A China disse que deseja facilitar a "reconciliação" entre os dois principais grupos palestinos rivais, o Fatah e o Hamas. A declaração foi feita após o Fatah, que controla a Cisjordânia, revelar que se reunirá com representantes do Hamas, que governa a Faixa de Gaza, em Pequim entre 20 e 21 de julho.
"A China apoia todas as partes palestinas com o objetivo de alcançar a reconciliação e a unidade por meio do diálogo e da negociação", disse o porta-voz da diplomacia chinesa, Lin Jian, rassaltando que Pequim se dispõe a "criar oportunidades" para chegar a esse objetivo.
Ele não confirmou formalmente o encontro em Pequim, mas disse que a China divulgará "informações a seu devido tempo". O Fatah, fundado pelo histórico líder palestino Yasser Arafat, e o Hamas, estão rompidos desde junho de 2007, quando entraram em confronto nas ruas da Cidade de Gaza.
Por comunicado, o membro do comitê político do Hamas, Hosam Badran disse que "o movimento respondeu positivamente e com um [sentimento] de responsabilidade nacional". Ele acrescentou que o grupo quer trabalhar para "uma unidade nacional digna do nosso povo palestino", especialmente após 7 de outubro.
Fatah e Hamas já foram recebidos em Pequim no final de abril. À época, a China classificou o diálogo como encorajador e demonstrou querer contribuir para uma "reconciliação intrapalestina". Ao mesmo tempo em que apoia a causa palestina, a China mantém boas relações com Israel
Potência geopolítica
O correspondente do Brasil de Fato em Pequim, Mauro Ramos, disse que "o fato de Hamas e Fatah voltarem a Pequim para negociações de reconciliação mostra a sinergia entre os interesses chineses e os dos países do Oriente Médio".
"A China sob Xi Jinping promove a ideia de mundo com futuro compartilhado", explica ele, ressaltando que as relações comerciais do país promovem também uma diplomacia "em que a geopolítica e a cooperação com a resolução pacífica de conflitos adquirem mais relevância".
"De um lado, a China parece assumir cada vez mais esse papel mediador, do outro, os países dessa região redirecionam suas estratégias para o Oriente. No ano passado, China e Palestina estabeleceram uma parceria estratégica, e no encontro entre Mahmoud Abbas e Xi Jinping, a China voltou a propor uma conferência de paz de grande escala que possa determinar finalmente a criação do Estado palestino e sua entrada como membro pleno na ONU."
"A vinda das forças políticas palestinas para dialogar na China sobre unidade, é sinal do respeito que o país vem adquirindo como potência geopolítica", diz o correspondente.
Contexto
O atual genocídio palestino cometido por Israel na Faixa de Gaza começou em outubro do ano passado, mas as condições no território já eram consideradas "sufocantes" pela ONU antes disso. O bloqueio israelense de 17 anos — para obrigar o Hamas, partido que ganhou as eleições palestinas em 2006, a abdicar do poder — gerou taxas de desemprego de 45% e insegurança alimentar que atingia 64% da população. A ONU calcula que mais de 80% dos moradores de Gaza dependiam, à época, de ajuda externa para sobreviver.
Em 7 de outubro, integrantes do Hamas ingressaram em Israel e realizaram o ataque mais violento já sofrido pelo país, deixando cerca de 1,2 mil mortos e fazendo 240 reféns. A resposta do governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu foi considerada desproporcional pela comunidade internacional. Bombardeios diários no que é considerado um dos territórios mais densamente povoados do mundo vêm causando a morte de dezenas de milhares de palestinos e destruindo toda a infraestrutura de Gaza.
O número de vítimas fatais se aproxima dos 40 mil palestinos — cerca de 70% de mulheres e crianças —, com mais de 8 mil pessoas desaparecidas debaixo dos escombros. Foram destruídos 35% dos prédios e praticamente todos os mais de dois milhões de habitantes foram forçados a deixar suas casas.
No outro território palestino ocupado, a Cisjordânia, a violência ilegal praticada por colonos israelenses é diária, com quase 600 mortos. Desde o início do conflito, milhares de palestinos foram presos e o governo anunciou que outros milhares vão ser detidos este ano. Há inúmeros relatos de tortura desses detidos.
A ONU alerta para o desastre humanitário, acusando Israel de usar a fome coletiva como arma de guerra e ressaltando a possibilidade real de que centenas de milhares de palestinos venham a morrer por falta de alimentos. A Corte Internacional de Justiça (CIJ) ordenou a interrupção imediata dos bombardeios em Rafah, para evitar a morte de civis, decisão ignorada por Israel.
Edição: Rodrigo Durão Coelho