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Maioria dos eleitores reprova segurança pública em São Paulo; veja o que Nunes e Boulos propõem

A cidade é a terceira das 20 com maiores taxas de roubo e furto de celular por 100 mil habitantes

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
As polícias civis e militares ficam sob responsabilidade do governo estadual, e as guardas civis metropolitanas, do governo municipal - Comunicação/GCM

A maioria dos paulistanos classifica o desempenho da Prefeitura na segurança pública como ruim ou péssima. Segundo a pesquisa AtlasIntel divulgada na última segunda-feira (21), 43% dos eleitores da cidade acreditam que a atuação da gestão municipal é péssima, e 17%, ruim. Do outro lado, 4% acreditam que o desempenho é ótimo, 12% afirmam que é bom e 25% dizem ser regular. 

A percepção negativa da maioria dos moradores da cidade tem base na realidade. De 2022 para 2023, o estupro de vulnerável aumentou em 15,7% na capital, de acordo com a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo. No total, os registros subiram de 1.979 para 2.290, o que representa pelo menos seis estupros por dia no ano. 

São Paulo também é a terceira das 20 cidades com maiores taxas de roubo e furto de celular por 100 mil habitantes. Com 1.781,6 crimes registrados no ano passado, a capital está atrás de Teresina (PI), que contabilizou 1.866 roubos e furtos, e Manaus (AM), com 2.096,3 casos. 

Suzete Vieira Boaventura, que mora no Grajaú há cerca de 50 anos e viu de perto as transformações pelas quais o distrito passou nos últimos anos, afirma que uma das reclamações é a falta de iluminação e a ausência da Guarda Civil Metropolitana (GCM) nas ruas.  

“É complicado. Minha filha chega da faculdade às 11 da noite, e eu sou obrigada a buscá-la porque não confio que ela possa ir para casa sozinha. Se houvesse segurança, eu não teria essa necessidade. Nas proximidades do hospital Grajaú, há muitos relatos de roubo de carros. As pessoas têm medo de deixar o carro estacionado enquanto fazem uma visita”, afirma Boaventura. 

Da mesma maneira, Alex Américo, morador do Jardim Mirna, não se sente seguro no Grajaú. “Posso te dizer que boa parte dessa violência urbana, que exige uma segurança pública municipal, no caso os GCM, acontece no cotidiano. Roubos e furtos são comuns, isso faz parte de uma metrópole do tamanho de São Paulo”, afirma. 

Como professor, no entanto, Américo entende que o problema da segurança pública recai principalmente sobre as escolas públicas. “A violência dentro das escolas tem crescido muito, especialmente nos finais de aula, com conflitos entre alunos na porta das escolas, por motivos variados. Muitas vezes, diretores, coordenadores e até professores precisam atuar como seguranças para impedir essa violência, porque não há uma guarda municipal presente nas proximidades das escolas”, afirma.  

Como não há uma GCM “atuante”, em suas palavras, quem age muitas vezes é a Polícia Militar de São Paulo (PMSP), “com toda sua violência e repressão sobre a classe trabalhadora”. “A ausência de uma GCM na cidade de São Paulo é muito grave, porque a violência se generaliza com a repressão policial e a criminalidade, devido à falta de emprego e de condições de vida que deem motivação e perspectiva para continuar lutando por uma cidade melhor”, conclui Américo. 

Dados da Delegacia de Polícia (DP) Jardim Mirna, que atende às ocorrências do distrito de Grajaú, no extremo da zona sul, mostram que a taxa de furtos aumentou em 29% de 2022 para 2023, e a taxa de lesão corporal dolosa em 44,74%. Na DP Cidade Tiradentes, na zona leste, o percentual de furtos registrados cresceu em 18,32%, e o de lesão corporal dolosa, em 10,42% no mesmo período. 

Propostas dos candidatos 

De acordo com a legislação, as polícias civis e militares ficam sob responsabilidade do governo estadual, e as guardas civis metropolitanas, do governo municipal. No estado governado por Tarcísio de Freitas (Republicanos), cabo eleitoral de Ricardo Nunes (MDB), a taxa de pessoas negras mortas pelas polícias estaduais aumentou em 83% de janeiro a agosto deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado. A de pessoas brancas, por sua vez, subiu em 59%.  

Nesse levantamento do Instituto Sou da Paz e divulgado pela Folha de S. Paulo nesta terça-feira (22), a capital paulista lidera o ranking: de 76 para 118 mortos por policiais em serviço entre janeiro e agosto. 

Uma das propostas do atual prefeito que busca a reeleição, Ricardo Nunes, para a área da segurança, são ações em parceria com o governo estadual de Tarcísio de Freitas e a sociedade civil.  

O candidato reservou uma das 67 páginas para apresentar os seus projetos: aumento da presença da GCM em horários e locais estratégicos, como escolas; ações preventivas e protetivas às mulheres, crianças e idosos vítimas de violência; e expansão do programa de videomonitoramento Smart Sampa. 

O adversário Guilherme Boulos (Psol) também utilizou uma página do programa com 37 páginas para tratar do assunto, apesar de tratar do tema de maneira transversal em outros tópicos, como um separado exclusivamente para a Cracolândia.  

O candidato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) repete algumas propostas de Nunes como a valorização e a ampliação do efetivo da GCM e a presença da guarda nas portas das escolas. A novidade está na ampliação da Patrulha Guardiã Maria da Penha e na criação de uma força-tarefa de enfrentamento à receptação de celulares roubados. 

Edição: Nathallia Fonseca