Desestabilização

Venezuela pede cooperação da Colômbia para investigar denúncia de plano de atentado contra eleições

MP venezuelano denunciou articulação de setores da oposição com paramilitares colombianos para 'desestabilizar o país'

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
O procurador Tarek Wiliam Saab disse que a carta com o pedido de ajuda já está com a Procuradoria-Geral da Colômbia - Juan BARRETO / AFP

O Ministério Público da Venezuela anunciou nesta quinta-feira (11) que iniciou diálogos com a Procuradoria da Colômbia para estabelecer mecanismos de cooperação na investigação de denúncias feitas por um grupo paramilitar colombiano sobre supostos planos de atentado de setores da oposição venezuelana contra o presidente Nicolás Maduro e as eleições do país.

O procurador-geral da Venezuela, Tarek Wiliam Saab, propôs à sua homóloga colombiana, Luz Adriana Camargo Garzón, compartilhar dados sobre as declarações feitas por um grupo paramilitar colombiano, que alegou ter sido contatado por setores políticos opositores venezuelanos.

O órgão venezuelnao havia anunciado na segunda-feira (08) a abertura de investigações sobre a suposta articulação de opositores venezuelanos com o grupo armado colombiano Autodefensas Conquistadoras de la Sierra (ACSN). A informação surgiu em declaração feita pelo próprio grupo colombiano, que publicou um vídeo denunciando os contatos e afirmando que recusou os pedidos por “não se intrometer” em assuntos internos de outros países. 

Na suposta declaração, o grupo afirma que a extrema direita foi atrás das suas unidades no departamento colombiano de La Guajira, na fronteira com a Venezuela, para propor um plano de ataques sistemáticos contra a estrutura elétrica do país antes das eleições presidenciais do dia 28 de julho.

Segundo a investigação do MP venezuelano, o objetivo seria realizar ataques pouco antes das eleições e visaria a infraestrutura do país e o presidente Nicolás Maduro, que busca a reeleição para o terceiro mandato. Ainda de acordo com Tarek William Saab, caso o mandatário conquistasse a reeleição, o grupo começaria uma confrontação direta, promovendo manifestações violentas em diferentes cidades desde a fronteira até Caracas.

A Venezuela pediu que haja uma cooperação internacional para investigar e limitar a ação destes grupos. O MP pediu também que os responsáveis “​​sejam processados ​​pelo sistema de justiça venezuelano”. Tarek Wiliam Saab disse que a carta com o pedido de ajuda já está com a Procuradoria-Geral da Colômbia e que a ideia é “começar a agir com força contra estes criminosos”.

Segundo Saab, a primeira vez que os grupos da Venezuela foram procurar os paramilitares colombianos foi há dois meses. “Havia três pessoas. Todos se identificaram como apoiadores da extrema direita venezuelana que atua em plena campanha eleitoral e pediram a este grupo criminoso que atacasse o presidente Nicolás Maduro em alguns dos eventos de rua ou nas instalações elétricas, infraestrutura do estado de Zulia, principalmente nos últimos dias de campanha e tentando deixar o país sem energia elétrica”, afirmou Saab.

Do lado colombiano, o general Luis Emilio Cardozo, comandante do Exército da Colômbia, deu uma entrevista à emissora Rádio Blu afirmando que não tem conhecimento desses planos. “Não tenho nenhuma informação à respeito nem me informaram de nada, nem a inteligência, que haja um grupo organizando esse tipo de ações”, disse o comandante.

O presidente Maduro voltou a comentar o caso nesta quinta. Ele já havia pedido que Tarek William Saab assumisse a investigação e, durante um comício de campanha em Valencia, condenou o uso da violência. 

“Vocês se lembram quando eles sequestraram vocês e trancaram vocês em suas casas com violência? Quantas pessoas foram queimadas vivas, quantos jovens foram assassinados nas guarimbas, quanto sofrimento? Tudo o que eles têm são ambições, interesses. Quem solicitou as sanções contra a Venezuela? Os enganadores de sempre”, disse.

Violência na campanha eleitoral

Essa não é a primeira vez que Maduro denuncia planos de ataques contra o país e até tentativas de ataques contra ele. Em janeiro deste ano, o Ministério Público anunciou ter realizado cinco operações que prenderam suspeitos de planejar ataques contra o presidente e atentados para desestabilizar o país. O mandatário disse também que o ex-presidente da Colômbia Álvaro Uribe havia participado de outros planos "terroristas" para atacar o país.

Em abril, Maduro disse ter provas de que o Comando Sul dos Estados Unidos instalou uma base militar na fronteira com o país vizinho. “No território da Guiana Essequiba instalaram bases militares secretas do Comando Sul e núcleos da CIA para preparar ataques contra a população de Tumeremo, no sul e leste da Venezuela e para preparar uma escalada contra a Venezuela”, disse Maduro.

A movimentação em torno dessas investigações acontecem a menos de três semanas das eleições no país. Marcado para 28 de julho, o pleito é disputado por 10 candidatos. O presidente Nicolás Maduro busca a reeleição para o 3º mandato. Ele disputa o pleito contra 9 opositores. O principal deles é o ex-embaixador Edmundo González Urrutia. Ele é da Plataforma Unitária e está sendo apoiado pela ex-deputada ultraliberal María Corina Machado, que está inabilitada por 15 anos pela Justiça venezuelana.

Em junho, oito dos 10 candidatos assinaram um acordo para respeitar o resultado das eleições. Edmundo se recusou a participar e não assinou o documento. Além dele, Enrique Márquez, do partido Centrados, não assinou.

Edição: Lucas Estanislau