O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela respondeu nesta terça-feira (3) os Estados Unidos após o país criticar a decisão da Justiça da Venezuela de pedir a prisão do opositor Edmundo González Urrutia. Segundo Caracas, “cada comunicado de funcionários dos EUA contra a Venezuela gera um pagamento de dólares por um lobby corrupto”.
O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, afirmou em comunicado nesta terça que o país “condena veementemente” o mandado de prisão contra o ex-candidato presidencial de extrema direita. Para ele, essa é uma “ação arbitrária e politicamente motivada”. A nota volta a afirmar, sem provas, que González teria vencido as eleições presidenciais no país.
Em resposta, o chanceler da Venezuela, Yván Gil, afirmou que há pagamentos para “cada disparate lançado ao vazio” feito por autoridades estadunidenses. Segundo o ministro, a ideia é alimentar uma “rede de bobagens” contra o Estado venezuelano. “Vocês já arrecadaram bastante dinheiro, procurem outras fontes de renda. Chega de enganação, aqui seguiremos nosso caminho livres e soberanos, vocês sabem muito bem disso”, disse.
A nota dos EUA foi publicada depois que a Justiça da Venezuela emitiu um mandado de prisão contra Edmundo González Urrutia. Ele é investigado pela publicação de supostas atas eleitorais que teriam sido recolhidas no dia das eleições presidenciais e, posteriormente, utilizadas pela coalizão de extrema direita para não reconhecer os resultados eleitorais divulgados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
Essa não foi a primeira vez nos últimos 30 dias que os EUA criticaram medidas da Justiça venezuelana. Em 23 de agosto, a Casa Branca já havia contestado a decisão do Tribunal Supremo de Justiça de validar a reeleição de Nicolás Maduro para um terceiro mandato. O Departamento de Estado dos EUA publicou uma nota afirmando que a decisão da Corte “carece de credibilidade, dada a evidência esmagadora de que González recebeu a maioria dos votos em 28 de julho”.
Governos de direita lationoamericanos também criticaram essa medida da Justiça da Venezuela. Argentina, Costa Rica, Guatemala, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai emitiram uma nota conjunta chamando a decisão de “prática ditatorial”. Todos esses países têm contestado a eleição de Nicolás Maduro desde o pleito. Segundo Yván Gil, a ideia desses países é formar um “novo Grupo de Lima”. O bloco foi criado em 2017 para promover ações contra o governo venezuelano na Organização dos Estados Americanos (OEA).
Brasil e Colômbia se pronunciam
Os governos brasileiro e colombiano publicaram uma nota conjunta no final da noite desta terça manifestando “profunda preocupação com a ordem de apreensão contra o candidato presidencial Edmundo González Urrutia”. Segundo Brasília e Bogotá, a medida dificulta uma “solução pacífica” para a questão envolvendo as eleições e afeta “gravemente” os compromissos assumidos no Acordo de Barbados. O documento foi assinado entre governo e parte da oposição em outubro de 2023 e definia uma série de regras para as eleições.
Os dois países foram responsáveis por uma articulação para negociar com Caracas. Junto com o México, eles pediram que "as controvérsias sobre o processo eleitoral” deveriam ser resolvidas pela via institucional e que o resultado do pleito deveria passar por "verificação imparcial". Depois, pediram que o resultado fosse divulgado não pela Justiça, mas pelo CNE.
Mais tarde, os presidentes Lula (Brasil) e Petro (Colômbia) sugeriram a realização de novas eleições e de um "governo de coalizão" para esse momento. O chefe do Executivo mexicano, Andrés Manuel López Obrador, disse que não vai falaria com os dois mandatários até que o Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela (TSJ) emitisse um posicionamento sobre as eleições do país.
Além de validar o resultado eleitoral, o TSJ pediu a publicação dos dados na Gazeta Eleitoral do país. O CNE teria 30 dias para a publicação dos resultados a partir da proclamação do vencedor, realizada em 29 de julho. Esse prazo, no entanto, já venceu sem que os resultados fossem publicados. O site do CNE também fora do ar depois do que o governo alegou ter sofrido um ataque hacker.
Edição: Lucas Estanislau