O ano de 2024 foi de marcos importantes para o projeto Som na Rural. A iniciativa de cultura, arte e comunicação completou 15 anos de existência e se tornou Patrimônio Cultural Imaterial da Cidade do Recife, através de um projeto de lei da vereadora Liana Cirne (PT), aprovado pela Câmara Municipal.
Apesar do reconhecimento, o produtor cultural Roger de Renor e o diretor e fotógrafo Nilton Pereira, realizadores da iniciativa, afirmam que a cidade continua sem um "mercado cultural" que torne viáveis os projetos voltados para a cultura popular. "É mais fácil você vender para uma empresa um camarote, privatizar uma praça, do que você arrumar um patrocinador para o Som na Rural", diz Roger.
Ele cita o exemplo da Praça da Independência, a popular Praça do Diário, que no Carnaval de 2024 foi "camarotizada" pelas empresas Esportes da Sorte e o restaurante Seu Antônio, enquanto "nunca houve uma empresa privada que quisesse anunciar no Som na Rural", lamenta.
Quando perguntado sobre os planos para 2025, Nilton Pereira reforça a questão da ausência de patrocínio. "A gente sabe [do futuro] mais ou menos até o Carnaval. Depois, só dá vontade de ir embora, porque [os poderes públicos] gastam tudo com os cachês das bandas que vão tocar no Marco Zero e em outros palcos grandes. A continuidade do [nosso] ano todo fica muito difícil", acrescenta.
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Em entrevista ao Trilhas do Nordeste, programa de entrevistas do Brasil de Fato Pernambuco, Roger e Nilton contam sobre os marcos dessa caminhada de 15 anos, os shows marcantes, as estradas distantes, os perrengues enfrentados e os desafios de fazer cultura popular. Assista à entrevista na íntegra.
Som na Rural de andada
O polo de cultura itinerante não circula só por Recife ou Pernambuco. O Som na Rural, identidade pública desta bela Ford Rural Wyllis de 1969, já pegou estradas até as cidades de São Paulo (SP) e Brasília (DF) – sendo a ida à Capital Federal para a posse do presidente Lula (PT), em 1º de janeiro 2023.
Roger e Nilton fazem questão de demarcar o posicionamento político da iniciativa. "Assim como a gente encarou politicamente o desafio de essa retomada democrática após um governo fascista, ir rodando com o veículo 69 até Brasília já era um grande desafio. E a gente disse: se o país vai passar um grande desafio, vamos também encarar dessa maneira concreta", recorda Nilton.
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Fonte: BdF Pernambuco
Edição: Vinícius Sobreira