Após ataque às comunidades que atuam em uma área em processo de retomada na Terra Indígena (TI) Panambi-Lagoa Rica, no Mato Grosso do Sul, uma nova ocorrência alarmou a região. Um acampamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) localizado em Dourados (MS), nas proximidades da investida contra a TI, foi atacado a tiros. Segundo relatos de moradores, os pistoleiros teriam agido a mando de fazendeiros. Na ação, o grupo também ateou fogo nos arredores da área, onde vivem cerca de 300 famílias de agricultores.
O fogo começou na noite de sábado (3), horas depois do incidente na TI, e veio a público somente neste domingo (4). Lideranças do MST associam a ocorrência às manifestações de solidariedade que a organização costuma fazer junto ao povo da terra indígena. A entidade vê retaliação.
“Eles não mencionaram diretamente alguma ligação disso com a nossa relação com a terra indígena, mas a gente sabe que tem a ver com isso porque o MST está junto de todas as ações que os indígenas fazem e vice-versa. E ontem à tarde teve o ataque lá ao local deles, que fica perto do acampamento, para quem vem de carro”, afirma uma liderança ouvida pela reportagem, que prefere não ser identificada por temer perseguições.
O movimento relata que os pistoleiros chegaram em cerca de 10 caminhonetes e duas motos. O acampamento não chegou a ter os barracos incendiados por conta de uma proteção colocada anteriormente pelos sem-terra na área para evitar o alastramento de focos de incêndio em eventuais situações do tipo. Apesar disso, o MST afirma que dezenas de pessoas passaram mal por conta da fumaça e uma criança chegou a desmaiar. O grupo foi rapidamente socorrido e está fora de perigo.
“Quem mais sofreu foram as crianças e os idosos. Foi muita gente atingida. Tem gente que pegou pneumonia [antes], covid-19 ou que já tinha algum outro problema no pulmão. Tivemos casos de desmaios, ardência nos olhos, dor de garganta, ataques de asma, enxaqueca, náuseas, vômitos e outros”, cita a fonte ouvida pela reportagem.
O movimento conta que registrou um Boletim de Ocorrência (B.O.) na delegacia, acionou a Polícia Militar e tem feito contato com outros órgãos. Representantes dos indígenas tentam conseguir um espaço na agenda do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, nesta segunda (5) para tratar da segurança da região e, segundo o MST, a ideia seria incluir as duas demandas na conversa.
O movimento se queixa de inoperância da Polícia Militar diante da situação do acampamento. “As autoridades de segurança se ausentam deliberadamente. E a inércia, o imobilismo em ações concretas de reforma agrária e de demarcação de terras indígenas acirram os conflitos agrários”, associa a entidade, que diz que não pretende abrir mão da luta conjunta com os moradores da TI.
“As famílias seguem firmes na luta e organizadas em solidariedade aos irmãos indígenas. A solidariedade não se abala com balas, truculências e incêndios criminosos no acampamento e no Pantanal. Viva a solidariedade de classe. Viva o MST. Viva o acampamento Esperança”, diz nota divulgada pela entidade.
Outro lado
O Brasil de Fato tentou, mas não conseguiu contato com a Secretaria de Segurança Pública do Mato Grosso do Sul para tratar das críticas registradas nesta reportagem. O espaço segue aberto para eventual manifestação posterior.
Edição: Nathallia Fonseca