Desde a última segunda-feira (1º), quando 52 linhas de ônibus do sistema de transporte público do Distrito Federal (DF) deixaram de receber passagens em dinheiro, diversos problemas foram identificados por motoristas e cobradores, segundo informação Sindicato dos Rodoviários do Distrito Federal (Sittrater-DF).
As principais queixas dos usuários foram de problemas para conseguir efetuar a recarga, diante da pouca quantidade de pontos para esse tipo de serviço disponíveis no DF.
"Nesses primeiros dias de implantação, o que os cobradores e motoristas têm trazido [para o sindicato] são relatos de alguns problemas de pessoas que até chegam com cartão, mas sem crédito. Essas dificuldades têm acontecido e a recomendação é de que as pessoas não podem deixar de serem transportadas", contou o presidente do Sittrater-DF, João Jesus.
O presidente do Sittrater afirmou que, com base nas experiências de outras cidades que passaram a utilizar apenas o cartão como forma de pagamento do sistema de transporte, como Goiânia, que os problemas vão sempre existir e que a tendência é piorar quando a mudança for ampliada. "Essa mudança está valendo apenas para linhas com menor número de pessoas, em que a maioria já pagava com cartão. Imagina quando for as linhas da Ceilândia, Samambaia, Recanto das Emas e das outras cidades com o número maior de pessoas mais vulnerável, que usam mais o dinheiro", pontuou João Jesus.
O deputado distrital Max Maciel (Psol) realizou uma vistoria técnica no dia 1º de junho, por meio da Comissão de Transporte e Mobilidade Urbana da Câmara Legislativa (CMTU) e encaminhou um relatório para Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) com algumas observações, que, segundo ele, precisavam ser corrigidas nesse período de modernização dos meios de pagamento no transporte público. "Nossa expectativa é boa, mas reforçamos a importância de orientar a população e que se faça essa transição com responsabilidade para que ninguém saia prejudicado", destacou o parlamentar.
Em nota, a Semob informou que houve aumento da adesão dos passageiros aos pagamentos feitos por meio eletrônico (cartões bancários, de débito ou crédito, e cartão mobilidade) desde segunda-feira (1º). "O volume de pagamento de passagens com dinheiro em espécie caiu de 24,9% para 19,4%. Na segunda-feira, os postos de atendimento aos usuários bateram recorde de emissão do cartão mobilidade, quando 1.878 pessoas adquiriram o cartão de uso exclusivo no transporte público coletivo do DF. Na terça-feira (2), foram 1.843 emissões", destacou a Semob.
"Com o início da implantação do sistema 100% eletrônico para pagamento de passagens, o GDF [Governo do Distrito Federal] passou a contar com 30 novos pontos de atendimento aos usuários do cartão mobilidade", acrescentou a Semob. A pasta informou que, além dos pontos do BRB Mobilidade, cinco unidades do Na Hora estão atendendo os usuários com esse serviço: Taguatinga, Ceilândia, Brazlândia, Gama e Riacho Fundo.
OAB perde ação
A Ordem dos Advogados do Brasil no DF (OAB-DF) entrou com um pedido judicial para derrubar uma portaria da Secretaria de Transporte e Mobilidade que previa a mudança na forma de cobrança, mas a 13ª Vara Federal Cível do DF rejeitou o pedido e manteve a medida. A decisão foi proferida no último domingo (30) pelo juiz Marcos José Brito Ribeiro.
O pedido da OAB destacava que o regulamento do GDF acaba por "obrigar" o usuário do transporte público, mesmo contra vontade, a realizar um cadastro junto à Semob ou ter conta em instituição bancária que possibilite o uso do cartão de crédito e débito. A OAB considerou a medida como "ilegal" por restringir o direito de ir e vir dos cidadãos que não portem um cartão do BRB mobilidade, de crédito ou débito.
Papel dos cobradores
O futuro dos cerca de 5.300 trabalhadores que atuam como cobradores de ônibus no DF é algo que também preocupa o sindicato e parlamentares. "Nós vamos lutar pra manter os cobradores nos postos de trabalho independente, com dinheiro ou sem dinheiro, até porque eles [cobradores] são muito úteis, inclusive para ajudar a solucionar problemas como esses de pessoas sem cartão ou com cartão e sem saldo, que vão continuar acontecendo", defendeu o presidente do Sittrater, destacando que as diversas funções dos cobradores como o auxílio aos idosos e pessoas com deficiência, além do controle de quem pagou as passagens.
"Os cobradores serão mantidos em seus postos de trabalho para monitorar o sistema e auxiliar os passageiros que tiverem dificuldade no pagamento eletrônico das passagens, além de continuar recebendo os pagamentos nas linhas onde o serviço não estiver 100% implantado", destacou, em nota, a Semob, acrescentado que, de forma gradual, os cobradores serão remanejados para outras funções "para a comercialização dos cartões pelas operadoras do transporte público coletivo".
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Fonte: BdF Distrito Federal
Edição: Márcia Silva