Rocinha. Segundo ele, a população que vive na favela está apreensiva com medo de novas operações policiais. Além disso, por conta da ocupação militar, a circulação dos moradores na região está restrita.
“Foi subtraído os ônibus; barreiras impedem os carros de passar e os pedestres são revistados. Não sei se está ocorrendo violação de lares, os moradores não comentaram comigo. Foi alterada a rotina e nós queremos que ela seja normalizada. Mesmo com a intervenção, as pessoas precisam voltar a sua normalidade,” afirmou Xaolin.
A situação da Rocinha demonstra a falência de um modelo de segurança pública adotado pelo estado do Rio de Janeiro. O projeto de Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) completa dez anos e passa pelo seu pior momento. Segundo um levantamento realizado pela Anistia Internacional, entre os dez bairros com mais tiroteio no Rio, oito são ocupados pelas UPPs.
Para o delegado da Polícia Civil, Orlando Zaccone, a saída para a crise da segurança pública deve passar pelo debate sobre a legalização das drogas e também sobre a desmilitarização da Polícia.
“Quando a gente fala de ocupação e intervenção militar de áreas pobres, no caso das favelas do Rio de Janeiro, nós estamos falando de um remédio que já foi experimentado e que não deu resultado. A gente tem que pensar em desmilitarizar, isso seria uma forma de tentar um novo modelo. A primeira coisa é construir o policial como trabalhador e não como agente de guerra, porque se a gente equiparar policiais à soldados, fazemos com que o policial não seja um prestador de segurança, mas sim um agente de combate,” destacou o delegado.
Enquanto a solução por parte das instituições não vem, a comunidade da Rocinha se organiza para estabelecer um diálogo com as autoridades que comandam a ocupação na tentativa de buscar saídas para que os serviços públicos e a rotina dos moradores sejam normalizados.
Edição: Raquel Júnia