“Na partida entre Colômbia e Argentina vai haver uma batalha”. Foi assim que o presidente colombiano, Gustavo Petro, se referiu à final da Copa América que será disputada neste domingo (14). O jogo envolve uma rivalidade entre duas escolas de futebol tradicionais da América do Sul, mas, fora de campo, trocas de farpas entre os presidentes dos dois países aumentou a tensão no primeiro semestre de 2024.
Petro participou na quarta-feira (10) de uma conferência no Queens College, em Nova York. Segundo o jornal El Espectador, ele disse que, mesmo que quisesse, não poderia falar sobre o presidente da Argentina, Javier Milei, em meio a um conflito diplomático. Ele também citou o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, em seu discurso.
“Se eu falar sobre eles [Milei e Bukele] entro em um problema diplomático porque não tenho liberdade para isso. Milei tentou falar de mim e no final fizemos um acordo [para parar]”, declarou. Ao final de abril, os ministérios das Relações Exteriores de Colômbia e Argentina divulgaram nota conjunta afirmando que mantêm conversas para “fortalecer as relações diplomáticas”. O documento foi divulgado depois de uma crise entre os países na última semana, que culminou e a expulsão do corpo diplomático argentino de Bogotá chegou a ser anunciada pelo governo colombiano.
Petro também criticou a participação do presidente argentino no Fórum Mundial de Economia de Davos, na Suíça, realizado em janeiro de 2024. Segundo Petro, ele é ignorado nesses fóruns porque o “grande capital” quer ouvir soluções de mercado, não um plano global.
“Na partida entre Colômbia e Argentina, domingo, pode haver uma batalha... Em Davos convidaram ele [Milei] e o colocaram na posição de rei. O grande capital queria ouvi-lo e não Petro. Eles me convidam para que não haja nada além de decoração. É compreendido ideologicamente. A atenção deles é atraída para o que Milei diz e não para o que Petro diz. Porque o que Petro está dizendo é que se quisermos agir, temos que fazer um plano global, não de mercado, e que tem que ser para todos os países. Tem que haver multilateralismo”, disse.
Desde que tomou posse, o chefe do Executivo da Argentina, Javier Milei, tem feito reiterados ataques contra presidentes de esquerda, sendo Petro um dos alvos mais frequentes. Durante a campanha, o argentino já havia dito que “não negociaria com comunistas” e chamou políticos socialistas de “lixo”. Milei nem era presidente ainda e já criava rusgas com o colombiano, que nas redes sociais, afirmou que as declarações do então candidato “era o que Hitler falaria”.
Em janeiro, já como presidente, Milei voltou a subir o tom contra Petro de “comunista assassino”, em entrevista à TV colombiana. Na época, a chancelaria da Colômbia repudiou as declarações afirmando que “o governo rejeita veementemente esta afirmação que ataca a honra do presidente” e que as palavras de Milei “ignoram e violam a amizade profunda entre os dois países”.
Petro foi militante do grupo guerrilheiro Movimento 19 de Abril (M-19) na sua juventude e tinha o codinome de "Comandante Aureliano". Organizado após a denúncia de fraudes na eleição de 1970, o M-19 fez parte de uma onda de movimentos guerrilheiros na América Latina que também contou com os Tupamaros no Uruguai e os Montoneros na Argentina. Na década de 1970, o M-19 abandonou as armas e se transformou em um partido político.
Três meses depois, o argentino chamou o mandatário da Colômbia de “assassino terrorista” em uma entrevista à CNN. A chancelaria colombiana reagiu com nota afirmando que “esta não é a primeira vez que o senhor Milei ofende o presidente colombiano, afetando as relações históricas de irmandade entre a Colômbia e Argentina”.
Essa declaração deu início a uma tensão diplomática depois de a Colômbia afirmar que expulsaria o corpo diplomático da Argentina de Bogotá. No documento, o governo colombiano afirmou que o embaixador da Argentina no país, Camilo Romero, voltaria para Buenos Aires até que o novo embaixador fosse anunciado por Milei.
Edição: Leandro Melito