Convocadas pelas Frente Povo Sem Medo e Frente Brasil Popular, milhares de pessoas se reuniram na Avenida Paulista, centro de São Paulo (SP), nesta terça-feira (13). O protesto marcou a insatisfação com a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC 55), que congela os investimentos públicos por 20 anos.
Para Raimundo Bonfim, da Central de Movimentos Populares (CMP), que integra a FBP, a aprovação do ajuste fiscal não tem "precedentes no nosso país". Ele afirma que a medida fomentará a crise econômica e social no país. A emenda passou por 53 votos a 16 no segundo turno no Senado.
Bonfim, no entanto, ainda mantém esperança de reverter a emenda com o aumento da insatisfação contra o governo não eleito de Michel Temer. Ele aposta que a tramitação da Reforma da Previdência no Congresso Nacional, que se iniciou esta semana na Câmara dos Deputados, deve criar um caldo de insatisfação popular, que pode auxiliar na revogação da PEC.
"A reforma da Previdência mexe concretamente com todos os trabalhadores. Trabalhadores e periferia estão tendo seus direitos atacados mais elementares, como o acesso à Saúde e à Educação", disse.
Diretas Já
Guilhermes Boulos, coordenador da Frente Povo Sem Medo e do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, afirma que a decisão do Senado não representa a população. "Mesmo com toda a campanha violenta de mídia a favor da PEC, a maioria da população brasileira é contra", disse.
Segundo o Instituto Datafolha, que entrevistou 2.828 pessoas entre 7 e 8 de dezembro, 60% dos brasileiros são contra a aprovação da emenda.
Por isso, Boulos afirma que agora o foco dos movimentos populares é a pressão por eleições diretas. Segundo ele, não há outra saída para as decisões "ilegítimas" do governo federal, e apenas a "restituição da soberania do voto popular" poderá reverter este quadro. "Uma parte da burguesia brasileira, dos setores mais atrasados, começam a ver que o Temer está pulando até o pescoço e quer apostar na eleição indireta", explicou.
O coordenador da Povo Sem Medo acha "difícil" a renúncia ocorrer e considera "muito difícil" que o presidente não eleito Michel Temer (PMDB) saia por qualquer outro processo nos próximos 10 dias, quando se inicia o processo parlamentar de final de ano. Por isso, o dirigente do MTST apoia a PEC 227/16, atualmente na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara.
De autoria do deputado Miro Teixeira (Rede-RJ), a proposta pretende ampliar o período previsto para realização de eleições diretas, no caso de vacância do cargo de presidente da República, exceto nos últimos seis meses de mandato.
"Mas não dá para depender deste Senado. Por eles, o Brasil voltava ao Império. Essa PEC vai depender de muita mobilização de rua", disse.
Já Bonfim acredita que o ideal seria a renúncia de Temer. Mas o dirigente apoia a PEC 227. "O que não dá é ter uma saída indireta, um golpe dentro do golpe", opina Bonfim.
Fiesp
O ato se encerrou na própria Avenida Paulista. Durante o trajeto, um grupo de ativistas protestou em frente ao prédio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) com fogos de artifício e pichações com a palavra "golpista" para denunciar a participação da federação no processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff em agosto deste ano.
No percurso, a estudante Manuela Ana, de 15 anos, contou que, por causa da aprovação, está repensando a escolha profissional. A jovem gostaria de seguir carreira acadêmica e dar aulas da rede estadual. "Daqui 20 anos, os investimentos vão estar parados. Imagina como vai ser para retomar isso? Não vai retomar. E até lá, nossa Educação só tende ao declínio", disse.
Edição: Simone Freire.
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