Sob olhares atentos, diante dos questionamentos sobre suas condições de saúde e agilidade mental, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, de 81 anos, concedeu coletiva de imprensa, nesta quinta-feira (11), no encerramento da Cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), em Washington. O democrata ressaltou o papel dele como liderança na aliança militar ocidental, inclusive creditando a si mesmo o que considera ter sido uma conferência "bem-sucedida", e reafirmou a manutenção da candidatura à Casa Branca na disputa contra o republicano Donald Trump.
O presidente estadunidense foi questionado sobre ter trocado, durante discurso na cúpula, o nome do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, pelo do rival Vladimir Putin, presidente russo. "Você viu algum dano por conta da minha liderança nessa conferência? Você já viu uma conferência mais bem-sucedida?", respondeu ao jornalista. Ele seguiu dizendo que outros líderes presentes no evento o agradeceram: "E disseram: 'A razão para estarmos juntos é Biden'". Durante a coletiva, o democrata trocou nomes novamente ao dizer Trump ao se referir à vice-presidenta Kamala Harris.
Biden ironizou os comentários sobre condições de saúde física e mental. "Se olhar minha agenda desde que fiz aquele erro estúpido no debate, está lotada. Onde está o Trump, andando em seu carrinho de golf? Foi encher o tanque de seu carrinho? Ele não fez nada virtualmente. Eu tive cerca de 20 eventos importantes, com milhares de pessoas participando. Eu pretendo continuar, só disse que preciso dosar um pouco o ritmo. No próximo debate, eu não vou ter viajado por 50 fusos horários na semana anterior."
Ele rejeitou mais uma vez a ideia de abandonar a candidatura. "Há pelo menos cinco presidentes que concorreram à reeleição que tinham números piores do que eu tenho agora num momento mais adiantado da campanha. A campanha é longa e eu vou continuar me movendo. Temos muito a fazer, tivemos muito progresso. Diga um líder mundial que não trocaria de lugar com nossa economia. Criamos 800 mil empregos industriais", apontou.
Ainda sobre os resultados econômicos, o democrata destacou não estar concorrendo por um "legado", mas porque pretende terminar o trabalho que começou. Ele aponta que desenvolveu políticas atentas aos trabalhadores, fugindo à lógica de que "se os ricos estivessem bem, todo mundo ficaria bem". Biden criticou os lucros corporativos durante a pandemia de covid-19 e defendeu apoio à classe média e aos trabalhadores. "“Eu sou o presidente mais pró sindicatos e trabalhadores. Quando sindicatos vão melhor, todo mundo vai melhor."
Capacidade de liderança
Apesar da aparência frágil, o democrata seguiu dando exemplos do papel que exerce como liderança política no cenário internacional, citando as guerras na Ucrânia e em Gaza. "Seis semanas atrás, eu entreguei um plano detalhado no G7 e no Conselho de Segurança da ONU, que conseguiu apoio tanto de Israel quanto do Hamas. É uma questão complexa, ainda há detalhes para acertar, mas a tendência é positiva. Estou determinado a chegar a um acordo e colocar um fim a essa guerra", declarou.
Biden pontuou o fato de aliados europeus temerem uma vitória de Trump por sua inabilidade nas relações internacionais. "Ele parece ter afinidade com pessoas autoritárias e isso preocupa a Europa, a Polônia. E ninguém acha, inclusive o povo da Polônia, que se Putin ganhar na Ucrânia ele vai parar por aí. Eu acho que sou a pessoa mais qualificada para garantir que a Ucrânia não caia, que prevaleça, e que a aliança europeia fique forte."
Troca de nomes
Nesta quinta-feira (11), durante discurso na Cúpula da Otan em Washington, ao manifestar o apoio dos Estados Unidos à Ucrânia no conflito contra a Rússia, o presidente estadunidense cometeu um deslize no momento de passar a fala ao presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, chamando-o pelo nome de seu rival, Vladimir Putin.
Biden lida com a gagueira desde criança. A improvisação não é o seu ponto forte, mas nesta quinta-feira os olhares estavam voltados para cada detalhe de sua performance pública.
Nos últimos meses, ele cometeu erros notáveis, como em fevereiro, quando mencionou o ex-presidente francês François Mitterrand, falecido em 1996, em vez de Emmanuel Macron, e o também falecido Helmut Kohl em vez da ex-chanceler alemã Angela Merkel.
Na tarde desta quinta-feira, Biden teve um encontro com o novo primeiro ministro britânico Keir Starmer, que afirmou que o presidente estadunidense está "realmente em boa forma".
Questionado pela rede britânica BBC, Starmer disse discordar das afirmações de que Biden estaria senil e garantiu que, durante o encontro, o presidente estadunidense "passou por um grande número de questões em um ritmo acelerado". "Ele demonstrou uma liderança incrível", disse Starmer.
Percepção do eleitorado
Uma pesquisa Ipsos publicada hoje pelo Washington Post e pela ABC não mostra queda nas intenções de voto a nível nacional desde o debate: Joe Biden e Donald Trump estão empatados com 46% cada. Mas 67% dos entrevistados acreditam que Biden deveria retirar sua candidatura. Entre os eleitores democratas, 56% pensam assim.
Análise baseada em um pool de pesquisas pelo Washington Post, também nesta quinta, mostra que Donald Trump está liderando em seis dos sete estados que têm maior probabilidade de determinar o resultado da eleição.
Segundo o jornal, nos três primeiros - Winsconsin, Pennsylvania e Michigan -, a média está dentro de uma margem de erro de 3,5 pontos e uma vitória de Trump ou do presidente Biden é plausível. Nos outros quatro, a liderança dos candidatos nas pesquisas é maior, mas a disputa ainda é acirrada: Carolina do Norte, Nevada, Arizona e Georgia.
Grandes figuras do partido Democrata, como a ex-presidente da Câmara Nancy Pelosi, pedem ao presidente que "tome uma decisão", uma forma sutil de dizer que a decisão que tomou - de permanecer na disputa - não é necessariamente a certa. "Parece cada vez mais provável que esta seja uma montanha alta demais para escalar", disse o congressista Greg Landsman à CNN nesta quinta-feira.
Desde que assumiu a presidência, o democrata deu 36 coletivas de imprensa, segundo a pesquisadora Martha Joynt Kumar, citada pela plataforma Axios. E costuma fazê-lo durante viagens internacionais ou visitas de líderes estrangeiros. Entre os seus seis antecessores, apenas o republicano Ronald Reagan deu menos entrevistas.
*Com AFP
Edição: Leandro Melito